A COERÊNCIA ENTRE A VIDA INTERIOR E A PRÁTICA EXTERNA
Lição 07 – 14 de Agosto de 2022
TEXTO ÁUREO
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Cl 3.23).
VERDADE APLICADA
É preciso ter sempre em mente que Deus está atento às nossas ações e motivações e que nada está encoberto diante dEle.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
ENSINAR que Deus sabe a intenção do nosso coração;
MOSTRAR a pretensiosa oração dos hipócritas;
APRESENTAR a forma correta do jejum ensinado por Jesus.
TEXTO DE REFERÊNCIA
Mt 6.1 - Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
Mt 6.2 - Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mt 6.3 - E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
INTRODUÇÃO
Na continuidade do discurso do Sermão da Montanha, Jesus, vai falar agora sobre algumas práticas religiosas dos judeus. Eles cumpriam rigorosamente essas três obrigações: dar esmolas (Mt 6.1-4), orar (Mt 6.5-15) e jejuar (Mt 6.16-18). Nossa tendência é exaltar as boas obras, sem contudo, analisar as intenções na realização delas. No sermão da montanha Jesus não condena essas práticas, mas exorta quanto a motivação e maneira, deixando claro que o seu exercício deve partir da sinceridade dos corações (interior) e não de meras representações teatrais (exterior). Jesus vai enaltecer à coerência entre a vida interior e as ações exteriores.
1. A JUSTIÇA OPERADA PELA FALSA MOTIVAÇÃO
A solidariedade deve ser praticada como se fosse para Deus e não para os homens. Embora seja uma prática que se destina ao próximo, ela deve ser endereçada a Deus. Qualquer pessoa que parte deste princípio espiritual terá galardão junto ao Pai celestial. A Bíblia diz, que os súditos do Reino de Deus tem uma conta no céu em que ajunta os seus tesouros de boas obras. Paulo diz que fomos criados em Cristo para boas obras (Ef 2.10). Toda vez que a fazemos com a motivação correta e de modo discreto para Deus ver, o nosso saldo aumenta (Lc 12.21). Mas, infelizmente, não muito diferente dos religiosos judeus, também, costumamos medir o padrão de espiritualidade das pessoas a partir do exterior. Deus, porém, não se prende às formalidades nem às aparências, mas se importa com o que acontece no íntimo de cada pessoa, valorizando suas intenções. É por esta razão que Jesus instrui a multidão a não praticar piedade com a motivação de serem “vistos pelos homens”, alertando que, quem assim procede, não será recompensado por Deus (Mt 5.48). Vale ainda acrescentar outra distorção da solidariedade muito em voga no nosso meio, conhecido como clientelismo politico, aquele em que o bem é apenas uma moeda de troca que determinados candidatos utilizam em busca de eleição, Esse tipo de solidariedade tem o mesmo valor da prática dos fariseus.
1.1. Agradando a Deus e não aos homens
Jesus não condena quem dá donativos aos seus semelhantes, mas, quem pensa alcançar a salvação por meio dessa prática, precisa mudar a concepção, pois o único caminho que conduz o homem a Deus é Cristo. Jesus até alertou seus ouvintes a não deixarem de fazer doações aos pobres, mas, destacou que os escribas e fariseus deviam pôr em prática tal ato, mas não esquecer o mais importante da lei: o juízo, a misericórdia e a fé (Mt 23.23). No texto, após condenar as atitudes arrogantes e egocêntricas dos escribas e fariseus, o Senhor trouxe a solidariedade para o seu verdadeiro lugar: um a to de adoração a Deus, que recompensa, publicamente, àqueles que de forma desprendida estendem a mão ao próximo (Mt 6.3-4). O mais importante não é ter as nossas obras reconhecidas e valorizadas pelos homens, mas sobretudo por Deus.
1.2. A verdadeira e a falsa piedade
A verdadeira solidariedade deve ser baseada exclusivamente no autêntico amor cristão. Da forma que foi ensinada por cristo, inferimos tratar-se de um vínculo de reciprocidade que deve existir entre os cristãos sinceros, sem expectativas de recompensa e muito menos reconhecimento dos homens. Para distinguir entre a verdadeira e a falsa piedade, se faz necessário observar alguns pontos que se destacam no sermão, dentre os quais: a) tais práticas religiosas não poderiam ser semelhante às práticas exteriores dos escribas e fariseus, vez que elas não garantem a justiça de Deus nem dá direito ao reino dos céus (Mt 5.20, 48); b) precisamos considerar nossas ações, sob o prisma das perguntas: “que fazeis de mais?”, ou “não fazem os publicanos e pecadores, também, o mesmo?”, visto que praticavam ações semelhantes àqueles que condenavam e ainda achavam que tinham direito ao reino dos céus (Mt 5.46-48); c) deve haver coerência entre nossa vida interior e nossas ações exteriores (Mt 5.21-48; Lc 11.37-42).
1.3. Ofertando em secreto
Em toda e qualquer prática cristã Jesus condena a formalidade da aparência e focaliza no mais importante, que é não ter os nossos atos vistos e reconhecidos pelos homens, mas por Deus. Isto não significa que Jesus proibiu a prática da solidariedade, mas orientou que, se fosse exercer tal ato, que o façamos em secreto. A certeza disto se baseia no que Jesus disse: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”. Isto significa dizer que quando você der esmolas com a mão direita, não procure receber tão depressa com a mão esquerda, dê a sua esmola de modo sigiloso, ou seja, sem chamar a atenção e teu Pai celestial, que é conhecedor de todas as coisas, Ele te recompensará publicamente.
2. A PRETENSIOSA ORAÇÃO DOS HIPÓCRITAS
A oração foi o segundo exercício devocional digno de atenção dentro dos ensinos de Cristo, cuja principal característica é ser um canal de comunicação com Deus. Orar é falar com o Pai e também ouvir-lhe. É uma via de mão dupla onde lhe dirigimos o nosso clamor, e Ele, ao mesmo tempo, dialoga conosco (Jr 33.3). Diante disto, era necessário que a oração dos judeus fosse orientada em vários detalhes para que ela fosse aceita por Deus. Jesus exortou os seus ouvintes a não serem como os hipócritas, que se compraziam em “orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas” para serem vistos pelos homens”. No texto em estudo, Jesus nos ensina as verdadeiras características do crente que realmente dirige sua oração a Deus: sem hipocrisia, em secreto e sem vans repetições.
2.1. A maneira incorreta de orar
O Senhor Jesus condenou os fariseus por tornarem a oração um instrumento de orgulho religioso, com ênfase no exterior para transparecer piedade, enquanto na verdade, permanecia em volto em hipocrisia. Esses religiosos tidos como “homens de oração”, não passavam de atores profissionalmente piedosos, que propositadamente, escolhiam os horários de maior movimento, para que, chegada a hora certa, estivessem em lugar bem visível. Chegada a hora da oração, oravam onde se encontravam, sem nenhum acanhamento (At 3.1). Segundo nos informa a tradição judaica, chegavam a orar dezoito vezes ao dia, em horários predeterminados, nas ruas, sinagogas ou praças, repetindo fórmulas que nada acrescentam à comunhão com Deus. Na verdade não buscavam na oração uma comunhão com Deus, mas queriam apenas aparecer.
2.2. Orando ao pai em secreto
Jesus não censura a oração em público e nem estabeleceu regras acerca da oração, mas enfatiza a necessidade do espírito humilde nas orações. A oração que não estabelece contato sincero com Deus, é inútil e um desperdício de tempo. É lastimável o que acontecia em relação à oração nos dias de Jesus e, infelizmente, não é diferente nos dias atuais. Por isto, ensinou aos discípulos a fazerem diferente dos hipócritas. Ao orar, deveriam entrar no seu aposento, fechar a porta e orar ao Pai, que vê o que está oculto. Entrar no aposento, como ensinou Jesus, tem sentido primário de nos estimular à devoção diária, mas também demonstra que a oração é algo que cada crente precisa levar a sério na privacidade de sua vida pessoal. Po outro lado, não é o tom de voz, a linguagem rebuscada, nem mesmo os artifícios guturais que determinam a espiritualidade da oração. Ainda que seja apenas um sussurro, mas se estiver brotando de um coração sincero o seu valor transcende a qualquer pretensão formalista (1 Sm 1.12-18; Lc 18.9-14).
2.3. Orando sem vans repetições
A oração deve ser uma expressão clara da alma para com Deus. Deus sabe o que necessitamos, mesmo antes que Lho peçamos. É o que Davi entendeu, séculos antes, ao dizer: “Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, o Senhor tudo conheces” (Sl 139.4). Parece uma contradição: Se Deus sabe tudo a nosso respeito, por que e para que orar? Acontece que lá no Éden, o pecado cortou a ligação direta que o homem tinha com Deus. Desse modo, é necessário orar, para que tenhamos comunicação e comunhão com Deus, com a ajuda indispensável da intercessão de Jesus e do Espírito Santo (Rm 8.26,34). Naqueles tempos os religiosos, além de praticarem a oração para se aparecerem, presumiam que pelo repetirem suas preces e/ou tagarelarem com palavreados ritualísticos todo o tempo, onde não havia lugar para a espontaneidade do coração, convenceriam Deus ouvir suas orações. Em razão disto, o modelo da oração do Pai nosso ensinado por Cristo, no Sermão do Monte, jamais deve ser interpretado como um ritual para ser meramente repetido em nossa prática devocional e, sim, para identificar os componentes da verdadeira oração a Deus (Mt 6.9-13; 26.44; Lc 6.12).
3. A PRÁTICA DO JEJUM
Para fechar essa tríplice verdade sobre o padrão de nossa vida pessoal com Deus, o Senhor Jesus acrescentou também o jejum, corrigindo as distorções dos fariseus, que davam conotação penitencial a essa prática. Além de não ter sentido penitencial o jejum também não visa a autoglorificação para fazer parecer aos homens que somos mais espirituais e/ou mais privilegiados em nossa relação com Deus. Embora, não haja regras fixas na Bíblia sobre quando, como ou qual tipo de jejum praticar, a Bíblia traz consigo alguns princípios que devem ser entendidos e seguidos.
3.1. O jejum que agrada a Deus
A prática do jejum foi muito exercido nos tempos do Antigo Testamento (Ex 34.28; Lv 16.29, 32; 23.27-32; Nm 29.7; 1 Sm 31.13; Sl 35.13; Is 58.3-10) e do Novo Testamento (Mt 4.1-2; 6.16-18; 9.14-17; Mc 2.18-22; Lc 5.33-39; At 13.2-3). Mas, hoje em dia, tem se convertido numa prática negligenciada por muitos de nós. O jejum que agrada a Deus, nos brinda com a possibilidade de criar um espaço íntimo e profundo, para nos focar em Jesus e buscar Sua presença. Ele serve de instrumento para aprofundar e fortalecer a oração, solidificar a nossa determinação diante da letargia e o desânimo e fortalecer a nossa alma com nova coragem e singularidade de mente. Ele não só alimenta a nossa fé, como nos permite ouvir com maior clareza a voz do Espírito Santo e prepara o nosso coração para prevalecer mais poderosamente, crer com maior confiança e ficar firme na perseverança.
3.2. A privacidade no ato de jejuar
O jejum é um ato de entrega pessoal, uma questão entre a pessoa e Deus, e não para enriquecer o currículo de feitos admiráveis para serem aplaudidos pelos homens. Portanto, o jejum deve ser um exercício espiritual direcionado a Deus, mas secreto em relação ao homem (Mt 6.17-18). Jejuando, a pessoa fica mais forte espiritualmente e mais resistente ao inimigo, porém não se deve demonstrar para as pessoas que está em jejum, este ato é uma particularidade entre o homem e Deus. Jesus nos diz em sua Palavra: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa” (Mt 6.16). O jejum é uma atitude particular entre o homem de Deus.
3.3. A maneira correta de jejuar
O jejum deve ser um exercício que devemos praticar com cuidado e humildade, para que se torne uma prática em vão. A Bíblia nos ensina que tudo o quanto fizermos devemos fazer como que para o Senhor. Todo e qualquer exercício devocional que se restringe apenas à aparência, não provindo do coração, não tem valor espiritual algum diante de Deus. As práticas dos exercícios devocionais têm uma recompensa divina, desde que não seja para sermos vistos pelos homens. Deus não dá uma segunda retribuição (Mt 6.16,18).
CONCLUSÃO
Vimos na lição de hoje que JESUS não condena a prática dos exercícios devocionais, mas ensina sobre suas consequências quando executados sem os motivos corretos e por isto, adverte que tais atos não devem ser praticados de forma indigna. Deus e também os homens nos julgam e nos recompensam. No caso dos homens, a glorificação é terrena, temporária e exalta a pessoa que pratica a boa ação, a partir daquilo que vê. O homem enxerga apenas o exterior; já a recompensa de Deus é celeste, eterna e exalta aquele que pratica a boa ação, a partir da intenção do ato praticado. Deus enxerga o íntimo e o profundo de nosso coração e não apenas o exterior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BETEL DOMINICAL: Jovens e Adultos. Sermão do Monte. 3º Trimestre de 2022. Ano 32 n° 124. Rio de Janeiro: Editora Betel.
BETEL DOMINICAL: Jovens e Adultos. Mateus – uma visão panorâmica do Evangelho do Rei. 3º Trimestre de 2016. Ano 26 n° 100. Rio de Janeiro: Editora Betel - Lição 07 – A coerência entre a vida interior e a prática externa.
LIÇÕES BÍBLICAS: Jovens e Adultos. Os ensinos de Jesus para o homem atual. Editora CPAD – 2º Trimestre de 2000.
LIÇÕES BÍBLICAS: Jovens e Adultos. Sermão do Monte – A transparência da vida Cristã. Editora CPAD – 2º Trimestre de 2001.
SERMÃO DA MONTANHA: https://estudobiblico.org/o-sermao-da-montanha-e-algumas-praticas-religiosas-dos-judeus-esmola-oracao-e-jejum/ acesso em 30/07/2022.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS
Pr. Osmar Emídio de Sousa - Servidor Público Federal; consagrado a pastor pela Assembleia de Deus, Ministério de Madureira e Superintendente da EBD. É formado em Direito, em Missiologia e em Teologia Pastoral.
3 comentários:
Excelente material, enriquecedor das nossa leituras. Parabéns
Excelente comentário dessa lição, muito bem fundamentado na palavra de Deus, que Ele continue te abençoando e lhe dando discernimento no ensino da palavra dEle!
Parabéns pelo comentário pastor Osmar. Edificante.
Postar um comentário