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A História da Igreja até a Reforma Protestante - Comentários Adicionais (Ev. Ancelmo)


A HISTÓRIA DA IGREJA ATÉ A REFORMA PROTESTANTE
Lição 04 – 28 de Abril de 2019

TEXTO ÁUREO
O Senhor tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo.” Sl 103.19

VERDADE APLICADA
O estudo da história da Igreja contribui para evitar os erros do passado, conhecer melhor a missão e cumprir com fidelidade nossa tarefa.

OBJETIVOS DA LIÇÃO
EXPLANAR a história da Igreja até a Reforma Protestante;
DESCREVER os pontos que fizeram a Igreja se desviar do seu propósito inicial;
EXPLICAR a importância da Reforma para os nossos dias.

TEXTOS DE REFERÊNCIA
Dn 2.19 – Então foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; então Daniel louvou o Deus dos céus.

Dn 2.20 – Falou a Daniel, e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo sempre, porque dele é a sabedoria e a força.

Dn 2.21 – Ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e a ciência aos entendidos.

Dn 2.22 – Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.

INTRODUÇÃO
Nesta lição comentaremos sobre a história da Igreja, embora não sendo na sua totalidade, mas será fundamental conhecer um pouco da sua história, tendo em vista que é um assunto de enorme relevância para o cristão que deseja conhecer sua herança espiritual para imitar os bons exemplos do passado e evitar os erros que a Igreja tem cometido com frequência.

1. A história da Igreja até Constantino
O livro de Atos descreve a história da Igreja e sua crescente expansão por Jerusalém, Antioquia. Éfeso e Roma, as cidades mais influentes do mundo ocidental. No livro de Atos também são relatados os poderosos milagres e testemunhos dos heróis e mártires da Igreja Primitiva: Pedro, Estêvão, Tiago e Paulo. Todo o ministério cristão foi iniciado e mantido pelo Espírito Santo que trabalhou na vida de pessoas comuns (comerciantes, viajantes, escravos, carcereiros, lideres da Igreja, homens, mulheres, gentios, judeus, ricos e pobres). Muitos “heróis não glorificados” da fé continuaram a pregar o evangelho, pelo poder do Espírito Santo, por gerações sucessivas, transformando o mundo com uma mensagem invariável: Jesus Cristo é o Salvador e o Senhor de todos os que o invocam. Hoje. Nós podemos ser os heróis não glorificados na contínua história da divulgação do evangelho. Nós, cristãos, devemos levar a mesma mensagem ao mundo de nossos dias, de forma que muitos mais possam ouvir e crer!
1.1. O período da perseguição
Antes mesmo do início da Igreja primitiva, o povo de Deus sempre foram alvos de diversas perseguições. Muitos profetas foram perseguidos e mortos. Urias (Jr 26.20-23). Jeremias (Jr 38.1-6). Isaías (a tradição diz que ele foi morto pelo rei Manassés: ver 2 Rs 21.16). Amós (Am 7.10-13). Zacarias (o filho de Joiada, o sacerdote; ver 2 Cr 24.20-22), Elias (1 Rs 19.1. 2). Em alusão a esse fato, Jesus proferiu uma parábola sobre como os judeus continuamente rejeitaram as mensagens de Deus e perseguiram seus mensageiros (Lc 20.9-19). Na Igreja primitiva os primeiros três séculos foram marcados pela perseguição e martírio. Conforme relata o autor da revista, pastor Sérgio Costa, os cristãos sofreram variadas formas de perseguições: 1. Política (aqui precisava decidir a lealdade a Cristo ou ao imperador); 2. Religiosa (os romanos exigiam dos cristãos que adorassem os deuses pagãos); 3. Social (os cristãos mais pobres da sociedade eram desprezados pelos líderes aristocráticos da sociedade, destarte, esse tipo de desprezo em alguns “locais” ainda existe); 4. Econômica (muitos fabricantes de ídolos (At 19.23-35) se opôs ao cristianismo devido à adoração exclusiva a Cristo e a ausência de imagem. Estavam tendo prejuízo porque não estavam mais fabricando as imagens). Os judeus foram os primeiros a perseguirem os cristãos (At 4.1-3,18). Como por exemplo, Estêvão (At 54-8.2), Tiago e Pedro (At 12) e o apóstolo Paulo (At 18.12-17, 21.26-31; 24.1-9). Antes de 250 d.C., a perseguição era local e esporádica. Após essa data a perseguição tornou-se mais ampla e violenta, era uma estratégia consciente do governo imperial de Roma. Foi durante esse tempo que a frase de Tertuliano de que “o sangue dos cristãos é a semente” (da Igreja) se transformou numa cruel verdade para muitos cristãos. Tertuliano 160-220 d.C. Foi uma das personalidades mais originais e notáveis da igreja primitiva, considerado como o “Pai do Cristianismo Latino”. Nasceu em Cartago, na África, e possuía grande erudição em advocacia, filosofia e história. Este apologista iniciou uma carreira literária de defesa e explicação do cristianismo. O intenso fervor espiritual que demonstrava tornava sempre admirável o que escrevia. Para ele, o cristianismo era uma grande loucura divina, porém mais sábia do que a mais excelente filosofia humana, e impossível de ser equacionada com qualquer sistema filosófico existente. Nesse tempo qualquer coisa era motivo de perseguição aos cristãos, até mesmo uma epidemia, um terremoto, fome ou enchente eram razões suficientes para haver perseguição. As acusações eram apresentadas ao governador, que mesmo sabendo da sua inocência, era obrigado a abrir processo, caso não quisesse ser visto como favoráveis aos cristãos. (DREHER, p.53).

1.2. O período apologético
Um dos grandes problemas enfrentados pela Igreja foram as heresias e muitas dessas heresias surgiram no seio da Igreja. Suas primeiras afirmações distorciam a pessoa ou a natureza da pessoa de Cristo. Isso aconteceu por causa das novas reflexões baseadas em pensamentos filosóficos. Os cristãos dos séculos II e III tiveram que lutar tanto para preservar a existência da Igreja diante do Estado Romano que queria acabar com ela como também batalhava pela pureza da doutrina. Os apologistas foram homens defensores do cristianismo, eles enfrentaram as heresias e o governo hostil, procurando mostrar a verdade do cristianismo. Basicamente eles tinham dois objetivos em seus escritos: 1. Refutar as falsas acusações e 2) desenvolver uma perspectiva construtiva para demonstrar que, ao contrário do cristianismo, o judaísmo, as religiões pagãs e o culto do Estado eram tolice e pecado. O gnosticismo - Era uma filosofia religiosa, que proporcionava ao homem a salvação por meio de um “conhecimento” (gnoses). Os gnósticos ensinavam que toda matéria era má. Por isso negavam que Cristo tivesse tido um corpo material, isto é, negavam a sua humanidade. Assim os gnósticos estavam negando não só a humanidade de Cristo, mas também sua morte e ressurreição. A expansão do gnosticismo e sua consequente ameaçam à pureza doutrinária da Igreja ocorreu em virtude desta encontrar-se, em seus primórdios, relativamente desorganizada e sua doutrina ainda indefinida. O movimento gnóstico chegou ao ápice de sua influência entre os anos 135 a 160 d.C. A tradição cristã atribuía a Simão o Mágico a fundação do gnosticismo cristão. Podemos citar como líderes, mais provadamente definidos, o Satornino, Másilides e Valentino. Em geral, as seitas gnósticas dividiam os homens em grupos: os “espirituais” e os “materiais”. Valentino posteriormente falava numa tríplice divisão: os “espirituais” os únicos capazes de atingir o “conhecimento”; os “psíquicos” capazes de fé e de certo grau de salvação, e os “materiais” totalmente sem esperança. No tempo dos apóstolos já existia o gnosticismo, só que não era conhecido com este nome. A Carta aos Colossenses é uma verdadeira apologia contra o gnosticismo.

1.3. Constantino
Constantino teve um papel importantíssimo no início do Cristianismo. Isso por que, a partir de 325 d.C., a fé cristã passou a ser aceita e até mesmo incentivada pelos romanos. Mas não era assim no início do Cristianismo. Na verdade, durante algum tempo, a fé cristã foi até tolerada pelos romanos. Mas, com o tempo, ela começou a se expandir muito rapidamente e passou a ser vista como uma perigosa ameaça. Por isso, os imperadores começaram a perseguir os cristãos. Nessa época era comum o lamentável espetáculo de cristãos serem atirados aos leões no coliseu de Roma para divertimento das multidões. A situação começou a mudar com Constantino. Durante a batalha em Adrinopla, ele teria contemplado uma cruz numa visão, pareceu-lhe ver uma cruz, com a inscrição: “Por este sinal vencerás”. E isso fez com que ele passasse a creditar sua vitória a Jesus Cristo. Com esta vitória obtida no dia 28 de outubro de 313 d.C., ele passou crer que o Deus dos cristãos lhe havia dado a vitória. No mesmo ano, Constantino e Licínio concederam liberdade religiosa a todos os povos do império, e, mormente aos cristãos, através do Edito de Milão, que afirmava: “Aos cristãos e a todos os outros, plena liberdade de seguir a religião que a cada um aprouver”. Depois de quase três séculos de perseguições pelos romanos, agora, pelo Edito de Milão os crentes podiam respirar, pela primeira vez na história, o ar da liberdade religiosa! Constantino chegou até a mediar uma grande disputa interna a respeito da doutrina entre facções orientais e ocidentais da igreja. Em 325 d.C., ele convidou os bispos representantes dos dois grupos para uma conferência na cidade de Nicéia, hoje Iznik, Turquia, onde as diferenças foram resolvidas. O Concílio de Nicéia, esboçado nessa reunião, definiu as crenças básicas cristãs, com as quais ambos os lados deveriam concordar. Então, Constantino estabeleceu o Cristianismo como a religião oficial de todo o Império Romano e também tomou medidas para evitar que a fé cristã fosse destruída por perseguição externa ou por conflitos internos. Constantino não só preservou o Cristianismo como também deu um passo da maior importância para torná-lo a religião dominante da Europa. Neste mesmo ano expeliu uma exortação geral a todos os súditos para que abraçassem o cristianismo, e estabeleceu Bizâncio como uma segunda capital do império, mudando-lhe o nome para Constantinopla, que seria uma “Nova Roma”. Constantino ajudou a Igreja acabando com a perseguição aos cristãos, todavia, a Igreja passou a ser diretamente a ser manipulada pelo imperador.
2. A IGREJA: DO ESTADO IMPERIAL À IDADE MÉDIA
Apesar de os triunfos do Cristianismo haverem proporcionado boas coisas ao povo nessa época, contudo a sua aliança com o Estado, inevitavelmente devia trazer, como de fato trouxe, maus resultados para a igreja. Se o término da perseguição foi uma bênção, a oficialização do Cristianismo como religião do Estado não foi tão boa assim para a Igreja.

2.1. Fusão entre igreja e Estado
No ano 305, quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a religião cristã era terminantemente proibida, e aqueles que a professassem eram castigados com torturas e morte. Logo após a abdicação de Diocleciano, numa batalha travada sobre a ponte Mílvio, Constantino venceu o exército de Majêncio e este morreu afogado caindo nas águas do rio. Após essa vitória Constantino fez aliança com Licínio e posteriormente com Maximino os outros dois pretendentes a coroa. Em 323 AD, Constantino alcançou o posto supremo de Imperador, e o Cristianismo foi então favorecido. Os templos das Igrejas foram restaurados e novamente abertos em toda parte. Em muitos lugares os templos pagãos foram dedicados ao culto cristão. Em todo o império os templos pagãos eram mantidos pelo Estado, mas, com, a conversão de Constantino, passaram a ser concedido às Igrejas e ao clero cristão. Nesse tempo o domingo foi proclamado como dia de descanso e adoração. Como se vê, do reconhecimento do Cristianismo como religião preferida surgiram alguns bons resultados, tanto para o povo como para a igreja:
- As perseguições acabaram;
- A crucificação foi abolida;
- Templos restaurados e muitos construídos;
- O infanticídio foi reprimido;
- As lutas de gladiadores foram proibidas.
Mas com todas essas vantagens adquiridas ao Cristianismo, no entanto, a sua aliança com o Estado, decisivamente trouxeram alguns prejuízos para a Igreja.
- As Igrejas eram mantidas pelo Estado e seus ministros privilegiados, não pagavam impostos, os julgamentos eram especiais.
- Iniciaram-se as perseguições aos pagãos, ocorrendo assim muitas conversões falsas.
- Todos queriam ser membros da Igreja e quase todos eram aceitos. Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos desejavam postos na Igreja, para, assim obterem influência social e política.
- Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, é certo, porém eram menos espirituais e menos sinceros do que no passado.
- Aos poucos as festas pagãs tiveram seus lugares na Igreja, porém com outros nomes. A adoração a Vênus e Diana foi substituída pela adoração a virgem Maria. As imagens dos mártires começaram a aparecer nos templos, como objeto de reverência.
No ano 363 AD todos os governadores professaram o Cristianismo e antes de findar o quarto século o Cristianismo, foi virtualmente estabelecido como religião do Império.

2.2. A Idade Média
Com a queda do Império Romano Ocidental, iniciou-se o período de mil anos, conhecido como Idade Média. No início, a Europa era um caos, um continente de tribos sem governo e sem leis de nenhum poder central. Mas, gradativamente, foram-se organizando em reinos. Naquela época, o bispo de Roma esforçava-se não só para dominar a igreja, mas também para dominar o mundo. A Idade Média foi o período de crescimento do poder papal começou com o pontificado de Gregório I, o Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando. Hildebrando reformou o clero que se havia corrompido, elevou as normas de moralidade de todo o clero, exigiu celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da influência do estado, pondo fim à nomeação de papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs a supremacia da igreja sobre o Estado.

2.3. Pré-reformadores
Com o poder adquirido pela Igreja medial, o papa tornou-se o principal imperador. A Igreja desviou-se do seu propósito e começou a manipular a fé do povo em trocas de vantagens indevidas, fazendo o que não agrada a Deus. O quadro social, político, econômico e também eclesiástico da Igreja não era os melhores. Foi nesse contexto que surgiram os Pré-reformadores, foram pensadores cristãos que lutavam em busca de mudanças na igreja. Eles defendiam a supremacia da Palavra, bem como uma Igreja conforme da Igreja Primitiva. Esses homens de algum modo prepararam o caminho trilhado pela Reforma Protestante. Conforme descritos pelo autor da revista, homens como João Wycliffe, João Huss, assim como outros, foram homens citados como hereges por terem colocados a Bíblia o seu padrão de autoridade.

João Wycliff (1328-1384) - João Wycliff foi professor de Oxford, Inglaterra, e é um dos grandes nomes da Pré-reforma. Ele ajudou a quebrar o poder da igreja romana sobre sua nação, revelou o caráter e as obras dos frades, deu ao povo da Inglaterra a Bíblia em sua própria língua, e preparou os "lolardos" (seus discípulos) para levarem avante a sua obra. Declarou ele que o papa era o anticristo, e afirmou que só a Bíblia revela o plano da salvação. Chamado certa vez perante o mais alto tribunal eclesiástico da Inglaterra, e acusado de heresia, Wycliff respondeu perguntando por que aqueles clérigos viviam vidas tão ímpias. “Como ousais vós, só por amor a lucro, fazer comércio com a graça de Deus?” – perguntou ele. Depois, Wycliff faz nova pergunta: “Com quem julgais vós estar contendendo? Com um ancião às portas da sepultura? Não! Com a verdade - a verdade que é mais forte do que vós, e há de vos vencer”. A resposta de Wycliff causou tão profunda impressão, escreve um historiador, que quando ele se retirou do tribunal ninguém ousou detê-lo. Deus dera a Wycliff sua obra, e protegeu seu servo até que viu finalizado o trabalho. Wycliff morreu em sua cama, apesar da ira e fúria dos seus inimigos católicos romanos. Quarenta anos depois de sua morte, por ordem do papa, seu túmulo foi aberto, o caixão e esqueleto queimados publicamente, e as cinzas atiradas ao rio Swift. Um pregador cristão Toma Fuller, escreveu depois: “O Swift ao Avon, o Avon ao Sabrina, o Sabrina aos mares estreitos, e estes ao grande oceano. Assim, as cinzas de Wycliff são símbolos de sua doutrina, que agora tem sido espalhada em todas as partes do mundo”.

João Huss (1369-1415) - Reitor da Universidade de Praga, Boêmia, Huss foi um seguidor da doutrina de Wycliff, cujos escritos haviam penetrado em seu país. Tornou-se pregador destemido: atacava os vícios do clero e as corrupções da igreja com veemência arrebatadora; condenava a venda de indulgência; rejeitava o purgatório, o culto dos santos e o uso de uma língua estrangeira na liturgia; exaltava as Escrituras acima dos dogmas e ordenanças da igreja. No concílio de Constança o veredito já estava feito. Huss seria queimado vivo. Os seus inimigos tiraram-he as vestes e lhe raparam a cabeça. Pôs-lhe um capuz em que se achavam pintadas figuras de demônios e a palavra “arqui-herege”. “Mui jubilosamente”, disse Huss, “usarei a coroa da vergonha por amor de ti, ó Senhor Jesus, que usaste por mim uma coroa de espinhos”.
- Agora - disseram os bispos - entregamos tua alma ao diabo.
- E eu - replicou Huss olhando para o céu - em tuas mãos entrego o meu espírito, ó Senhor Jesus, pois tu me remiste.
Ao ser amarrado a um grande poste, foi-lhe dada, por fim, a oportunidade de voltar à Igreja Católica Romana e salvar a vida. Nem por um momento considerou ele o ceder à falsa igreja.
- A que erros renunciarei? - perguntou com uma voz clara. - Não me reconheço culpado de nenhum. Chamo a Deus por testemunha de que tudo quanto escrevi e preguei foi com o desígnio de salvar almas do pecado e da perdição. Portanto, com prazer confirmo com o meu próprio sangue a verdade que escrevi e preguei.
Ouvindo esta última decisão, os inimigos atearam fogo à lenha. Por entre o fumo e as chamas, Huss cantou: “Tu, Filho de Davi, tem misericórdia de mim”. Inclinou a cabeça, mas seus lábios continuaram a mover-se como em oração. Por fim tudo silenciou. Quando o corpo de Huss estava completamente queimado, foram apanhadas as cinzas e lançadas ao rio Reno. Ao chegarem a Boêmia as notícias de sua morte, o povo levantou-se e muitos se decidiram em favor da verdade. Houve muitos outros vultos da história, e grupos de crentes fiéis que são considerados “pré-reformadores”, como por exemplo: Pedro de Bruys, Arnaldo de Bréscia, Valdo de Lião, Savanarola, os albigenses, os anabatistas, etc.

3. A REFORMA PROTESTANTE
Um período que de algum modo contribuiu para a Reforma Protestante foi a Renascença, que foi o período de transição entre a Idade Média e os tempos modernos. Foi caracterizado pela renovação da cultura dos povos da Europa influenciados pelo pensamento e da arte greco-romanas. Nesse tempo grandes progressos foram alcançados nas invenções mecânicas, entre as quais a invenção da imprensa por Gutemberg. Alguns começaram a estudar a Bíblia em hebraico e grego, em vez de em latim. Finalmente, a Renascença valorizou a dignidade humana, habilitando as pessoas a lançar fora as velhas ideias e a ingressar em novos caminhos. Foi ela também a poderosa precursora da Reforma pela renovação das ideias religiosas. Sem a Renascença, dificilmente a Reforma Protestante teria ocorrido.

3.1. Lutero
Martinho Lutero nasceu em Eisleben, a 10 de novembro de 1483, e faleceu na mesma cidade em 18 de fevereiro de 1546. De acordo com um velho costume, no dia imediato ao seu nascimento o menino foi levado a pia batismal da igreja de São Pedro, e como era dia de São Martinho, recebeu a criança o nome do santo. Aos dezoito anos foi para a universidade de Erfurt, onde encontrou o que jamais vira em sua vida - uma Bíblia completa. “Oh, se Deus me desse esse livro para mim mesmo!”, exclamou ele. Lutero tornou-se monge, esperando assim salvar sua vida pelas orações e a penitência. “Era um monge piedoso, posso afirmá-lo”, diria ele mais tarde, “e observei a regra tão severamente que posso dizer: se alguma vez um monge chegou ao céu por sua vida monástica, eu, decerto, também teria conseguido chegar”. Depois de ordenado padre, Lutero foi solicitado pela Universidade de Witemberg para ali servir como professor. Ele possuía conhecimento das línguas antigas, e estudara a Bíblia em hebraico e grego. Cria na Igreja Católica, mas ao fazer uma peregrinação a Roma, viu muitas coisas que não estavam em harmonia como que ele aprendera na Bíblia... Que crimes! Que escândalos!, Diz ele. “Estas fornicações, estas bebedeiras, esta paixão desenfreada do jogo, todos estes vícios do clero!... Grandes escândalos, o confesso; é preciso denunciá-los; é preciso trazer-lhes remédio!“. Certo dia, em 1508, quando lia a Carta aos Romanos, foi iluminado de súbito e a paz lhe inundou a alma. “O justo viverá pela fé. Viu por fim que a salvação ganhava-se pela confiança em Deus mediante Cristo, e não pelos ritos, sacramentos e penitências da igreja. Isso mudou toda a sua vida e todo o curso da história.
A venda de indulgência por Tetzel deu ocasião a que Lutero rompesse com Roma. Indulgência era um abrandamento das penas do purgatório, isto é, a remissão dos pecados. “Ao tilintar das vossas moedas no fundo da caixa, as almas de vossos amigos saem do purgatório e entram no céu”, dizia Tetzel. Isto horrorizou a Lutero.

3.2. O Termo Protestante
A 31 de outubro de 1517, Lutero, afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas 95 teses, quase todas relacionadas com as indulgências. Foi a faísca que incendiou a Europa. Em 1520, quando Lutero já era o homem mais conhecido na Alemanha, recebeu um ultimato de Roma: a menos que ele se retratasse com o papa e a igreja, dentro de 60 dias seria considerado um herege e sofreria a pena devida, que seria a morte. Ao receber a bula, Lutero queimou-a publicamente em 10 de dezembro de 1520. Nova época da história começava naquele dia. Em 1521, Lutero foi citado por Carlos V, imperador do Santo Império Romano, para comparecer à Dieta de Worms. Na presença dos dignitários do império e da igreja ali reunidos, recebeu ordem de retratar-se, mas ele respondeu que não podia retratar-se de coisa alguma, a não ser que fosse convencido pelas Escrituras ou pela consciência. Disse ele: “Aqui estou; nada mais posso fazer; assim Deus me ajude. Amém”. Lutero foi condenado, mas tinha muitos amigos entre os príncipes alemães que impediram a execução do edito. Foi escondido por um amigo durante cerca de um ano, e depois voltou a Witemberg para continuar o seu trabalho, falando e escrevendo. Entre outras coisas, traduziu a Bíblia para o alemão, o que “espiritualizou a Alemanha e lhe deu um idioma”. Em 1529, a Dieta de Spira decidiu que os católicos podiam ensinar sua religião nos Estados luteranos, mas proibiu os luteranos de ensinar nos Estados católicos da Alemanha. Contra isto os príncipes alemães ergueram um formal protesto, ficando assim conhecidos por protestantes. O nome aplicado originalmente aos luteranos estendeu-se no uso popular aos que hoje protestam contra a usurpação papal, incluindo todas as denominações cristãs evangélicas.

3.3. As bases da Reforma Protestante
Resumidamente, as proposições teológicas que serviram como pilares da Reforma Protestante são os chamados Cinco Solas - frases latinas que surgiram para enfatizar a diferença entre a teologia reformada protestante e a teologia católica romana. Sola vem do latim e significa “somente” ou “apenas”, na língua portuguesa. E os cinco solas são: Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia e Soli Deo Gloria. Esses são os pilares da Reforma Protestante.
Sola Fide (somente a fé): este princípio afirma que o homem é justificado única e exclusivamente pela fé, sem o acréscimo das obras do mérito humano e, por meio dele, a tradição reformada é sustentada. Os reformadores declaravam que a Bíblia continha regras de fé e prática; e que não devia aceitar-se nenhuma doutrina a menos que fosse ensinada pela Bíblia. A Reforma trouxe de novo a Bíblia perdida ao povo, e colocou seus ensinos sobre o trono da autoridade. Foi por meio dos reformadores e principalmente nos países protestantes que a Bíblia agora circula em milhões de cópias anualmente.
Sola Scriptura (somente a Escritura): A Escritura é a única regra de fé e prática da igreja e o protestantismo aceita doutrinas de sua inspiração, autoridade, inerrância, clareza, necessidade e suficiência. Somente as Escrituras são o fundamento da teologia reformada.
Solus Christus(somente Cristo): como forma de reação dos protestantes contra a igreja católica secularizada e contra os sacerdotes que afirmavam ter uma posição especial e serem mediadores da graça e do perdão por meio dos sacramentos que ministravam. A reforma defendeu que tal mediação entre o homem e Deus é feita somente por Cristo, único capaz de salvar a humanidade e o tema central da reforma protestante.
Sola Gratia (Somente a Graça): Além de a graça ser um dos atributos de Deus é, também, o próprio Cristo (em sua encarnação) e é o Espírito Santo quem aplica a graça ao coração do pecador. A graça comum é comunicada a todos os homens, indistintamente. Mas, graça especial é soteriológica (salvadora) e por meio dela que o homem é salvo, quando há a comunicação da salvação de Deus ao pecador. "Sola gratia" diz respeito a tudo que o homem possui (graça comum) e, em especial, à salvação que é dada pela graça somente. Graça especial somente, por meio da qual o homem é escolhido, regenerado, justificado, santificado, glorificado, recebe dons espirituais, talentos para o serviço cristão e as bênçãos de Deus.
Soli Deo Gloria (somente a Deus a glória): este pilar da teologia reformada afirma que o homem foi criado para a glória de Deus e que tudo que ele fizer deve destinar a glorificar a Deus.
CONCLUSÃO
A Reforma Protestante ocorreu devido aos desvios da Igreja de preservar a doutrina decente conforme as Escrituras Sagradas. Foi um tempo marcado pela corrupção e monopólio da fé a partir de interesses puramente pessoais que reprimiam as pessoas pelo medo, culpa e ignorância. Mas é também reconhecer que Deus é o Senhor da história. É o Eterno quem levanta homens para mudar a realidade e a própria história. A Reforma faz parte do passado e não pode ser esquecido, “pois um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Edição Revista e Corrigida, tradução de João Ferreira de Almeida, CPAD, 2008.

Bíblia de Estudo MacArthur. Edição Revista e Atualizada, tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida Nova, 2003.

EARLE, Edwin Cairns. O Cristianismo através dos séculos. São Paulo: Editora Vida Nova, 2008.

COSTA, Sergio Nascimento da. Igreja, Doutrina, História e Missão. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2019.

JESSE, Lyman Hurlbut. A História da Igreja. São Paulo: Editora Vida, 2002.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero aos nossos dias. V. 1: A era da Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.
PEARLMAN, Meyer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2006.

Revista do professor: Jovens e Adultos. Igreja, Doutrina, História e Missão. Rio de Janeiro: Editora Betel – 2º Trimestre de 2019. Ano 29 n° 111. Lição 4 – A história da Igreja até a Reforma Protestante.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS Ev. Ancelmo Barros de Carvalho. Servo do Senhor Jesus.

9 comentários:

Mendes disse...

1.1 Leiam com calma e atenção os textos de 2 Tm 3.10-12 (Paulo lembra a Timóteo que foi um líder disposto a sofrer, que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus padecerão perseguição"), Atos 14.19-22 (depois de ser apedrejado, Paulo encoraja os apóstolos dizendo "por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus", 2 Co 11.16-28 (elenca os sofrimentos de Paulo como verdadeiro apóstolo) e Jo 15.18,19 (clássico 'o mundo odiou a mim odiaram os que me seguem').
Agora responda a pergunta: se a perseguição faz parte da essência do cristão, como ocorrerá tal perseguição na vida de um dito nascido de novo, de um cristão, HOJE, o qual possui o mesmo comportamento, pensamentos, estilo de vida, relacionamentos do mundo? Muitos professores ou alunos de ebd exporão na aula que em alguns países do Oriente Médio são hostis ao cristianismo por questões de governo e decretam morte aos cristãos e na África Subssariana atual e que pelo Brasil não ser regido por sistema político semelhante ainda não sofremos martírios ou perseguições. Porém , examinamos outra realidade. Nós cristãos que imitamos a cultura (valores, costumes, pensamentos etc) do mundo jamais teremos tal marca cristã de perseguição. Como o mundo, nós cristãos entramos nas estatísticas de jovens que coabitam antes do casamento, procuramos reconhecimento e status, riquezas 9amamos o dinheiro), sucessos a todo custo, somos eternamente invejosos; O teólogo Michel Horton disse:
"Os cristãos estão aderindo a estilos de vida hedonistas, materialistas, egoístas e sexualmente imorais com a mesma propensão que o mundo em geral".
Definitivamente não sofremos perseguição porque não temos um regime totalitário anti-cristão e sim por conta de não praticarmos a santificação e como denominação, não se tem mensagens de arrependimento e pecado seguido de vida cristã
(santificação) e sim vitórias e mais mensagens triunfalistas...voc. O mundo não te odeia e persegue? A resposta é que a cultura e a moda foi convidada e estamos cantando assim:
"Cultura seja bem vinda, tua presença é um prazer, o que o mundo ensina de errado, nós vamos logo fazer, ó glória! Dê um abraço no visitante"

Mendes disse...

2.3 e 3.3
Reflexão a todos:
Na revista do professor (comentário subitem 2.3) é dito da seguinte maneira: "[...] foram estigmatizados como hereges por colocarem na Bíblia o seu padrão de autoridade".
Na revista do aluno, "alguns homens se levantaram contra a Igreja medieval e contra o papado... pois pregavam a autoridade da Bíblia".
No subitem 3.3 diz dos alunos, "[...] e livrá-los de todos os falsos ensinos e práticas corruptas".
Como hoje se questiona um ensino errado dentro da denominação (para não dizer herege) sem que se ouça um "o irmão está contra a obra" ou "o pastor é ungido, não pondere"?
Reveja os objetivos da lição e reflita.

Mendes disse...

1.3 e 2.1
O Governo não deve impor a religião. Já pensou uma lei que manda te matar se tu não seguir!
"dê a César [governo civil; iptu, ipva etc]...e a Deus o que é de Deus [vida religiosa]..." (Mateus 22.17). Governo deve dar liberdade religiosa. "César" não deve controlar as pessoas.
A fé autêntica não é imposta (Wayne Grudem).
Deus instituiu os governos e a Igreja porque eles freiam o mal. Na formulação de leis, o cristianismo contribui com a família (desde o feto), liberdade e amor ao próximo.
Olhem quantos Projetos de Lei (PL) no congresso que pela Graça de Deus na vida de homens públicos são engavetados aos quais se fossemaprovados prejudicariam diretamente nossa Igreja e família cristã sem contar ensinos perniciosos nas escolas infantis!
Igreja tem que discutir assuntos políticos sim senhor. Reservem tempo líderes" Afinal, na época de eleição eles aparecem nos púlpitos então, nada de hipocrisia. Deus usa médicos? sim. Advogados para uma causa de um irmão? sim. Mas não usa político...estranho.

Mendes disse...

Epístolas em especial de Colossences, 1 e 2 Tessalonicenses, 2 e 3 João foram escritas em parte ou totalidade, por causa da necessidade de enfrentar heresias de vários falsos mestres, que afastavam as pessoas da fé genuína (não estou falando de afastar da denominação mas da verdade bíblica).
Por ganância, por amarem poder e prestígio, líderes professam crer mas não possuem fé e isso tem consequências diretas aos membros (que não lêem e meditam nas Escrituras).
Como os reformadores se expuseram, fico pensando, se uma geração morreu literalmente em martírio por conta do combate ao verdadeiro evangelho pregado frente as heresias, como será as próximas gerações se hoje estamos calados com dizer "Deus vai ter com ele [Pastor que espalha ensino contrário às Escrituras]". O grande encalço é a forma que alguns encaram essa luta. Geralmente, quem levanta uma dúvida ou questiona um ponto errôneo ou herético de uma revista de escola dominical produzida por um autor da própria revista ou no dia seguinte à mensagem de um preletor com teor claro de ensino falso, o irmão membro ou obreiro já são taxados de jargões conhecidos, a saber:
Insubmisso, contendeiro, espalhador de fermento, contra obra...aí pergunto novamente:
Como, por mais respeitosamente seja o questionamento, como definitivamente se expressar em um ambiente que o irmão é notoriamente impelido ou oprimido desta forma?
Ainda ouviremos que o irmão mudou de denominação por rebeldia e na despedida ouvirá do púlpito de que "Deus vai descer a mão no irmão"!!!! (esquecendo eles que Cristo mandou amar os inimigos - Mt 5.44, como desejaria um cristão a morte de outro simplismente porque mudou de denominação ou igreja)?
Porque os objetivos da lição expressam atitudes não praticadas nos dias de hoje?

Mendes disse...

Falsos ensinos são combatidos primeiramente por pessoas que no mínimo se debruçam em ler a Bíblia, se aprofundam nos textos, pesquisam, conversam com outros professores, consultam livros do mesmo tema. Confrontam posicionamentos e interpretação correta dos textos e...corajosos, sim corajosos (É POSSÍVEL SER CORAJOSOS SEM PERDER O RESPEITO). O tabu de que a letra mata, que se esfria, que apaga o Espírito, que não adianta ler a Bíblia e não praticar, e muito mais tem deixado os membros num amém cego de tudo que se ouve. O pior é a prática errada oriunda de ensinos falsos.
o que falta então para termos Luteros hoje?
Vcsabe porque as seitas surgiram? alguém resolveu permanecer calado sabendo da verdade... Judas3...DEFENDA A FÉ!

Mendes disse...

Esse é tipo do tema cujos objetivos da lição muitos ficarão tímidos em suas igrejas e outros encararão como anti ético comentar aplicação para os dias de hoje, prova então que há algo a ser pensado,doutra sorte, porque os objetivos da lição seriam elencados????

Mendes disse...

Igreja da 316, precisamos enriquecer os comentários neste espaço...manifestação de obreiros e pastores são importantes aos alunos antes do domingo.

Unknown disse...

Lição de numero 5 Avivamento e Missões na Historia da Igreja!!! não comentada ainda!!!

Anônimo disse...

Muito obrigada pelo conteúdo.