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Lição 09: Ordenança para uma vida de Santificação

TEXTO ÁUREO

“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição.” 1 Tessalonicenses 4.3

VERDADE APLICADA

A santificação é um dos aspectos da salvação que envolve a separação do pecado e dedicação a Deus.

OBJETIVOS DA LIÇÃO

Falar que sem santificação ninguém verá o Senhor.

Mostrar que devemos ser santos porque Deus é santo.

Ressaltar a importância de buscar a santificação.

INTRODUÇÃO

Buscar a santificação é dever e necessidade de todos os cristãos, pois sem a santificação não se pode ver a Deus, porque Deus é santo e não convive com a impureza [Hb 12.14].

1- SEM SANTIFICAÇÃO NINGUÉM VERÁ O SENHOR

Substantivo grego hagiasmos, “consagração”, “purificação”, “santificação”; do verbo hagiazo, “santificar” “separar das coisas profanas ou consagrar”, “purificar ou santificar”, “tornar limpo” Santificação: separação do pecado, estar sem mistura, sem contaminação para uso particular e exclusivo do Senhor, em constante atividade e em obediência a Palavra de Deus. Contrário ao profano, práticas impuras e indignas

 1.1 Santificação é essencial para ter comunhão com Deus.

Santidade é o padrão da pureza ética e moral do crente em Jesus Cristo. Santificação é um processo que se inicia no novo nascimento e se estende por toda a vida do cristão. Quem rejeita a santificação rejeita o próprio Deus, porque Deus é santo [Lv 11.44]. A Sua santidade abraça o pecador, mas abomina o pecado. Ninguém pode ter comunhão com Ele, se não aborrecer o pecado e buscar uma vida sem contaminação com os manjares que o mundo oferece. Quem procura santificação é comparado ao óleo e a água que não se misturam, mesmo estando juntos. Quem não procura santificação é comparado ao café com leite, que não separação. Estamos no mundo , mas não somos do mundo.

Comentário Adicional:

    O inevitável, difícil, mas necessário processo da santificação: não adianta espernear ou fazer birra!

    É recomendação biblica: Levítico 20:7 "Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR vosso Deus".

    A santificação plena ocorrerá na glorificação, mas ela se desenvolve gradualmente no transcorrer da vida: "Hebreus 10:14 Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados" ... "Hebreus 2:11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos".

    A condução do nosso processo de santificação é particularmente personalizado, o qual O Senhor realiza de maneira diferente na vida de cada cristão genuíno, e não adianta espernear ou fazer birra diante do Senhor, pois Ele, como oleiro, sabe trabalhar perfeitamente com o "barro", que somos nós: Jeremias 18:1 "A PALAVRA do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo: 2 Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. 3 E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas, 4 Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer. 5 Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: 6 Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o SENHOR. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel". A santificação, enfim, é uma obra de assenhoramento que o Espírito Santo vai realizando gradativamente em nós, cristãos, aplicando as verdades escriturísticas ao espírito humano e que reverbera na vida do cristão conformando-o pouco a pouco à imagem de Seu Filho. O Senhor sempre opera um desmame das antigas afeições pecaminosas do coração de todo verdadeiro cristão, por meios que nem sempre entendemos, até mesmo pela via do sofrimento.

Por fim, prestemos bastante atenção nesta solene passagem bíblica:

    Hebreus 12:5 E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando por ele fores repreendido; 6 Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. 7 Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? 8 Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. 9 Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? 10 Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. 11 E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela. 12 Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, 13 E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado. 14 Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; 28 Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade".

1.2 Elementos e meios para a santificação.

    A Palavra de Deus nos santifica [Jo 17.17]. O sangue de Jesus Cristo nos purifica [Ef 1.7; 1 Jo 1.7]. O Espírito Santo nos convence do pecado, d a justiça e do juízo [Jo 16.7-11]. A dedicação à oração nos alimenta [M t 6.5- 13; Cl 4.2]. A vigilância fecha as brechas [ 1Pe 5.8]. Amar a justiça e odiar a iniquidade [Hb 1.9]. Mortificar a carne com os seus prazeres [Rm 8.13]. Deus não aceita impureza, Ele nos chamou e propicia a nossa santificação [1T s 4.3]. O s filhos de Deus são santificados mediante a fé [At 26.18]. A consagração ao Senhor diz que cada um saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra [1Ts 4.4]. Paulo nos faz o chamado para sermos santos [1Co 1.2]. Pedro esclarece que tem os que ser santos, porque Ele é santo [1P e 1.16]. Jesus diz para buscarmos a perfeição porque o Pai é perfeito [Mt 5.48], As três Pessoas da Trindade participam da nossa santificação; o Pai (1Ts 5.23]; o Filho [Hb 10.10]; e o Espírito Santo [1Pe 1.2].

Comentário Adicional:

Os elementos decisivos na santificação são:

 O Espírito Santo – é quem efetua no crente a santificação, tanto a inicial, ou posicional como a que se desenvolve durante a vida do crente, a santificação progressiva (Veja em Tito 3.5: Ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e não porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma nova vida” – NTLH; e em Gálatas 5.16: “ Quero dizer a vocês o seguinte: deixem que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana” – NTLH). O Espírito Santo ensina, convence, guia a toda a verdade e fortalece o crente. Ele se dispõe a habitar em plenitude no crente para desenvolver no cristão a sua santificação. Sem essa presença abundante do Espírito Santo na vida, o crente fica a mercê de suas fraquezas morais e espirituais.

União com Cristo – A santificação acontece na união com Cristo. Santificação é o processo pelo qual o Espírito Santo torna cada vez mais real em nossa vida nossa união com Cristo em sua morte e ressurreição. A vida cristã é uma questão de nos tornarmos a nível de caráter intrínseco o que já somos em Cristo. Tornar-se o que é (Veja Efésios 5.8: “ Antigamente vocês mesmos viviam na escuridão; mas, agora que pertencem ao Senhor, vocês estão na luz. Por isso vivam como pessoas que pertencem à luz,” NTLH). Todos os crentes morreram em Cristo, foram ressuscitados com Ele, ascenderam com Cristo e participam da sua glória no céu, mas as implicações práticas dessas verdades são alcançadas em graus diversos pelos crentes mediante a santificação. O cultivo da união consciente com Cristo é fundamental para o progresso da santificação (Veja João 15.4,5: “Continuem unidos comigo, e eu continuarei unido com vocês. Pois, assim como o ramo só dá uvas quando está unido com a planta, assim também vocês só podem dar fruto se ficarem unidos comigo. —Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada.” – NTLH).

A Palavra de Deus – é o instrumento do Espírito Santo na santificação do crente (Veja João 17.17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” – RA; em 2 Timóteo 3.16,17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” – RA; e em João 15.3: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” RA). A Palavra de Deus é viva e penetra até as profundezas da alma, sonda o íntimo, traz à luz da consciência o pecado, convence o crente a abandonar o erro, faz crescer (Veja Hebreus 4.12: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” – RA; em 1 Pedro 1.23: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” RA; e em 1 Pedro 2.2: “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” – RA).

1.3 Aperfeiçoando a nossa santificação no temor de Deus.

    Paulo chama a atenção dos irmãos na sua segunda carta aos coríntios: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.” [2Co 7.1]. Por que precisamos buscar a santificação?

1) Porque Deus quer que os Seus filhos se pareçam com Ele; 2) Porque cia é ordenada; 3) Porque ela é progressiva, é um processo [Pv 4.18]; 4) Porque é interesse de Jesus apresentá-la a si mesmo Igreja gloriosa, sem mancha e sem defeito [Ef 5.26-27]; 5) Porque é a vontade de Deus [1Ts 4.3]; 6) Porque os limpos de coração verão a Deus [Mt 5.8]; 7) Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santificação [1Ts 4.7].

 Comentário Adicional:

    O Temor Define a quem a Pessoa Serve - A pessoa serve a quem teme. Quem teme a Deus não tem nada a esconder dEle, não quer ficar longe dEle; pelo contrário, busca sempre a sua presença e proximidade, quer estar sempre com Ele. Por isso o Senhor convida-o a estar continuamente ao seu lado. Além disso, está em constante autoexame para evitar fazer algo que desagrade a Ele, quer seja em pensamento, ato ou mesmo omissão. Por isso, Davi, após a sua experiência relatada no capítulo anterior deste livro, estava constante-mente pedindo a Deus: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia- me pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24).

    Quem teme a Deus vive da sua própria realidade e não está preocu-pado de forma doentia com aquilo que deseja de si mesmo com vista a agradar outras pessoas ou receber aprovação delas. Dentre os primeiros apóstolos, temos um exemplo que distingue bem como o temor que predomina na vida da pessoa acaba por definir os seus comportamentos. O apóstolo Paulo faz registro de um fato que, talvez, muitos hoje classi-ficariam como uma atitude antipática e desnecessária, um conflito a ser evitado. O próprio apóstolo, todavia, afirmou que não buscava agradar às pessoas com uma imagem projetada de acordo com os seus interesses. Em Gálatas 1.10, ele afirma “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”.

    Paulo registra em Gálatas 2.11-14 que, certo dia, quando estava ser-vindo a igreja em Antioquia, uma igreja inclusivista que acolhia tanto a judeus como a gentios convertidos ao cristianismo, todos comiam na mesa em harmonia, os irmãos judeus e gentios, inclusive o apóstolo Pedro. No entanto, quando chegaram alguns irmãos da parte de Tiago, irmão de Jesus e líder da igreja em Jerusalém, Pedro, por medo, caute-losamente recuou e deixou o máximo de distância possível entre si e os seus amigos não judeus e ainda influenciou Barnabé e outros judeus a fazerem o mesmo.

    Pedro temia os obreiros conservadores de Jerusalém, e isso o levou a um comportamento hipócrita. Logo ele, uma pessoa experiente do evangelho, justificada e santificada, mas que descuidou da sua santificação contínua e progressiva. Com a chegada dos obreiros de Jerusalém, passou a comportar-se com a imagem projetada, esperada dele pelos obreiros conservadores. Paulo considerou a atitude de Pedro um mau exemplo para os irmãos gentios e desagradável a Deus. Neste episódio, os apóstolos serviram a quem temiam: Paulo, a Deus, e Pedro, aos obreiros conservadores da igreja de Jerusalém.

O Temor do Senhor e a Intimidade com Deus

    O salmista afirma que “a segredo do Senhor é para os que o temem; e ele lhes fará saber o seu concerto” (Sl 25.14). Bevere (2014, p. 56) asse-vera que somente quem coloca o Senhor em proeminência na vida é que pode ter intimidade com Ele. Muitas pessoas estão enganadas quanto à verdade do Evangelho, influenciadas por mensagens que apresentam um Deus que faz barganha com os seus fiéis, um Deus rico e poderoso, que não se apresenta como Senhor e Juiz.

     Os que foram justificados e nasceram de novo conhecem ao Senhor como Pai, mas também como Juiz de toda carne e que julgará o seu povo (Gl 4.6,7; Hb 10.30; 12.23). A falta de conhecimento da seriedade de uma vida no temor do Senhor tem afastado muitas pessoas da intimidade com Ele. Paulo fala sobre comportamentos que não deveriam ocorrer entre os membros da igreja (2 Tm 3.1-5). As palavras do apóstolo aparentemente parecem ser dirigidas a pessoas que não conhecem a Cristo, mas, na re-alidade, estão endereçadas à igreja. Bevere (2015, p. 105) afirma que isso acontece por falta de equilíbrio de ensino entre a bondade e a severidade de Deus (Rm 11.22). O cristão deve obedecer a Deus por amor, e não por medo. Caso contrário, ele não ama a Deus o suficiente para obedecer. Como no exemplo de Davi, Deus perdoa o pecado, que a pessoa que cometeu o delito deverá responder pelas consequências geradas. Isso pode trazer vários incômodos que poderiam ser evitados se fosse dado prioridade ao temor do Senhor e à intimidade com Ele. Como assevera Subirá (2018, p. 321): “quem determina a colheita não é a bondade ou severidade de Deus, é a semente de nossas escolhas e atitudes”.

     O autor de Hebreus recomenda servir ao Senhor “agradavelmente com reverência e santo temor” (Hb 12.28, ARA). Quando você tem inti-midade com alguém, este dá conselhos e orienta-o quando vê que você está em perigo. Essa é a função do Espírito Santo para a manutenção da comunhão com Deus. O Senhor corrige-nos “para sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.9,10); portanto, não troque a sua intimidade com Deus por prazeres momentâneos e efêmeros: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós” (Tg 4.8).

 2-SEDE SANTOS, PORQUE EU SOU SANTO

    As qualidades de Deus devem ser as qualidades do Seu povo. A compreensão aqui é a separação dos modos ímpios do mundo, não coaduna com as suas idéias e se dedica a Deus, por amor Àquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.

 2.1 Deus quer um povo santo.

    Ser santo significa ser semelhante a Deus [1Pe 1.15], ser dedicado a Ele e viver para lhe agradar, porque o Seu caráter é santo [Rm 12.1]. Deus quer se relacionar com aqueles que procuram a santidade, mesmo nós sabendo que não a terem os por completo ou de forma absoluta enquanto aqui vivermos nesta terra, mas Deus conhece a intenção do nosso coração e sabe quando nos esforçamos para conseguir nos afastar das impurezas e imperfeições. Cristo se entregou pela Igreja (que somos nós) para santificar, porque Ele quer uma igreja gloriosa (nós), sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível [Ef 5.25-27].

Comentário Adicional:

    Encontramos nas Escrituras diversas ocasiões em que Deus mostrou sua ira contra pecadores. Considere alguns exemplos. “Pelo que, como a língua de fogo consome o restolho, e a erva seca se desfaz pela chama, assim será a sua raiz como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do SENHOR dos Exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel. Por isso, se acende a ira do SENHOR contra o seu povo, povo contra o qual estende a mão e o fere, de modo que tremem os montes e os seus cadáveres são como monturo no meio das ruas. Com tudo isto não se aplaca a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.” (Isaías 5:24-25). Na mesma época, Deus explicou o castigo do povo desobediente: “O SENHOR advertiu a Israel e a Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Voltai-vos dos vossos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, segundo toda a Lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei por intermédio dos meus servos, os profetas. e venderam-se para fazer o que era mau perante o SENHOR, para o provocarem à ira. Pelo que o SENHOR muito se indignou contra Israel e o afastou da sua presença; e nada mais ficou, senão a tribo de Judá” (2 Reis 17:13,17- 18). Estas consequências do pecado foram previstas por Samuel no início do reino de Israel, 300 anos antes de Isaías. Samuel disse: “Se, porém, não derdes ouvidos à voz do SENHOR, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do SENHOR será contra vós outros, como o foi contra vossos pais” (1 Samuel 12:15).

    Às vezes, pessoas descartam tais exemplos da ira de Deus, sugerindo que o Deus do Velho Testamento é diferente do que o do Novo Testamento. Enquanto a aliança realmente mudou, o Deus que nos governa é o mesmo. A santidade dele não diminuiu, e ele continua rejeitando pecado e pecadores. O Novo Testamento nos assegura que Deus ainda responde ao pecado com ira. Romanos 11:22 diz: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado.” O livro de Hebreus diz que Deus é até mais severo hoje do que na época da antiga aliança (Hebreus 2:2-3). Depois, ele reafirma este fato: “Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10:28-31). A ira de Deus é inseparável de sua santidade. Se Deus aceitasse o pecado, ele não seria santo.

Considere três aplicações que devemos fazer no nosso dia-a-dia:

    *Precisamos entender melhor a gravidade do pecado. Não é brincadeira. Não é pequena coisa. Não existe “pecadinho”. Nós precisamos aprender como detestar o pecado com o mesmo zelo que Deus demonstra (veja Números 25:6-8,11; Jeremias 48:10).

    *Devemos valorizar mais o amor profundo de Deus em nos salvar do pecado, e viver como povo grato (Tito 2:11-14; 3:4-7).

    *As pessoas já salvas naturalmente sentirão o desejo de compartilhar as boas novas com outras pessoas (Romanos 9:1-3; 10:1). Este importante trabalho não será feito por grandes projetos humanos nem à base de obrigação. A pessoa que medita todos os dias na santidade de Deus, que agradece pela graça de Deus na sua própria vida, que aprende odiar o pecado como o Santo Deus o odeia, vai evangelizar sem ninguém pedir. Se você não sente a vontade de ensinar outros, é porque você não valoriza a santidade de Deus, e não acredita na profundidade do pecado do homem.

 2.2 Santificação do espírito, alma e corpo.

    O processo de santificação atinge o homem na sua totalidade [1 Ts 5.23]. A santificação deve ser completa. Alguns tentam passar u m a santidade só do corpo que fica aparente no exterior, sim, o corpo é o templo do Espírito Santo, o tabernáculo onde Ele habita [1 Co 3.16-17; 6.19], mas também é a residência da alma e a morada do espírito. Não adianta conservar a visibilidade do corpo, quando a alma e o espírito não refletem o que está por fora. A alma é a sede das vontades, dos sentimentos, das emoções e dos pensamentos, portanto deverá ser pura [Fp 4.7-8; Hb 4.12]. O espírito, sede da consciência e da razão, nos capacita a termos comunhão com Deus, portanto deverá ser puro [ Jo 4.23]. Como Deus é Espírito [Jo 4.24], a verdadeira adoração é em espírito e o que adora em espírito a verdade tem que prevalecer. Quando seguimos os passos da santificação, o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” [Rm 8.16].

Comentário Adicional:

    O termo “santificado” não se refere a alguém que nunca peque, não é esse o significado bíblico do termo, antes, “santificado” implica em estar separado exclusivamente para a adoração e devoção a Deus. A santificação é um processo progressivo que ocorre na vida ao pecador regenerado, momento a momento. Na santificação ocorre uma cura substancial da separação que havia ocorrido entre Deus e o homem, entre o homem e os seus companheiros, entre o homem e si mesmo, e entre o homem e a natureza.

    Teologicamente entendemos que a santificação do crente se dá de forma progressiva e, esse “progresso” se estabelece sobre três aspectos: – posicional, experimental e final. Do aspecto posicional, entendemos que todos aqueles que são regenerados ou salvos são posicionalmente vistos como totalmente santificados em Cristo. Por esta razão, embora o apóstolo Paulo tenha censurado o cristianismo dos coríntios, classificando-o como carnal, ele ainda diz que eles são santificados em Jesus Cristo e chamados de santos – “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos…”.

    Do aspecto experimental, entendemos que no desenvolvimento de uma vida santificada, os crentes consideram sua posição em Cristo da maneira como ela é expressa na Bíblia Sagrada “Sabendo isto: que a nossa velha natureza foi crucificada com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos mais escravos do pecado. Pois quem morreu está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele”. O próprio Senhor Jesus Cristo expressa os ensinos básicos da santificação – “Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu”. O crente deve ser santo, mas seu crescimento na santificação repousa na dependência de sua posição, e em sua entrega, momento a momento, à vontade de Deus e à disposição de andar no caminho do Senhor.

    E, por fim, do aspecto final da santificação, entendemos que será quando o crente partir para estar com Cristo, ou no momento em que o Senhor vier arrebatar sua Igreja – o que ocorrer primeiro — a natureza caída será completamente removida e, cada crente receberá o corpo da ressurreição, será glorificado, e se tornará semelhante ao Salvador “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, ao único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém!”

 2.3 Jesus quer uma igreja santa e irrepreensível

    Sem defeito, sem mancha, sem mácula, mas gloriosa, honrada, magnífica, com beleza espiritual, santa e irrepreensível [Ef 5.26-27]. Fomos chamados para ser sal da terra e luz do mundo, ser diferente, ser exemplo [Mt 5.13-16]. Precisamos clarear o mundo com as nossas obras. Quando a luz chega, as trevas não resistem. Precisamos salgar e temperar aquilo que é insosso ou insípido, conservar o caráter e mostrar ao mundo que é possível não se contaminar. As nossas boas obras diante dos homens deverão glorificar o Pai que está nos céus. O Senhor Jesus virá buscar uma Igreja lavada e redimida no Seu sangue. A Igreja do Senhor Jesus precisa ser respeitada porque Ele próprio a criou, é o Seu Corpo, Ele é o que a defende. Ele disse que as portas do inferno não prevalecerão contra ela [Mt 16.18]. Cuidado para não manchar a Noiva do Cordeiro de Deus.

 Comentário Adicional:

    Não é raro vermos pessoas arrumando justificativas para a existência e permanência das coisas erradas ou pecados que existem na vida e na igreja. É verdade que não temos o direito de ficarmos julgando nossos irmãos, apontando seus pecados. Mas será que o Senhor deseja que Sua igreja seja composta por pessoas que se conformam em viver no pecado como se não houvesse livramento?

    Definitivamente não podemos nos acomodar no pecado. Devemos estar buscando na graça de Deus uma purificação “PESSOAL”, orando uns pelos outros e exortando com amor para que todos sintam o desejo de buscar a verdadeira santificação para que assim a igreja de Deus possa ser purificada. Agindo assim não estaremos envergonhando o nosso Deus nem desonrando o Seu nome.

“Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Efésios 5:27

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” 1 Tessalonicenses 5:23

    É o desejo do Senhor encontrar Sua igreja sem mácula e aqueles que serão salvos naquele dia serão encontrados vivendo de forma irrepreensível. Não devemos e não podemos nos acomodar no pecado. Não basta estar na igreja para ser salvo. É necessário uma aceitação real de Jesus. Devemos permitir que Ele nos purifique e nos liberte completamente do pecado.

3- A PARTICIPAÇÃO DO DISCÍPULO DE CRISTO

    Fomos chamados para lavar as nossas vestes e branqueá-las em Jesus. A nossa vida precisa estar limpa de todas as mazelas e contaminações deste mundo, precisamos nos portar decentemente perante uma sociedade corrupta e depravada [Ap 22.14].

 3.1 Despojeis e revistais.

    Neste tópico vamos enfatizar o uso destes dois termos que encontramos nas cartas de Paulo aos Efésios e Colossenses [Ef 4.22-32; Cl 3.8- 14]. São expressões que apontam para uma mudança radical na vida de todo aquele que passou pela experiência d o novo nascimento e agora faz parte da família de Deus. Notemos que, em Efésios, entre “despojar” e se “revestir”, há o versículo 23 que indica renovação da mente. John Stott (A Mensagem de Efésios, ABU, 2001, p. 133) comentou sobre Efésios 4.23 – “renoveis”: “Este verbo é um presente do infinitivo, em distinção com os tempos dos versículos 22 e 24, que são aoristos. Indica que, além da rejeição decisiva do velho e a aceitação do novo, implícita na conversão, uma renovação interior, diária e até mesmo contínua d o nosso ponto de vista está envolvida em ser um cristão.”

Comentário Adicional:

    Paulo instruindo aos irmãos, depois de apresentar como é o processo de amadurecimento, afirma que devemos nos despir da natureza humana e nos revestirmos da espiritual, segundo Cristo, como podemos ler no capítulo quatro da carta aos Efésios, do versículo vinte ao vinte e quatro:

“Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.” (Efésios 4.20–24 RA).

    O que significa nos revestir do novo homem (no ser espiritual), criado segundo Deus? Entendermos isso é que nos conduz à maturidade, pois assim como vivíamos na vaidade de nossos desejos, fazendo o que era da vontade e maneira de pensar do mundo, agora precisamos viver pela natureza espiritual que revela o nosso Deus, que se traduz em atos segundo o que ele fala do versículo vinte e cinco ao trinta e dois que inclui: não mentir, mas falar a verdade; não enchermos nosso coração com o desejo de vingança; não roubar, mas trabalhar; não enganar; não proferirmos palavras vãs, isto é, palavras que não edificam; não entristecermos o Espírito: não vivermos fora da vontade de Deus em amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmia ou malícia, pois isto não faz parte de nossas vidas. Devemos antes revelar bondade, compaixão, perdoar como Deus que em Cristo nos perdoou.

    Despojarmos da velha natureza e nos revestirmos do novo ser, criado em Cristo é termos a consciência e o entendimento que devemos nos relacionar da mesma maneira que Cristo, expressando o Pai e as Suas virtudes e não andando como o mundo.

3.2 Separação dos padrões do mundo.

    Não podemos estar na mesma forma, forma e receita do mundo ou nos amoldar aquilo que o mundo faz [Rm 12.2]. Não é porque se faz no mundo que devemos fazer também; o que é aceito pelo mundo não está de acordo com os valores éticos e morais bíblicos, no mundo de hoje tudo é relativo, o que vai contra os princípios bíblicos, que são permanentes, independentemente do tempo e da cultura. A Bíblia diz que o mundo (sistema de crenças e valores contrários à vontade de Deus) jaz no maligno (1 Jo 5.19] e quer validar em todos os setores da sociedade aquilo que é contrário aos princípios da Palavra de Deus. Tiago diz que quem quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus [Tg 4.4]. Paulo diz: “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida” [2Tm 2.4]. O escritor aos Hebreus diz: “Deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia” [Hb 12.1].

 Comentário Adicional:

    Paulo declara em Rm 12:1-2. Rogo-vos, pois, irmãos...: (grego - parakaleo) chamar para perto, confiar, desejar, orar; convocar alguém para fazer algo, seguir de perto, seguir fielmente. A suplica de Paulo envolve Deus e o próximo. Ele confia em Deus, a obra é Dele, a ação de transformação vem do Espirito Santo (Fp 1:6). Paulo nos chama a fazer algo que ele conhece, que vive diariamente, se entregar a Cristo, ser parecido com Ele (1 Co 11:1), viver para Cristo (Fp 1:21). A verdade não vem trazer divisão, mas a verdadeira transformação. Aquele que está em Cristo, que já morreu para si mesmo e Cristo vive nele, ama a Deus e ao próximo, roga pelo próximo, não o crítica e nem condena, mas sofre dores de parto como filhos na fé, era assim que Paulo se sentia (Gl 4:16 e 19).... que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus...: Como tipos de ofertas no antigo testamento (Lv 1:1-7; 6:8-13) o holocausto destacava-se entre as ofertas porque era inteiramente consumido pelo fogo do altar; era considerado o mais perfeito dos sacrifícios. Tendo o aspecto expiatório, representava a consagração do ofertante, pois a vítima era queimada inteira para o Senhor. O termo holocausto significa “o que sobe”, visto que o material se transformava em outro, a fumaça e as chamas, que subiam a Deus como cheiro suave. A expressão “cheiro suave ao Senhor” é a maneira humana de dizer que Deus se agrada da oferta. Possivelmente o apóstolo Paulo aludisse a esse tipo de oferta quando nos diz que apresentem os seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. A semelhança do holocausto, quando o crente se consagra inteira e alegremente ao Senhor, o fogo divino transforma seu ser a fim de que suba ao céu o aroma de seu sacrifício. Todas as manhãs e tardes diante do tabernáculo se oferecia um cordeiro em holocausto para que Israel se lembrasse de sua consagração a Deus (Ex 29:38-42). Da mesma forma convém que renovemos a nossa consagração diariamente.

... este é o culto racional de vocês.: O culto espiritual. Diante das situações adversas, contrárias ao nosso bem estar, devemos manter nossa fé em Jesus Cristo, pois o Senhor se revelou aos seus servos e nos fortalece e ilumina através da Palavra que é Cristo (Ap 1:9-18; 19:13).

... Não se amoldem ao padrão deste, mas transformem-se pela renovação da sua mente: Não entenderemos o nosso propósito; não teremos vida em abundância; não vivermos a liberdade em Cristo se continuarmos nos padrões mundanos e não formos transformados conforme a Palavra. A mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus (1 Co 1:18). A mensagem de transformação do homem para habilitá-lo ao Reino dos Céus antecedeu a Jesus Cristo com João Batista (Lc 3:10-14).

Como ser transformado verdadeiramente? João Batista responde aos corações que alimentavam essa expectativa (Lc 3:15-16) atenda ao chamado de Jesus, ande e aprenda com Ele (Mt 11:28-29).

O apóstolo Paulo nesta carta nos alguns ensinamentos de Cristo. Rm 12:3-21.

Quanto ao conceito elevado sobre nós mesmos devemos ter equilíbrio, podemos ter uma boa condição social ou diversas formações profissionais no decorrer da nossa existência aqui na terra, mas quando somos alcançados, salvos pela graça de Deus, devemos todos ter a mesma essência e exalar o mesmo perfume: Jesus Cristo!

Se verdadeiramente formos transformados, traremos a nossa vida o que diz a palavra em Rm 12 :2b - ...que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Não questione a Palavra, os ensinamentos do Senhor, apenas deixem serem transformados pela ação do Espirito Santo e a soberania de Deus - Rm 11:33-36.

3.3 Abster-se dos prazeres carnais e toda espécie do mal

    Na verdade, precisamos não afastar-se do mal, mas abster-se de toda aparência do mal [ 1Ts 5.22]. Devemos fugir de tudo aquilo que nos envergonhe, de tudo aquilo que fira a nossa boa conduta cristã, de tudo que impeça a nossa comunhão com Deus, do jugo desigual com os ímpios [2 Co 6.14]. Fomos chamados para ser sal da terra e luz do mundo [Mt 5.13-16]. Mesmo o que eu posso fazer, se não edifica, posso deixar de fazer [ 1 Co 6.12]. Não podemos ficar escravos das coisas só porque são lícitas. Muitos estão dominados por tantas coisas que tiram o tempo de adoração a Deus, de prestar culto a Ele, de fazer as coisas para o Seu Reino.

 Comentário Adicional:

“O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Essas palavras expressam uma luta interior que é uma realidade para cada filho de Deus. O Novo Testamento fala de uma guerra entre a carne e o espírito. A carne é parte da tríade de inimigos de Lutero: o mundo, a carne e o diabo. O que é, então, a “carne” da qual a Escritura fala? O que ocorre com a carne que pode afastar um crente de uma vida centralizada em Deus e que agrada a Deus?

A carne física ou caída?

    Em nosso dia a dia, quando usamos a palavra “carne”, geralmente estamos falando de nossa natureza física. A palavra “carne” se refere à substância que compõe nosso corpo. Falamos de pessoas que são parecidas “na carne”, de “carne e sangue” e de família, que é “minha própria carne”.

    Como nossa carne humana é algo físico, somos tentados a ver a luta bíblica entre a carne e o espírito como se referindo a uma luta entre o corpo e a alma. Pensando assim, criamos uma divisão entre o que é físico e o que é espiritual. Depois, consideramos mau tudo o que é físico e tem a ver com a carne, e consideramos bom tudo o que é espiritual e tem a ver com o espírito. Porém, essa é uma interpretação incorreta. Tanto o que é físico ou material quanto o que é espiritual foi criado por Deus como sendo muito bom (Gn 1.31). Com a Queda, tanto a matéria quanto o espírito passaram a sofrer os efeitos do pecado e a precisar de redenção. Como demonstração de sua graça e para sua própria glória, Deus providenciou redenção em Cristo para o ser humano inteiro (corpo e alma), de modo que, quando a obra de redenção estiver totalmente consumada, os salvos estarão para sempre com ele, no reino eterno, de corpo e alma. A própria criação será redimida. Portanto, não há nenhum fundamento bíblico para essa divisão entre o físico considerado como algo mau e o espiritual considerado como algo bom. Em termos bíblicos, às vezes a palavra “carne” se refere ao corpo e, em outras, um sentido diferente. Tentaremos mostrar os diversos modos em que a Bíblia usa essa palavra.

    No Novo Testamento encontramos duas palavras gregas que geralmente são traduzidas pela palavra “carne”. As duas palavras gregas são soma e sarx. A palavra soma é normalmente usada para fazer referência ao corpo físico. Normalmente, a palavra soma no Novo Testamento não tem um sentido de pecaminosidade. É simplesmente a palavra usada para fazer referência ao corpo físico.

    Com a palavra sarx, a coisa é diferente. Às vezes, a palavra se refere claramente ao corpo físico, mas, em outras ocasiões, à natureza humana caída.

    Quando o Evangelho de João diz que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14), isso não significa que o Verbo (Jesus) assumiu a natureza humana caída. Significa simplesmente que o Logos eterno, o Verbo, atribuiu a si mesmo uma natureza humana. O Verbo se encarnou. Da mesma maneira, Paulo fala de seus compatriotas “segundo a carne” (Rm 9.3). Aqui ele está se referindo não à humanidade caída, mas ao seu próprio povo, os judeus, como membros da mesma nação que ele. A parentela de Paulo segundo a carne são seus companheiros israelitas. O apóstolo fala exatamente como nós, quando nos referimos aos nossos parentes como nossa “própria carne”.

    Porém, na Bíblia, existem ocasiões especiais em que a palavra sarx é usada para fazer referência especialmente à nossa natureza caída. Nesse caso, sarx descreve nossa corrupção, que de maneira nenhuma está limitada ao nosso corpo. O ser humano inteiro está caído. O pecado contamina cada aspecto de nossa existência. Ele se alojou no coração humano: “O coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem” (Ec 9.3). Jesus ensina que “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19). Por natureza, temos uma “mente carnal” (Cl 2.18). A mente e a carne estão igualmente caídas. Ambas estão ajustadas para agradar a nós mesmos, não a Deus.

A mente carnal

    A expressão “mente carnal” não se refere simplesmente aos “maus pensamentos sobre vícios físicos”, como bebedeira, glutonaria e fornicação, por exemplo. A mente carnal envolve um propósito determinado contra Deus. Essa é a mente de uma humanidade caída, que não quer Deus em seus pensamentos. É a mente de uma pessoa que não é guiada pelo Espírito Santo.

Paulo fala sobre uma guerra contínua entre a carne e o Espírito.

    Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissenções, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. (Gl 5.16-21)

    O contraste aqui não é entre a carne e o espírito humano, mas entre a vida que serve à carne, isto é, à natureza humana caída, e a vida guiada pelo Espírito.

    Aqui vemos o nítido contraste entre a carne e Espírito. Não é um conflito entre o corpo e a alma, mas entre o velho homem, que é guiado pela sua natureza humana degenerada, e o novo homem, cheio do Espírito de Deus. Carne e Espírito estão em conflito irreconciliável. Nossa natureza caída resiste ao domínio do Espírito Santo e procura dominá- lo. Da mesma maneira, o Espírito é inimigo da carne. Ele anseia pela glória de Deus, que a carne abomina, e procura gerar seu fruto, que também é apresentado em uma lista em Gálatas 5.22-23: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”.

    O contraste é visto claramente nas duas listas (Gl 5.20-21; 22-23). A segunda lista, que apresenta o fruto do Espírito, é bem conhecida pelos cristãos. Por enquanto, porém, vamos manter nossa atenção na primeira lista, que apresenta as obras da carne.

    Quando examinamos a lista das obras da carne, um elemento não deve passar despercebido. A lista inclui pecados que envolvem nosso corpo e pecados que são de caráter não físico. Na lista encontramos prostituição e bebedice. Esses são pecados que cometemos com nossos apetites físicos e funções corporais. Na mesma lista encontramos referência a ciúme, inveja, idolatria e coisas semelhantes, que são pecados do coração.

    Concluímos, então, que, quando o Novo Testamento fala da carne em contraste com o Espírito, a referência não é ao nosso corpo físico, mas à nossa natureza pecaminosa, que inclui a pessoa toda. É o conflito entre dois estilos de vida: a vida da carne, que é controlada pela tendência ao pecado; e a vida do Espírito, que nos leva à retidão, a agradar a Deus.

Controlado pelo Espírito

    É essencial entendermos este ponto para não cairmos no erro mortal de pensar que a justiça consiste principalmente em expressões físicas exteriores. O reino de Deus envolve muito mais do que comida e bebida. Se dermos atenção somente às coisas exteriores, corremos o risco de cair na cilada do farisaísmo, que mede a justiça pelas ações exteriores. Um sorriso doce pode ocultar um espírito invejoso. O Espírito Santo busca limpar toda a nossa vida, tanto exterior como interiormente.

    Ao mesmo tempo, devemos nos guardar do erro oposto, isto é, restringir a justiça à esfera interior. Podemos nos enganar ao pensar que tudo o que importa é a atitude interior. Contanto que nosso espírito esteja correto, não importa como agimos exteriormente. Esta é uma forma traiçoeira de autoengano. Por meio dela, as pessoas buscam justificar todo tipo de pecado. Dizemos a nós mesmos que o “amor” justifica o adultério (repare o quanto esse pensamento popular é explorado em filmes e novelas). O adolescente justifica sua fornicação dizendo que foi cometida por amor.

    Também é importante compreender que, embora a palavra “carne” não se refira exclusivamente às inclinações ou aos pecados físicos, também os inclui. Nossos apetites e inclinações são forças poderosas em nossa vida, corrompidos e influenciados por nossa natureza caída.

    O Espírito busca nos ensinar o domínio próprio. Somos chamados por Deus para dominar nossos desejos e mantê-los sob vigilância. O desejo de comer não é, em si mesmo, pecado, mas uma função normal do nosso corpo. Contudo, quando esse desejo fica fora de controle, permitimos que a glutonaria entre em nossa vida.

    O impulso sexual também é um apetite natural que, em si mesmo, não é pecado. Deus proporciona o casamento como o contexto no qual a expressão do sexo é não somente permitida, mas ordenada. Temos direitos e responsabilidades conjugais. Fora do casamento, porém, devemos nos abster das atividades sexuais. Deus criou o sexo. Deus fez o corpo com inúmeras terminações nervosas que são altamente suscetíveis ao estímulo físico.

    Deus poderia ter nos criado sem a capacidade de sentir prazer no contato físico. Também poderia ter nos criado sem a capacidade de sentir os prazeres do paladar. Contudo, o Criador escolheu um caminho mais excelente. O sexo, com todos os seus deleites físicos, e o paladar, com todos os seus prazeres, são dádivas de Deus. Contudo, a dádiva veio para nós com restrições. O pecado não é o uso das dádivas, mas o mau uso delas, é o uso delas de um modo que Deus não permite.

    O domínio próprio é a regra da sexualidade. Somos responsáveis diante de Deus por nosso comportamento sexual. A Escritura declara: “Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos” (Ef 5.3). Essa proibição absoluta tem sido atacada por muitos argumentos seculares. Pode ser extremamente difícil para uma pessoa permanecer casta, particularmente em uma sociedade em que nossos sentidos são diariamente bombardeados por estímulos eróticos. Mas a lei de Deus é clara. Ela diz: “Não!” Ele nos chama para exercer o domínio próprio mesmo no meio de uma sociedade caída.

    A castidade sexual é difícil de ser obtida por causa da fraqueza da nossa carne. Mas ela é possível, e Deus ordena que a busquemos. Se falharmos, cometemos pecado. Embora devamos ser pacientes com aqueles que caem no pecado, não fazemos favor a ninguém se mudarmos os padrões de Deus, baixando-os até nossos fracos níveis de desempenho. É escandaloso para Deus que mudemos seus padrões e chamemos o mal de bem e o bem de mal.

CONCLUSÃO

O grande fundamento da doutrina da santificação é a verdade revelada acerca de Deus: Deus é santo [1 Pe 1.15]. Fomos chamados por Deus, que é Santo, para a santificação. É a vontade de Deus para o Seu povo e condição para um dia vermos o Senhor. Em um mundo tão corrupto, é possível viver em santificação pois Aquele que em nós começou a boa obra é poderoso para completá-la (Fp 1.6].

Comentário Adicional:

A santificação está no centro da vontade de Deus em todos os tempos, para todo aquele que crê (1Ts 4.3,7). É a própria transformação espiritual e moral que ocorre no salvo que o credencia como adorador e servo. E, conforme escreveu o apóstolo Paulo, é também objeto de promessa, e a fidelidade de Deus de completá-la (Fp 1.6). Sem se deixar vencer pelo afrouxamento ou cansaço espirituais, sem fazer concessões ao pecado e com disposição para aceitar e entender a disciplina proposta por Deus, o cristão poderá alcançar a paz e a santificação, que o capacita a experimentar a própria natureza de Deus (cf. Hb 12.14).

 

 

     

                                                 Pr Éder Santos - ADTAG SEDE     


Graduado em Teologia Pós-graduado em Hermenêutica    

Mestre e Doutor em Teologia, com especialização em Filosofia das Religiões Coordenador docente do Curso Superior em Teologia na Faculdade ISCON

Um comentário:

Carlos Cezar disse...

Excelente comentário da lição, como certeza será de grande auxilio para todos que se dispuserem a estudarem. Que Deus continue abençoando a sua vida e ministério!