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A monarquia em Israel - Comentários Adicionais (Pr. Éder Santos)


A MONARQUIA EM ISRAEL
(Lição 10 – 02 de Setembro de 2018)

TEXTO ÁUREO
Quando entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as gentes que estão em redor de mim.” (Dt 17.14).
VERDADE APLICADA
Mesmo após a instauração da monarquia, Deus continuou considerando Israel como Seu povo, visando o cumprimento do divino plano redentor.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
MOSTRAR a história da monarquia através da vida dos três primeiros reis;
APRESENTAR a divisão do reino e as lições decorrentes desse período;
ENFATIZAR que, apesar da desobediência da nação, Deus levantou homens para transmitir Suas mensagens ao povo.
TEXTOS DE REFERÊNCIA
1 Sm 8.1 – E sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
1 Sm 8.3 – Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo.
1 Sm 8.4 – Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá,
1 Sm 8.5 – E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.
1 Sm 8.6 – Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor.
INTRODUÇÃO:
Josué viveu 110 anos e faleceu, a terra prometida havia sido conquistada em parte, mas muito ainda havia que se fazer. O povo serviu a Deus todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que sobreviveram por muito tempo depois de Josué e que viram todas as grandes obras feitas pelo Senhor a Israel. Mas após isso, outra geração se levantou após eles, que não conhecia ao Senhor nem tampouco as obras que Deus fizera para libertar a Israel. Neste período Israel pecava e se envolvia com a adoração dos deuses pagãos e como consequências destes atos caiam nas mãos dos cananeus e sofriam e eram perseguidos e feitos servos dele. O Senhor levantava juízes aos quais atribuía o seu poder e a sua autoridade para julgar, batalhar e libertar a terra, contudo o povo não obedecia aos juízes e logo que Deus os livrava tornavam a se voltar aos deuses falsos e ainda sim quando o juiz falecia, se tornavam ainda piores do que antes, e assim se dá início ao período de Juízes. O período de Juízes se conclui em Samuel, quando ao final de sua vida o profeta nomeia seus filhos como juízes sobre Israel (1º Samuel 8:1) porém seus filhos não andaram segundo seu caminho, mas se inclinaram a avareza e aceitaram subornos e perverteram o direito. Assim os anciãos de Israel se reúnem para falar com Samuel e lhe pedem um rei.
1. A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA
A monarquia em Israel foi uma imposição política, ela não foi instituída com um caráter religioso natural como no Egito e na Mesopotâmia. A monarquia não era tradição israelita, ela se deu pela vontade do povo segundo os escritos bíblicos: Constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para nos julgar, como em todas as nações”. Entretanto apesar disso a monarquia em Israel não conseguiu se desvencilhar de trazer um elemento forte da monarquia sagrada. No caso de Israel, a monarquia não traz na sua essência este conceito de monarquia sagrada, mas traz uma carga do conceito sagrado após sua instituição. A instituição monárquica em Israel marca a transição de um período onde a sociedade estava organizada em tribos, sem um poder central, para uma organização produtiva que constitui a partir daí, numa mão de obra disciplinada para manter o reinado, regido por um poder central. O templo funcionava como símbolo nacional anteriormente com Moisés, Deus habitava em tendas na figura da Arca da Aliança, com a instituição monárquica, Salomão o construtor do Templo de Jerusalém deu a Yahweh sua morada. Com isso aproximou ainda mais a monarquia ao sagrado, o templo deu-lhe prestígio religioso. A política, portanto caminhava unida a religiosidade, ainda que não fossem os reis a efetivarem a ritualização da religião, eles eram escolhidos de Yahweh. Essa manifestação de aliança a casa de Davi, corroborou para tornar a monarquia de Israel, sagrada.
1.1. Saul, o primeiro rei de Israel
Saul foi o primeiro rei de Israel. Ele era filho de Quis e pertencia a tribo de Benjamim. Saul foi escolhido como rei quando os israelitas pediram pela monarquia. A história de Saul na Bíblia está registrada em livro de 1 Samuel (capítulos 9-31). O nome Saul significa “pedido”, do original Sha’ul. Alguns intérpretes sugerem que esse significado transmite o sentido de “pedido de Deus”. Outros personagens bíblicos também aparecem com esse mesmo nome. Saul aparece na narrativa bíblica como um jovem camponês da cidade de Gibeá. Ele é descrito como um homem de físico imponente, o mais formoso entre os israelitas (1 Samuel 9:2). A sequência da narrativa bíblica sobre a história de Saul mostra que ele era valente e muito corajoso. A Bíblia diz que Saul estava procurando algumas jumentas de seu pai que haviam se desgarrado quando se encontrou com Samuel. O profeta profetizou que Saul seria rei e o ungiu secretamente na terra de Zufe. Mais tarde, Samuel confirmou a escolha de Saul como rei apresentando-o publicamente ao povo em Mispá (1 Samuel 9:1-10:25). Tão logo o rei Saul já mostrou toda sua habilidade como líder e valoroso guerreiro. Quando o rei de Amom, Naás, sitiou Jabes-Gileade, Saul liderou um exército que destruiu os amonitas. Essa campanha militar impressionou o povo, e os israelitas celebraram o reinado de Saul em Gilgal (1 Samuel 11). De acordo com a narrativa bíblica, é possível mencionar três grandes erros cometidos pelo rei Saul. Em primeiro lugar, o rei Saul tentou usurpar o ofício sacerdotal. Antes da batalha contra os filisteus, Saul se mostrou impaciente e ofereceu sacrifício em Gilgal. Em segundo lugar, o rei Saul desobedeceu mais uma vez ao Senhor quando desprezou a ordem divina para destruir todos os amalequitas. Saul resolveu poupar o rei Agague bem como o melhor dos animais daquele povo conquistado. Em terceiro lugar, o rei Saul confirmou sua terrível condição iníqua quando procurou ajuda de uma feiticeira em En-Dor pedindo-lhe que trouxesse o espírito de Samuel dos mortos. Ele estava desesperado, e procurava alguma mensagem de esperança antes de sua batalha. O final do reinado do rei Saul foi trágico e melancólico. Cada vez mais ele foi se afastando do Senhor. Inclusive, ele foi perdendo suas características, tornando um homem depressivo, medroso e perturbado (1 Samuel 16:14; 19:9). Alguns intérpretes consideram possível que Saul até tenha se tornado um tipo de doente mental com episódios de esquizofrenia (1 Samuel 16-19). No monte Gilboa, e ele e três de seus filhos morreram, entre eles Jônatas, amigo de Davi. Temendo ser capturado pelo exército adversário, Saul lançou-se sobre sua própria. No outro dia, quando os filisteus começaram a recolher os despojos dos mortos no campo de batalha, encontram o corpo de Saul. Então eles cortaram sua cabeça, penduraram seu corpo no muro de Bete-Sã para vergonha pública, e levaram suas armas para o templo de Dagom em Astarote (1 Samuel 31). Depois, num ato de bravura, os homens de Jabes-Gileade resgataram os corpos de Saul e seus filhos. Depois de queimá-los, eles recolheram seus ossos e os sepultaram debaixo de um arvoredo em Jabes (1 Samuel 31:12,13). Apesar de tudo, o rei Davi sentiu profundamente a morte de Saul e de Jônatas (2 Samuel 1:17-27).
1.2. Davi, homem segundo o coração de Deus
Davi era o filho mais novo de Jessé, pertencia à tribo de Judá, e era neto da moabita Rute com o judeu Boaz. Ele nasceu em Belém, uma cidade que ficava aproximadamente 10 quilômetros ao sul de Jerusalém. Seu pai era um homem rico e respeitado na cidade. Davi foi criado como pastor de ovelhas. Essa profissão lhe ensinou muitas qualidades que ele pôs em prática ao longo de sua vida. Quando ele assumiu o trono de Israel, por exemplo, ele demonstrou ter coragem, dedicação e cuidado com o povo. Exercendo sua profissão de apascentar ovelhas, Davi enfrentou situações desafiadoras, como um urso e um leão (1 Samuel 17:34-37). O texto bíblico afirma que Davi era ruivo, do hebraico ‘admoni, “vermelho”, e possuía boa aparência (1 Samuel 16:12). A primeira vez que Davi é mencionado na Bíblia é no texto que descreve a ocasião da visita do profeta Samuel a Belém. Deus havia rejeitado Saul como rei de Israel, e revelou que seu sucessor estava na casa de Jessé. A Bíblia afirma que a partir daquele dia “o Espírito do Senhor se apoderou de Davi”(1 Samuel 16:13). Apesar de ter sido escolhido por Deus, ainda demoraria algum tempo até que Davi fosse reconhecido pelo povo como rei. A história de Davi como rei começou ainda antes de ele assumir o trono de Israel. Primeiramente ele tornou-se rei da tribo de Judá em Hebrom (2 Samuel 2-4). Esse local ficava aproximadamente 50 quilômetros de Jerusalém, e passou a ser sua capital. Como rei em Hebrom, Davi fez importantes alianças estratégicas. Aos poucos ele começou a conquistar as principais lideranças de Israel. Com isso, ele contornou a indisposição com muitos daqueles que apoiavam a casa de Saul. Davi ficou em Hebrom durante sete anos e meio. Davi se tornou rei sobre as doze tribos de Israel após a morte de Isbosete, filho de Saul. Isbosete havia sido proclamado rei por alguns apoiadores de seu pai. Um deles foi o antigo capitão de Saul, Abner, que também acabou sendo morto. Davi assumiu o trono de Israel ainda em Hebrom, porém pouco depois transferiu sua capital para Jerusalém (2 Samuel 3-5). Dessa forma, o rei Davi se tornou o primeiro a governar Israel como um império unificado. 
Mesmo com a divisão que ocorreu após a morte de seu filho, o rei Salomão, a dinastia da casa de Davi durou aproximadamente 425 anos. Já em Jerusalém, o rei Davi construiu seu palácio no Monte Sião, após conquistar a região dos jebuseus (2 Samuel 5:6-9). Além dessa, ele também construiu várias outras construções importantes. O rei Davi também centralizou a adoração a Deus em Jerusalém, colocando a Arca da Aliança na capital do império, e desejava construir um Templo ao Senhor, porém essa tarefa Deus não lhe permitiu executar, ficando a cargo posteriormente de seu filho, Salomão. O rei Davi também estabeleceu um poderoso exército profissional. Ele conquistou vitórias lendárias contra os edomitas, filisteus, cananeus, moabitas, amonitas, arameus e amalequitas. O rei Davi edificou estradas e fortaleceu rotas comerciais. Suas ações trouxeram grande prosperidade ao povo de Israel. Foi no período de grande prosperidade do reino de Israel que Davi experimentou seu tombo mais amargo, onde conspirou adulterou com Bate-Seba e conspirou a morte de Urias, esposo da mulher. O rei Davi foi duramente repreendido pelo profeta Natan, expondo um pecado que até então parecia que ficaria encoberto. Davi casou-se com Bate-Seba, se arrependeu profundamente, Deus o perdoou, mas não deixou de castigar o seu pecado (2 Samuel 12). Da união entre Bate-Seba e Davi nasceu seu herdeiro no trono de Israel, o rei Salomão. As consequências do pecado de Davi puderam ser vistas claramente na sequência da história de Israel. Certamente esse pecado descrito nas Escrituras é um alerta para cada um de nós, pois o caráter santo e justo de Deus não tolera esse tipo de coisa.
1.3. Salomão, mais sábio do que todos os homens
Salomão foi um rei de Israel (mencionado, sobretudo, no Livro dos Reis), filho de David com Bate-Seba, que teria se tornado o terceiro rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos (segundo algumas cronologias bíblicas, de 966 a 926 a.C.). O nome Salomão ou Shlomô (em hebraico: שלמה), deriva da palavra Shalom, que significa “paz” e tem o significado de “Pacífico”. Também chamado de Jedidias (em árabe سليمان Sulayman) pelo profeta Natã. (II Samuel 12:24, 25). Foi quem, segundo a Bíblia (em Reis e em Crônicas), ordenou a construção do Templo de Jerusalém, no seu 4.º ano, também conhecido como o Templo de Salomão. Depois disso, mandou construir um novo Palácio Real para o Sumo Sacerdote, o Palácio da Filha de Faraó, a Casa de Cedro do Líbano e o Pórtico das Colunas. A descrição do seu trono era exemplar único em seus dias. Mandou construir fortes muralhas na cidade de Jerusalém, bem como diversas cidades fortificadas e torres de vigia. Salomão se notabilizou pela sua grande sabedoria, prosperidade e riquezas abundantes, bem como um longo reinado próspero, mas com alguns inimigos. No livro de 1 Reis 11:14 podemos ver que o Senhor Deus levanta adversários contra o rei, são estes: Hadade o edomita que queria vingança pelo seu povo que havia sido derrotado em Edom, pelas mãos de Davi seu pai: Rezom, filho de Eliada que fugiu de Hadaezer, rei de Zobá seu senhor, com o objetivo de se vingar também da descendência de Davi, pelo motivo de Davi ter matado seus homens de guerra quando Rezom foi capitão de um esquadrão, como diz em 1 Reis 11 versículo 24. Jeroboão: também se levantou contra Salomão como conta os versículos 26 à 32 de 1 Rs 11. Após a sua morte ocorreu o cisma nas tribos de Israel, originando o Reino de Judá (formado pelas duas tribos), ao Sul, e o Reino de Israel Setentrional (formado pelas dez tribos), ao Norte. Existem diferentes datas para divisão do reino de Israel. Adonias, o filho primogênito de David, proclamou-se pretendente ao trono e sucessor de seu pai. Segundo os profetas, era da vontade divina que o sucessor fosse Salomão, filho de David e Bate-Seba. Visto que Salomão não era o herdeiro imediato ao trono, isso levou a intrigas e conspirações pelos partidários de Adonias. O direito de Salomão ao trono é assegurado mediante ação decidida de sua mãe, do Sumo Sacerdote Zadoque e do profeta Natã, com aprovação do idoso rei David. Logo que se tornou rei, Salomão eliminou todos os conspiradores e consolidou o seu reinado. Diferentemente de seu pai, Salomão não se tornou um líder guerreiro, pois isso não foi necessário. Soube manter a grande extensão territorial que herdara de seu pai. Mostrou, de acordo com a tradição judaica, ser um grande governante e um juiz justo e imparcial. Soube habilmente desenvolver o comércio externo e da indústria, as relações diplomáticas com países vizinhos, o que levou a um progresso considerável das cidades israelitas. Salomão casou-se com uma filha do faraó(Anelise) e recebeu como dote de casamento a cidade cananeia de Gezar. Renovou a aliança comercial com Hirão, Rei de Tiro. Ficou conhecido por ter ordenado a construção do Templo de Jerusalém(também conhecido como o Templo de Salomão), no monte Moriá. Isto ocorreu no seu 4º ano de reinado, exatamente no 480.º ano (479 anos completos mais alguns dias ou meses) após o Êxodo de Israel do Egito. (Os historiadores e exegetas bíblicos consideram esta data como artificial, embora haja alguns biblistas que a consideram uma sincronização autêntica.) Após isso mandou construir fortes muralhas na cidade de Jerusalém, bem como mandou reconstruir e fortificar diversas cidades (como por exemplo, Megido, Bete-Seã, Hazor) e construir cidades-armazém. Salomão organizou uma nova estrutura administrativa, dividindo as terras em 12 distritos administrativos governados por funcionários nomeados diretamente pela administração central. No exército, deu especial importância a cavalaria e aos carros de guerra. Dispunha no porto de Eziom-Geber, no de uma frota de navios comerciais de longo curso, chamados de "navios de Társis". Segundo I Reis 11:3, A estas nações uniu-se Salomão por seus amores. Teve setecentas esposas de classe principesca e trezentas concubinas. E suas mulheres perverteram o coração.
2. A CISÃO POLITICA E RELIGIOSA DE ISRAEL
No ano de 931 a.C, depois da morte do grande sábio Salomão (chacham – hb), o Reino de Israel se dividiu em Norte (que passou a se chamar Reino de Israel) e Reino Sul (que passou a se chamar Reino de Judá). O Reino do Norte chamado Reino de Israel assumiu Jeroboão filho de Nabat (conforme Biblia de Jerusalém em Rs 15,1) tendo como capital Samaria. Este Reino do Norte continha a maioria das tribos de Israel, 10 tribos, e também a maior população. Jeroboão para impedir a ida ao Templo em Jerusalém, mandou construir dois Templos, um em Dã, e outro em Betel. O Reino do Sul chamado Reino de Judá ficou como outro filho de Salomão Roboão tendo capital Jerusalém. Para o Sul permaneceram as tribos em torno a Jerusalém, Tribo de Benjamin e Judá. Habitam a região montanhosa, árida e seca, menos propensa a agricultura, mas protegida dos invasores do Norte e Sul.
PORQUE OS REINOS SE DIVIDIRAM. Salomão foi um rei de obras grandiosas, gerando também grandes despesas. Para pagamento destas despesas o povo teve de arcar com mais impostos. Após a morte do rei o povo se dirigiu ao sucessor Roboão pedindo a redução dos pesados encargos colocados sobre eles. Roboão seguindo o conselho de seus amigos jovens disse que em seu reino o jugo seria mais pesado que o de seu pai. Após essa decisão de Roboão o povo se negou a continuar sendo governado por ele. Levantaram como rei de Israel, Jeroboão, ficando sob as ordens de Roboão apenas a tribo de Judá e Benjamim (1 Re 12). Sendo assim o reino de Israel ficou dividido, formando Judá e Benjamim o reino do Sul e o restante das dez tribos o reino do Norte.
2.1. A dinastia do Reino do Norte.
O Reino do Norte (Israel) era menos estável politicamente que o Reino do Sul (Judá), sua duração mais curta como nação independente (209 anos) e a violência ligada à sucessão ao trono comprovam esse fato. O historiador de Reis considerou “maus” todos os dezenove governantes de Israel, porque perpetuaram o culto ao “bezerro de ouro” de Jeroboão. A média de duração do reinado de um monarca israelita era de apenas dez anos, e nove famílias diferentes reivindicaram o trono. Para chegar ao trono, o carisma era tão útil quanto a ascendência, mas não era garantia de preservação; sete reis foram assassinados, um cometeu suicídio, um foi ferido por Deus e outro foi deposto e levado para Assíria.
A QUEDA DO REINO DO NORTE. O Reino do Norte lutou em várias ocasiões contra o domínio assírio, fazendo alianças com outros reinos, como por exemplo, o Egito, e formando uma liga de cidades que enfrentavam essa potência. Em 723 a.C., os líderes do Norte tentaram de algum modo forçar o Reino de Judá a participar de acordos e alianças contra a Assíria. Desesperado, Acaz (732-716), governante de Judá naquela ocasião, pediu auxílio à Assíria contra essa intervenção vinda do Reino do Norte, o que desencadeou a tomada da região pelo exército assírio. Em 732 a cidade de Damasco e a Galileia foram sitiadas, restando ao reino de Israel submeter-se ao controle estrangeiro. Nessa região a migração forçada de colonos estrangeiros não foi comprovada, porém é certa a formação de uma nova identidade étnica através da mistura dos assírios com a população local. A perda, nessa ocasião de cerca de dois terços de seu território fez com que restasse ao povo do Reino do Norte aproximadamente apenas as montanhas de Efraim, com a capital Samaria. O rei Oseias (731-723 a.C.), de Israel, que assumiu o trono sob a concordância do rei assírio Tiglate-Pileser III, não se conformando com a perda territorial e de independência, pediu auxílio ao Egito, que lhe prometeu enviar forças militares, que nunca chegaram. De qualquer modo, os anos que se seguiram foram marcados pela esperança de libertação. Porem, em 722 o Reino do Norte foi definitivamente conquistado por Salmanaser V (726-722 a.C.), ocorrendo a consolidação assíria com Sargão II (722-705 a.C.). Samaria foi repovoada por colonos estrangeiros e a população deportada por todo o império assírio. A tribo de Simeão, por ter o seu território no meio da tribo de Judá, com o passar do tempo foi englobada pela tribo de Judá por esta ser mais numerosa do que ela. A tribo de Benjamin também foi absorvida por Judá, tendo deixado de existir como tribo separada e funcional, entretanto, esta tribo ainda existia em termos territoriais, por isso ela é citada em I Rs 12.21. Mas, em I Rs 11. 13,32,36 e I Rs 12.20, aparece apenas a tribo de Judá.
OBSERVAÇÃO. As dez tribos do Norte provavelmente devem estar contando com a tribo de Simeão, pois mesmo o seu território tendo sido englobado pela tribo de Judá, os seus descendentes parecem ter ido habitar ao norte com as outras tribos e não aceitaram a dinastia de Davi. No texto de II Cr 15.8,9, o cronista deixa subtendido que Simeão estava com o reino do Norte.
2.2. A dinastia do Reino do Sul
Reino de Judá limitava-se ao Norte com o Reino de Israel, a Oeste com a inquieta região costeira da Filistia, ao Sul com o Deserto do Neguebe, e a Leste com o Rio Jordão e o Mar Morto e o Reino de Moabe. Era uma região montanhosa, fértil, relativamente protegida de invasões estrangeiras (o território da Tribo de Judá manteve-se basicamente o mesmo durante os mais de 300 anos de sua existência). Sua capital era Jerusalém, onde encontrava-se o Templo do Deus de Israel mandado construir pelo rei Salomão para abrigar a Arca da Aliança. O Reino do Sul (Reino de Judá), cuja capital era Jerusalém, sobreviveu ainda por cerca de 200 anos, quando em 587 a capital foi destruída e os moradores levados para o exílio em Babilônia. Segundo a Bíblia, quando esses deportados voltaram do exílio e tentavam reconstruir o templo, os Samaritanos queriam frear a construção. Também teriam se aliado contra os judeus na época de Antíoco IV. O Reino de Judá entrou em conflitos com os reinos de Moabe, Amom e os filisteus. Entretanto, o principal adversário político e militar do Reino de Judá foi o Reino de Israel. Inúmeras vezes travaram-se batalhas entre os dois reinos, com vitórias pouco significativas para cada lado. Israel tornou-se fortemente influenciado pela cultura cananeia e pela religião fenícia, enquanto Reino de Judá permaneceu, de maneira geral, fiel à sua fé em YHVH, o Deus dos patriarcas hebreus. O culto a YHVH (Deus) e a preservação da linhagem real davídica do qual deveria vir o prometido Messias, de acordo com os profetas do Velho Testamento, é a justificativa para a misericórdia de Deus sobre o Reino do Sul, ao passo que o politeísmo de Israel teria sido responsável por sua ira sobre seus governantes. O Reino de Judá viu o perigo das potências estrangeiras emergentes quando a capital de Israel, Samaria foi tomada pelo rei assírio Sargão, em 722 a.C.. Mais tarde, o Rei Senaqueribe invade o Reino de Judá e sitia Jerusalém, mas sem a conquistar. Segundo a Bíblia, o seu exército foi “subitamente destruído por obra de Deus“. O Reino do Sul persistiu por mais de um século e meio depois da destruição de Israel (cerca de 345 anos). Ao contrário de Israel, os reinados dos dezenove reis e uma rainha em Judá, tiveram duração média de mais de dezessete anos. A dinastia de Davi foi a única a reivindicar o trono do Sul, realçando a estabilidade política. O reinado terrível da rainha Atália foi a única interrupção da sucessão davídica. No entanto, em Judá também ocorreram intrigas políticas, pois cinco reis foram assassinados, dois foram feridos por Deus e três foram exilados. O historiador de Reis relatou que oito monarcas de Judá foram “bons” porque seguiram o exemplo de Davi e obedeceram a Deus. Foram eles:
* Asa;
* Josafá;
* Joás;
* Amazias;
* Uzias;
* Jotão;
* Ezequias;
* Josias.
Os reis Ezequias e Josias são idealizados como personagens semelhantes a Davi e Salomão porque purificaram o templo e restauraram a adoração adequada em Jerusalém. 
O Reino do Sul também foi levado cativo, por não obedecer aos mandamentos do Senhor: “E queimaram a casa de Deus, e derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os seus preciosos vasos. E os que escaparam da espada levou para Babilônia; e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao tempo do reino da Pérsia. Para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram” (2 Cr 36.19-21). Com um desfecho melhor que Israel, o povo de Judá (Reino Sul) voltou para sua terra, cumprindo-se assim a promessa do Senhor de que da raiz de Davi nasceria o redentor. Por isso Ciro rei da Pérsia permitiu aos judeus retornarem a Jerusalém, conforme narrado pelo escritor do livro das Crônicas: “Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do SENHOR pela boca de Jeremias), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre vós, de todo o seu povo, o SENHOR seu Deus seja com ele, e suba” (2 Cr 36.22-23).
PORQUE OS JUDEUS NÃO SE COMUNICAVAM COM OS SAMARITANOS: Agora que já entendemos os motivos que levaram a nação de israel se dividir, conseguiremos entender melhor essa guerra entre eles, porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos. Em João Capitulo 4.9 mostra que os judeus não se comunicavam com os samaritanos. Mas o que levou os judeus não conversarem com os samaritanos? Existem vários itens que contribuíram par que isso acontecesse, como já mencionado, nesse post eu vou destacar os principais, são eles:
1 – O povo de Israel adorava apenas a um Deus (YHWH) já os samaritanos adoravam há vários deuses (por um motivo que veremos já ja);
2 – Eles não concordavam com praticamente nenhuma informação, discordavam em quase tudo, um dos pontos que eles discordavam é o lugar onde se deve adorar – “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” (João 4.20).
3 – Brigavam por territórios, quase sempre estavam brigando por territórios, por exemplo: este poço é nosso, ‘não’, este poço é nosso’, por ai vai…
2.3. As lições da Monarquia
A monarquia trouxe benefícios para Israel, e não se pode ignorá-los. O primeiro e mais forte foi a manutenção da unidade nacional. Ela deu um senso de povo, de organização social, que não se nota em Juízes. Em momentos de crise, Deus levantava um juiz que liderava o povo. Mas uma nação precisa de mais que líderes eventuais para ter identidade nacional. A institucionalização da monarquia pela lei, atribuindo deveres e responsabilidades ao rei, mostra que o próprio Deus atribuiu méritos à monarquia. Ela deveria ser o instrumento para que o povo fosse instruído dentro da vontade de Iahweh. Mas a monarquia trouxe algumas vantagens. Uma delas foi a centralização do culto, o que sucedeu com Davi. Em 2Samuel 7 vemos o interesse de Davi em edificar um templo ao Senhor. Isto é mais que o desejo de construir um prédio. Era o desejo de fixar Iahweh como o Deus nacional e centralizar o culto em Jerusalém. Esta fixação e esta centralização fariam com que oculto fosse mantido puro. Havia um grupo fixo, embora renovável, os levitas, para o culto. Haveria um templo só em uma cidade. Uma religião nacional, fixada em um ponto geográfico, nas mãos de um grupo que se reproduziria teologicamente, sem novidades. Uma segunda vantagem foi a institucionalização de Davi e sua família, como padrão monárquico. As falhas de Davi nunca impediram nem apagaram isto: ele é o rei padrão. E sua família seria uma família de reis. Veja-se o texto de 2Samuel 7.16: “A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre”. Os reis descendentes de Davi poderiam falhar, mas isto não faria com que Deus os abandonasse. Lemos em 2Samuel 7.14-15: “Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens; mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti”. A alusão é a Salomão. Iahweh não lhe retiraria a sua benignidade. O hebraico é hesed, o termo para o amor do pacto. Nenhuma falha dos reis que sucedessem a Davi anularia o pacto que ele fez com Davi. O texto de 2 Samuel 7 é muito importante na teologia do Antigo Testamento. É o momento da aliança de Iahweh com Davi, a chamada aliança davídica. A partir daqui, todo o Antigo Testamento órbita ao redor de Davi. Aqui está o significado maior da monarquia. O seu maior vulto não é um sacerdote, mas um rei. Tanto que o Messias passou a ser visto como um novo Davi. Lemos em Ezequiel 34.23-24:” E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”.
3. OS PROFETAS E AS SUAS MENSAGENS
3.1. Os profetas do Reino do Norte
Podemos dizer que monarquia e profecia surgem juntas. Nascem e caminham lado a lado. Reis e profetas são figuras complementares, mas contrastantes. Nesse período, no Reino do Norte, atuaram os profetas: Elias, Eliseu, Amós e Oseias. Todos eles declararam "guerra santa" contra os reis de Israel (1 Rs 18; 2 Rs 10).
Elias, o tesbita - A ambição pelo poder corrompe. Para que o governo dos reis triunfasse era necessário destruir a religião de Javé. Esta religião mantinha o povo na obediência às leis e à Aliança, às tradições tribais e aos costumes do tempo dos Juízes. Isto impedia a centralização do poder nas mãos do Rei. Na tentativa de destruir a religião de Javé, os reis vão incentivar e promover o culto idolátrico a baal, deus cananeu da chuva e da fertilidade do solo, o protetor das cidades. Na época do rei Acabe, a religião de baal se torna oficial (1Rs 16,32-33). Casado com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, princesa fenícia de Tiro, trouxe desta cidade-estado sacerdotes e profetas de baal que viviam na corte em Samaria, sustentados pelo rei (1Rs 18,19). A religião de Javé é duramente perseguida (1Rs 18,13). Profetas Javistas são presos ou mortos. Tudo isto fez Israel mergulhar no mais profundo paganismo, sem nenhuma pretensão de preservar o culto a Javé tornando-se uma nação idólatra e pagã, como as demais nações. Nesta época, as cidades funcionavam como quartéis, centros comerciais e centros religiosos. O rei era, ao mesmo tempo, comandante do exército, responsável pelo comércio e sacerdote da religião. O casamento do rei Acabe com a rainha Jezabel faz com que invistam muito no comércio, fazendo aliança com os fenícios, os maiores comerciantes da época. Israel comprava dos fenícios tecidos, objetos de luxo e armas. E, em troca, oferecia trigo, óleo, azeite e gado. Essa aliança significava que comerciantes estrangeiros, da cidade-estado de Tiro, criassem um bairro comercial em Samaria. E neste bairro construíram um templo ao seu deus baal-Malkart (l Rs 16,31). Quando Acabe, influenciado por sua esposa Jezabel, substituiu o culto à Javé pela adoração à baal (1 Rs 16,31-33), Elias apareceu repentinamente perante o rei para anunciar a ausência de chuva (1 Rs 17,1) e, portanto, um longo período de seca. Como a chuva é um dos principais elementos de sustentação da natureza, a falta dela provocou seca, fome e miséria. Isto fez com que Acabe se irasse ainda com Elias, pois achava que ele era o culpado daquela calamidade, que prejudicou terrivelmente a vida dos camponeses e das camponesas. Em 1 Sm 17, 1ss, a palavra de Javé veio a Elias, pedindo que ele se dirigisse para Sarepta, na região de Sidônia. Lá ele encontra uma mulher pobre, viúva, estrangeira que, com seu filho órfão, também vive a penúria da fome e da seca. A esse grupo, de pobres e miseráveis, símbolo das excluídas e excluídos daquela época, Elias pede água e pão. A mulher e o filho o acolhem e partilham com ele o que lhes resta. A partilha generosa e gratuita da mulher faz o milagre da fartura. É com essa comunidade de sofredores e sofredoras anônimos/as que Elias convive durante três anos, na partilha e na solidariedade. Cresce a opressão da sociedade, mas ao mesmo tempo cresce a resistência dos pobres, grito profético contra a força da morte que continua destruindo a vida do povo. O filho único da viúva acaba morrendo. Agora é a mulher que desafia Elias. Elias clama a Javé. Javé, o Deus da vida, presença sagrada na comunidade que acolhe e partilha, ouve o clamor, restaura a vida do menino... Na resistência, na partilha, na solidariedade dessa comunidade profética, Elias experimenta a manifestação sagrada de Deus, capta a sua presença e sua palavra se torna Palavra de Deus. Foi desse grupo de pobres que ele recebeu a confirmação de sua missão: "Assim disse a mulher a Elias: ‘Agora sei que você é um homem de Deus, e que de fato anuncia a palavra de Javé'" (1Rs 17,24). A situação de opressão é um apelo à profecia que nasce no meio do povo e se expressa no seu esforço de organização. Mesmo sem falar, a presença dos pobres, excluídas e excluídos, é um grito profético que interpela a consciência da nação, a vivência de nossa vida religiosa. Os profetas e as profetisas, comprometidos e comprometidas com a causa dessas pessoas, captam o seu grito, se tornam seus porta-vozes e as ajudam na sua organização. Enquanto, na Samaria, o povo passava fome e penúria Acabe, sua corte e seus profetas estavam preocupados em manter vivos os seus "cavalos e burros", isto é, estavam preocupados com o exército e com o comércio (1Rs 18,1-6). Possivelmente movido pelo desespero, o próprio Acabe sai à procura de água com Obadias, o que não era um fato comum, pois, como rei, ele poderia apenas ordenar a seus servos que saíssem à procura de água. Jezabel, esposa do rei Acabe, além de controlar o seu esposo (1Rs 21,25), ela levou a nação de Israel a adorar seus deuses (1Rs 18,19-20). Os israelitas achavam que podiam adorar o Deus verdadeiro e ao mesmo tempo adorar a Baal. Eles tinham o coração dividido e por esta razão queriam servir a dois senhores. Como se não bastasse, intentou matar a todos os profetas do Senhor (1Rs 18,4). Foi nessa ocasião que Obadias, um homem temente a Deus e servo do rei Acabe (possivelmente um mordomo ou camareiro do palácio), conseguiu esconder 100 profetas do Senhor e os sustentou com pão e água, pondo em risco a sua própria vida, pois, caso fosse descoberto, tanto ele como os cem profetas, seriam mortos à mando de Jezabel. Esta família preocupada em acumular riqueza e viver na mordomia e usando do famoso direito dos reis (Dt 17,14-20; 1Sm 8,10-17), pisavam no povo como se fossem donos da vida e da morte de seus súditos. No capítulo 21 de 1Rs, está registrado que Acabe desejou adquirir uma vinha que pertencia a Nabote. Como Nabote recusou-se vender a sua vinha para Acabe, Jezabel enviou cartas aos anciãos e aos nobres da cidade, com o selo do rei (como se estivesse sido escritas por ele), e mandou colocar duas falsas testemunhas contra Nabote, acusando-o de blasfêmia contra Deus e contra o rei, e, depois, o apedrejassem; fazendo com que seu marido possuísse a vinha que pertencia a Nabote (1Rs 21,1-16), numa demonstração de que, tanto Acabe como sua esposa Jezabel, eram capazes de fazer qualquer coisa para conseguir seus objetivos, até mesmo, mandar matar pessoas inocentes. É em meio a essa crise social, moral e espiritual, Deus levanta o profeta Elias para combater o pecado, proclamar o juízo e chamar o povo ao arrependimento o qual, desafiou o povo a fazer uma escolha definitiva entre seguir a Deus ou a Baal. O conflito entre a religião de Javé e a religião de baal atinge no Carmelo seu ponto crítico. Deste enfrentamento sairá a resposta vital: quem é o verdadeiro Deus? O povo reunido deve definir-se ante as posições em conflito. Mergulhado na dúvida, o povo viu que o rei Acabe e a rainha Jezabel promoveram a religião de baal (l Rs 16,31), perseguiram e mataram os profetas de Javé (l Rs 18,4) e incentivaram a idolatria trazendo e sustentando profetas estrangeiros. Só no palácio estes profetas eram 450! Ameaçado de morte, fugiu com medo de Jezabel e desejou a morte (1Rs 19,4); caminhou 40 dias 40 noites, após ser alimentado com pão e água, trazidos por um anjo (1Rs 19,8); ao chegar em Horebe, esconde-se em uma caverna, onde tem um encontro com Deus (1Rs 19,12); Unge Elizeu como seu sucessor (1Rs 19,15,21); foi levado ao céu em um redemoinho (2Rs 2,11).A história de Elias está registrada em 1Rs 17,1 até 2Rs 2,11. O relato sobre a vida do profeta Elias inicia-se com uma declaração sobre a sua terra e seu povo: “Então, Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade” (1Rs 17,1). Estas palavras põem no cenário bíblico uma das maiores figuras do movimento profético. Elias era de Tisbe, um lugarejo situado na região de Gileade e a leste do rio Jordão. Esse lugar não aparece em outras passagens bíblicas, mas é citado somente no contexto do profeta Elias (1Rs 21,17; 2Rs 1,3-8; 9,36). Elias se tornou muito maior do que o meio no qual vivia. Na verdade, não foi Tisbe que deu nome à Elias, mas foi Elias que colocou Tisbe no mapa! São muitas as virtudes que as Escrituras registram sobre a vida deste destemido profeta. Profetizar no tempo de Elias não era uma tarefa fácil. Era colocar a sua própria vida em risco (1Rs 18.4). E Elias foi chamado para profetizar exatamente contra aqueles que tinham o poder nas mãos: o rei Acabe e sua ímpia esposa, Jezabel. Mas Elias não vacilou: Profetizou a falta de chuva e de orvalho (1Rs 11); combateu o pecado de Acabe, chamando-o de perturbador de Israel (1Rs 18,18); desafiou os profetas de Baal (1Rs 18,22-40) e predisse a morte do rei Acabe e de sua esposa Jezabel (1Rs 22,17-24). Somente uma confiança inabalável em Deus poderia levar um homem a profetizar naqueles dias.
Eliseu - Eliseu foi sucessor de Elias e era um homem bastante particular dentre os profetas. O conjunto de narrativas a seu respeito encontra-se no 2º livro dos Reis, espalhado entre os capítulos 2 e 13, apesar de já ter sido introduzido em 1Rs 19,19-21, quando ele foi chamado por Elias para segui-la. Boa parte dessa narrativa tem aquele gosto dos "causos" que, por sua forma extraordinária (e às vezes exagerada mesmo), levam a gente a pensar. Encontramos nelas uma predileção pelo milagre ou pelas ações, no mínimo, "esquisitas". Daí a particularidade de Eliseu: suas intervenções nem sempre têm como resultado direto a denúncia de alguma injustiça cometida, ou o prenúncio de um castigo ou uma intervenção divina, como no caso dos profetas anteriores a ele. Às vezes até nos perguntamos o que certas intervenções do profeta têm a ver com sua missão em si. A julgar pelo teor dessas narrativas populares, Eliseu é um especialista em “milagres aquáticos”, faz parar de correr as águas do Jordão para passar (2Rs 2,14), toma potável a água de Jericó (2,21), manda o leproso Naamã banhar-se no Jordão para curar-se (5,10), indica o lugar onde afundou um machado que caiu no rio (6,6). Mas encontramos também outras histórias milagrosas de teor popular: os meninos de Betel estraçalhados por duas ursas (2,23-24), a multiplicação do óleo da viúva (4,1-7), a sunamita e seu filho ressuscitado (4,9-37), a comida envenenada tornada boa (4,38-41), a multiplicação dos pães (4,42-44) e a revitalização de um morto (13,21). Mas tomemos cuidado. O gosto pelo extraordinário nessas narrativas não nos deve desviar da mensagem mais profunda que elas encerram: "O Senhor agia pela palavra e ações de Eliseu, entre pequenos e grandes, em Israel e fora". As demais narrativas sobre esse profeta mostram uma outra característica sua: a de acompanhar e dirigir os movimentos políticos, exercendo uma liderança notável, orientado pelo espírito do Senhor (Ec 48.13). Nesse setor, Eliseu foi mais radical do que Elias, chegando, com grande probabilidade, a apoiar a rebelião de Jeú, que pôs fim à dinastia de Amri. Encontramos Eliseu envolvido nos eventos políticos que marcaram a primeira metade do século IX a.C.: na guerra de Jorão contra Meshá, rei de Moab (2Rs 3.4-27); na guerra com a Síria, destacando o milagroso (2Rs 6.8-23); na subida de Hazael ao trono da Síria (2Rs 8.7-15); no assédio a Samaria e na fome na cidade (2Rs 6.24-7,2); na unção de Jeú como rei de Israel (9,1-10); no anúncio da vitória contra a Síria (13,14-20). Vai-se confirmando e aprofundando a característica do profetismo como um movimento político a partir da ótica dos pobres.
Amós - Jeroboão II, em meados do século VIII, foi o décimo terceiro reis do reino do Norte, e foi uma época de enriquecimento, mas na qual o luxo dos grandes contrastava com a miséria do povo e o esplendor do culto mascarava uma falsa religião. No seu reinado levantou-se o profeta Amós, um pastor de Técua, rude e incisivo (Am 7,14).  E assim, nasceram os profetas escritores. Em relação aos profetas não escritores, como Elias e Eliseu, há em comum a defesa ferrenha da fé em Javé. Seu lugar preferido para falar em público era o santuário de Betel, pois lá encontrava sempre muita gente que vinha oferecer seus sacrifícios e trazer suas ofertas, agradecendo a Deus pela prosperidade que estava concedendo ao povo. Contudo essa prosperidade era falsa, porque, como já vimos, a exploração e a injustiça, o roubo e o suborno permitiam que alguns se deitassem em divãs de marfim e se regalassem em festas intermináveis (Am 6,1-7), enquanto as pessoas iam ficando cada vez mais pobres e excluídas. O povo não percebia isso. Continuava a acreditar na propaganda enganosa das autoridades governamentais. Deixava-se convencer pela pregação espiritualista dos líderes religiosos, que legitimavam a situação, fazendo perigosas concessões ao baalismo. Amós se propôs a ser a voz dos camponeses, levantando-se contra esse sistema de exploração e injustiça, claramente identificado como idolatria, porque levava ao abandono do Senhor e de seu projeto (Aliança), para servir a outros deuses, ou seja, a outros projetos que escravizam e matam. Esse seu grito em defesa do pobre é para ele um "rugido do Senhor" (1,2), um imperativo ao qual ele não pode resistir (3,3-8). Essa é a sua vocação profética. Suas intervenções, portanto, são sempre marcadas pela clareza de opção social ao lado dos deserdados, dos excluídos, dos injustiçados (veja-se, por exemplo, Am 2,6-8; 3,13-15; 5,10-13; e especialmente 8,4-6). Tal opção, resultou, é claro, em conflito. E não demorou muito: parece que Amós não atuou mais do que dois anos. A classe dirigente da nação estava conduzindo o país à ruína, mas parece que só Amós conseguiu ver isso. Ele profetizou a morte do rei, a deportação do povo, e até mesmo o avanço das tropas assírias sobre o país. Era a declaração da falência do sistema apregoado pelos dirigentes políticos e religiosos. Isso custou a Amós sua expulsão de Israel pelo sacerdote de Betel, Amasias (Am 7,10-17). Com Amós teve início uma nova fase no profetismo em Israel, que contribuiu intensamente para o enriquecimento do material bíblico. Suas palavras, sua vida e suas reflexões passam a ser consignadas por escrito, dando-se origem à literatura profética. Inicia-se a "época de ouro" do profetismo bíblico. A partir dele, os profetas não serão apenas questionadores de algumas políticas erradas dos governantes. Questionarão o próprio sistema monárquico de Israel e Judá, decretando a falência do modelo de sociedade baseado nesse esquema. A profecia de Amós conseguiu despertar a sensibilidade de mais gente para a realidade das coisas no reino do Norte.
Oséias - Logo depois dele surge Oséias, denunciando com o mesmo vigor os pecados de Israel, agora identificados como "a prostituição" do povo, que abandonou o projeto do Senhor para servir ao projeto de Baal (veja-se, por exemplo, Os 4,2.4-10; 6,7-10; 10,4; 12,2.8-9). Essa ótica é reforçada pela experiência pessoal de Oseias (a menos que seja apenas um artifício literário): seu casamento conheceu o fracasso quando sua mulher o abandonou e entregou-se à prostituição (provavelmente a "prostituição sagrada" nos ritos baalísticos de fecundidade). Mas ele a amava e, quando ela voltou para casa, recebeu-a de novo, perdoando-a (Os 1,2-3,5). Essa experiência deu a Oseias a moldura para repensar a relação entre o Senhor e Israel, seu povo.  Diante da infidelidade à Aliança ("prostituição"), que Oseias percebe como sendo a causa central de toda aquela situação difícil do povo, não resta outra saída senão converter-se ao Senhor, que perdoará, porque ama seu povo. Daí a denúncia ao culto idolátrico, que é a principal temática de Oséias. Mas ele não é, nem de longe, um liturgista querendo reformar os ritos, ou um religioso tradicionalista queixando-se do abandono das antigas tradições. A partir da religião, Oséias conseguiu atingir todos os setores da vida de Israel: a política, a economia, a educação, demonstrando com clareza que um projeto de sociedade, que pretende "ter a bênção do Senhor", tem necessariamente de se articular segundo a justiça e o direito, o amor e a ternura (Os 2,21). A pregação de Oséias parece que tampouco deu resultado. Ele também percebe que sua gente caminhava para a ruína. Talvez teve a infeliz sorte de ver acontecer aquilo contra o qual tanto prevenira e alertara o povo: a chegada do inimigo (a Assíria) e a devastação definitiva do reino, por causa de sua infidelidade. Debaixo dos escombros da sociedade israelita, a mensagem desse profeta infiltra-se e desabrocha como uma teimosa flor, delicada em suas pétalas, mas de cor firme e de perfume forte. Também o amor do Senhor supera e redime até a infidelidade do seu povo.
3.2. Os profetas do Reino do Sul
Desde quando começou a monarquia com Saul, apareceram também os profetas como reação aos desmandos da monarquia. Inicialmente eles se relacionavam mais com os reis, convivendo com eles no palácio. Mas nem por isso podem ser considerados "profetas da corte", quase como funcionários do Estado. A começar por Samuel, no tempo de Saul e Davi, passando por Natã e Gad, com Davi e depois Aias de Silo com Salomão e Jeroboão I, os profetas sempre exerceram um papel crítico perante os monarcas. Durante a monarquia dividida, os profetas floresceram mais no Norte, onde as tradições javistas do tribalismo foram mais conservadas e também onde as realidades política, social e religiosa exigiam intervenções severas desses "homens de Deus". Então, os profetas foram tomando distância cada vez maior do rei e do palácio e se identificando mais com o povo, com os pobres, os excluídos do sistema. Assim fizeram. No Sul, durante o reinado de Salomão, e depois dele, não se ouve mais falar de profetas, até a segunda metade do século VIII a.C., quando surgiu o eloquente Isaías, no tempo do rei Ozias (740) e seus sucessores. Talvez esse "silêncio" no Sul se deva ao fato de que a teologia davídica, elaborada na corte, e a relativa paz em que vivia o reino de Judá, durante pouco mais de cem anos, inibiam o surgimento desses grandes críticos da sociedade, os profetas. Os profetas eram os verdadeiros arautos do javismo, defensores da religião no seu sentido mais profundo. Eles eram uma instância crítica junto à monarquia, uma forma de "consciência popular" diante dos desmandos dos monarcas. Não foi em vão que eles denunciaram o culto externo desligado da prática da justiça. Os reis de Judá encontraram a crítica e a oposição frequentes de profetas da envergadura de Isaías e Jeremias, que exerceram seu ministério profético por três ou quatro décadas, vivendo as situações mais adversas. Isso exigiu deles uma constante fidelidade ao momento em que viviam e ao mesmo tempo à Palavra de Deus, da qual eram porta-vozes. Deviam atualizar a mensagem às novas situações, sem perder sua fidelidade ao passado. Isso não era uma tarefa fácil. A importância desses profetas mostrou-se também pela extensão dos livros que recolheram suas palavras: Isaías tem 66 capítulos[1] e Jeremias.
Isaías - Foi Isaías quem rompeu o silêncio, de mais de um século, na profecia de Judá. Ainda jovem, recebeu a vocação profética um pouco antes da morte de Ozias, em 740 (Is 6,1-8). Exerceu o ministério profético por cerca de 40 anos, até o ano 700 aproximadamente. Sua pregação reflete a mentalidade de quem vive na cidade (Jerusalém) e conhece bastante a vida política, a corte e as atividades do Templo. Demonstra também muita sensibilidade pelos marginalizados, pelos excluídos daquela sociedade: as viúvas, os órfãos, os sem-teto (Is 1, l7.23; 9,16; 10,2). Além disso, demonstra um conhecimento profundo da situação a sua volta, no cenário internacional. Suas intervenções, suas palavras, suas ações simbólicas eram tão densas de sentido que não se esgotaram no seu tempo. Alcançaram um significado para além do próprio momento de Isaías. Assim foi interpretada a profecia do nascimento de um libertador que ele chamou de Emanuel (= Deus conosco), por exemplo (Is 7,14); do "rebento de Jessé (Is 11, ls) e da cegueira e surdez do povo (Is 29,18-19), entre outras. No campo político, suas intervenções mais significativas foram duas: a primeira no tempo de Acaz (cerca de 732) e a segunda no tempo de Ezequias (cerca de 700). Acaz havia sido atacado por Facéias, rei de Israel, unido a Rason, rei de Damasco. Esses dois reis queriam forçar Judá a entrar numa coalizão militar contra a Assíria. Essa batalha ficou conhecida como a guerra siro-efraimita (2Rs 16,5-6). Isaías propôs ao rei neutralidade e confiança nos planos do Senhor' que, mais tarde, estaria afastando a ameaça daqueles dois "tições de lenha fumegantes" (Is 7,3-9). Mas Acaz preferiu contar com uma segurança mais palpável: pediu socorro a Teglat-Falasar, rei da Assíria (745-727). O socorro veio logo, mas o preço pago foi caro. Judá acabou se tornando um vassalo da Assíria (Is 8,5-10; 2Rs 16,79.17-18). No tempo de Ezequias aconteceu o cerco de Jerusalém pelos assírios, então comandados pelo rei Senaquerib (704-681). Dessa vez Isaías parecia desinteressado na questão. Mas sua imparcialidade foi sacudida diante das insolências proferidas pelo copeiro-mor de Senaquerib, que desafiava a confiança do rei e da população no Senhor para salvar a cidade. Na visão do invasor, o Senhor não poderia salvar Jerusalém, assim como os deuses do Egito e de outras cidades-estados da região não salvaram seus habitantes do jugo assírio (2Rs 18,33-35; 19,10-13). Isaías não pôde calar-se diante dessa afronta ao que ele considerava a atitude mais necessária do povo, que era a confiança no Senhor. Nas palavras do copeiro-mor, o Senhor não passaria de um "idolozinho" a mais, entre tantos que não tiveram força para evitar a vitória assíria. Procurado pelos funcionários do rei, Isaías, mais uma vez, vaticinou a derrocada do inimigo: a cidade não seria invadida (2Rs 19,6.21-28.32-34). De fato, o exército de Senaquerib suspendeu imediatamente o cerco e voltou a Nínive, sua capital. Nunca se soube ao certo o que teria provocado a retirada repentina do exército assírio. Mas isso foi interpretado como uma intervenção miraculosa de Deus (2Rs 19,35; Is 37,33-39). Vendo, porém, a euforia do povo que festejava a retirada do inimigo, mas não reconhecia nisso um apelo do Senhor à conversão, Isaías condenou, sem hesitar, essa atitude. Para ele, aquela euforia toda era sinônimo de excessiva confiança do povo em si mesmo, como se o Senhor estivesse, de fato, satisfeito com o que acontecia na cidade, como se tudo estivesse bem e o povo não precisasse se converter. Por isso Isaías proferiu contra ele o "oráculo sobre o vale da Visão", decretando a futura destruição da cidade (Is 22,114). Isaías foi o primeiro profeta de Judá cujas palavras foram registradas por escrito na Bíblia, em um livro que leva seu nome. Atualmente esse livro tem 66 capítulos, mas somente os primeiros 39, excetuando-se os 24-27 e 34-35, contêm as palavras do profeta do século VIII, que viveu e atuou no reino do Sul. Os demais capítulos, inseridos posteriormente na sua obra, demonstram que Isaías "fez escola", isto é, sua mensagem encontrou eco na pregação de outros profetas que lhe seguiram os passos, mesmo após sua morte.[2]
Miqueias e Sofonias - Outros profetas desse período, cujos livros são menores, mas não menos contundentes, criticaram a situação do país, exortando-o à conversão. Todos eles, no fundo, propunham uma profunda mudança no estilo de vida que aproximasse mais a sociedade judaica daquele ideal delineado na Aliança com o Senhor. Assim, temos Miquéias e Sofonias como porta-vozes da mensagem divina naqueles contextos bastante complexos nos quais viveu o reino de Judá. Miquéias, analogamente a Amós, do Norte, denunciava os abusos sociais, sobretudo contra os camponeses (Mq 2,1-5) do sul. Anunciava a superação do reino de Davi, já idealizado, pela esperança de um novo rei Messias (Mq 4,1-5; 5,1). Sofonias defendia o lado do povo simples, dos pobres, daqueles que viviam com retidão e justiça, contra uma sociedade que privilegiava os ricos e poderosos. Proclamava o "Dia do Senhor" em Judá como dia de manifestação do seu poder contra a infidelidade do povo idólatra, dos chefes violentos, dos comerciantes fraudulentos e dos incrédulos. Fazia um apelo à conversão, proferindo oráculos contra as nações e contra Jerusalém. Fez uma promessa de salvação: "rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel! O Senhor revogou a tua sentença, eliminou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti" (Sf 3,14-15).
Hulda - A voz das mulheres na profecia: Não podemos esquecer, nesse período, a significativa atuação da profetisa Hulda. Ela interveio no tempo de Josias, para confirmar a "autenticidade" das palavras contidas no Livro da Lei encontrado no Templo e dar seu parecer favorável à reforma religiosa pretendida pelo rei. As palavras claras e contundentes de Hulda (2Rs 22,15-20) foram acolhidas pelo rei como a expressão da própria vontade de Deus, pois, como profetisa, foi procurada pelos funcionários do rei para "consultar ao Senhor" (2Rs 22,13). Hulda é importante pelo fato de ser a única mulher citada na Bíblia que exerceu o ministério profético, cujas palavras foram registradas por escrito, num livro que não levou seu nome.
Jeremias - Jeremias também deixou marcas profundas na história do reino do Sul, onde atuou também por cerca de 40 anos. De tantos profetas que previram a ruína do povo por sua surdez aos "oráculos do Senhor", Jeremias foi talvez o único que teve a infelicidade de ver acontecer a desgraça que anunciara. Viveu os momentos mais eufóricos da reforma religiosa promovida por Josias e também os momentos mais dramáticos da queda vertiginosa de seu povo, após amor- te do reformador, até à destruição de Jerusalém e às deportações para a Babilônia. Jeremias, o escolhido e enviado Jeremias recebeu a vocação profética ainda bastante jovem, como Isaías (Jr 1,6). Jeremias quis furtar-se à missão que lhe reservava o Senhor, certamente por intuir a responsabilidade que ela acarretava, para a qual não se sentia preparado. Mas Deus mesmo colocou-se como garantia da eficácia de suas palavras, antecipando seu socorro diante dos que, com certeza, iriam perseguir o profeta por causa de sua palavra (Jr 1,8. l7-19). Não é fácil resumir a vida e a atuação desse profeta tão marcado pelos revezes da história. Suas atitudes vão de um extremo a outro, como já se delineava nas palavras de Deus no relato de sua vocação: "Vê! Eu te constituo, neste dia, sobre as nações e sobre os reinos, para arrancar e para destruir, para exterminar e para demolir, para construir e para plantar" (Jr 1.10). Jeremias é o profeta das contradições. Embora tivesse reconhecido que o Senhor o conhecia e o consagrara antes de ser concebido no ventre materno (Jr 1,5), chegou até a amaldiçoar o dia em que nasceu (Jr 20,14-18), num momento de crise interior. E enquanto todos ansiavam por uma intervenção do Senhor para salvar o seu povo das mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, Jeremias apregoava a rendição ao dominador estrangeiro, sendo considerado traidor da pátria (Jr 37,13). Isso não significa que Jeremias estivesse de acordo com a dominação da Babilônia, mas era a única forma de o povo não ser aniquilado e assim poder manter a sua identidade e sobrevivência, na certeza e confiança de que um dia também esse poder cairia. E, então, o resto de Israel poderia reconstruir a sua história. No início de seu ministério profético, Jeremias apoiou as reformas de Josias (640-609), assumindo o discurso deuteronomista que representava o espírito das reformas (Jr 11,2-14). Após a morte de Josias, ele viu crescer, até se desviar, a valorização dos preceitos da Aliança referentes ao culto e ao Templo. A reforma de Josias propunha uma valorização dos preceitos da Lei, mas o povo levou isso longe demais, supervalorizando a parte ritual e omitindo a parte ética. No tempo de Joaquim (609-598), o Templo já se tomara um fetiche para o povo de Judá. Como já vimos antes, Jeremias condenou veementemente essa perversão do sentido do Templo. Os textos de Jr7, 1-8,3 e 11,15-17 conservam as críticas do profeta à instituição do Templo e ao culto desacompanhados da prática da justiça. A acusação de que o Templo se transformara num "covil de ladrões" (Jr 7,11) é a expressão mais forte da utilização de uma instituição que gozava do respaldo de Deus para esconder a prática da corrupção, contrariando a vontade do Deus que cultuavam no Templo. O "covil" é o esconderijo que serve de refúgio, de abrigo e de proteção para os ladrões. É o lugar onde eles se sentem à vontade, em casa. Por conseguinte, aqueles que frequentam esse "covil" identificam-se com "ladrões". Jeremias não teria outra expressão melhor para traçar o perfil dos dirigentes da nação, sobretudo naquele tempo em que o rei Joaquim havia aumentado os impostos sobre o povo para pagar o tributo exigido pelo faraó: nada menos que 200 talentos em ouro e prata (ao todo 6.840 kg!). A denúncia corajosa de Jeremias custou-lhe a liberdade e quase a própria vida (Jr 18,18; 26,8- 9.11.16 etc.). Tal coragem repetiu-se no gesto de Jesus, ao expulsar os vendilhões do Templo (Lc 19,4546). Encontramos um paralelo dessa situação no regime do Padroado brasileiro, semelhante ao das outras colônias latino-americanas. A instituição religiosa nas mãos do Estado colonizador servia de "capa". Escondia a prática do roubo, do saque do ouro e da prata dos templos e das minas. Encobria a exploração destruidora dos produtos naturais e da produção agrícola e industrial dos povos conquistados. Mas esses povos não eram considerados povos estranhos, senão "súditos" de Sua Alteza, isto é, cidadãos do reino de Portugal ou da Espanha. Daí a maior perversidade do sistema: os colonizadores exploravam os povos dos quais eles pretendiam ser irmãos, pela mesma fé e pelo mesmo batismo, pela mesma religião que os submetia todos a um só Deus.
Naum e Habacuque - Naum dava asas ao sentimento de alegria do povo ao ver a derrota do seu opressor, a Assíria, cuja capital, Nínive, havia sido tornada pelos babilônios em 612 a.C. Apesar de pouco ortodoxo, porque parece dizer "bem feito" a quem está pagando pelo mal que fez, o profeta ensina que todo opressor terá o seu dia e renova a esperança do povo não com sentimento de vingança, mas como certeza do juízo de Deus sobre a história. Habacuque, entretanto, um pouco mais tarde que Naum, vendo as intenções conquistadoras dos babilônios, que "puniram" os assírios, lamenta profundamente o crescimento da violência, da guerra, que só traz miséria e sofrimento para o povo. Por mais que ficassem satisfeitos pela vingança contra o opressor, seu desejo mais profundo era a paz e a concórdia entre os povos.
3.3. A mensagem dos profetas de hoje
O endurecimento do coração para a Palavra de Deus sempre provocou todo tipo de desdobramento: idolatria, sensualidade, egocentrismo, luta desenfreada pelo poder, descaso para com o sofrimento alheio, menosprezo ao sábado, etc… Essas foram as razões pelas quais o mundo enfrentou suas maiores crises. Porém, para cada crise iminente, Deus providenciou uma maneira para que Seu povo soubesse quais seriam os passos que o conduziriam e livrariam, bem como, quais atitudes deveriam ser tomadas. Esse princípio é bem expresso nas palavras: “Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos os profetas” (Amós 3:7). Uma das características do povo fiel a Deus no tempo do fim é a observância dos “mandamentos de Deus” e do “testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17), definido em Apocalipse 19:10 como o Espírito de Profecia. Portanto, é natural que procuremos hoje em dia por profetas verdadeiros. A rejeição aos profetas nos momentos cruciais da história sempre gerou sérias consequências para o professo povo de Deus, porque a rejeição de um profeta implica, de acordo com Lucas 10:16, na rejeição dAquele que o enviou. Caso reconheçamos em nossos dias Deus falando através de um mensageiro humano, devemos respeitar a sua relevância e considerar com seriedade os seus ensinos. Afinal de contas o profeta é um enviado de Deus para nos abençoar e proteger.
CONCLUSÃO
Por causa da imaturidade do povo, acabou-se escolhendo um sistema que iria trazer mais opressão e escravidão, um povo que nunca esqueceu o que era ser escravo, escolhe servir a um senhor imperfeito e impuro e com isso se afastar cada vez mais do Senhor Yahweh que os libertara da opressão do Egito e os trouxera à terra de descanso. E a igreja contemporânea não se faz diferente, pois cada vez mais a pós-modernidade nos incita a abandonar a simplicidade para viver uma vida de “luxos desnecessários”, quando o foco da vida cristã deveria ser a missão de Cristo, acabamos escolhendo líderes que atuam mais como monarcas de nossas vidas, do que pastores que nos apascentam para águas tranqüilas e condutores para um front de batalha contra o mundo. A proposta de Cristo para sua igreja era a de que ela pudesse viver a sua imagem e semelhança, tal qual fora dito no livro de Gênesis, nessa recriação, a igreja deve-se voltar para os ensinos de Cristo e aprender de sua essência, na palavra e na ação. Os profetas se levantaram contra o povo de Israel, pois havia esquecido o que era fundamental no relacionamento com Yahweh, o amor a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como ti mesmo.
BIBLIOGRAFIAS
4. ISRAEL: UMA HISTORIA, ano de edição: 2018, autor: Anita Shapira, editora: Paz & Terra.
5.Revista Betel, Ano 28 – nº 108 – 3ª trimestre de 2018, Israel 70 anos, O Chamado de uma nação e o plano divino de redenção.
6. História de Israel no Antigo Testamento - 2ª Edição revisada, autor: Samuel J. Schultz, edição 2009.
7. AS TRADIÇOES HISTORICAS DE ISRAEL: INTRODUÇAO A HISTORIA DO ANTIGO TESTAMENTO, autor: Antonio Gonzalez Lamadrid , ano copyright: 1993, edição: 2ª.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS
Pr Éder Santos – Ministério Madureira, Professor da EBD na Sede da ADTAG – Assembleia de Deus em Taguatinga, Teólogo pela FTBB e Pós-Graduado em Hermenêutica.

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