A
MONARQUIA EM ISRAEL
(Lição
10 – 02 de Setembro de 2018)
TEXTO
ÁUREO
“Quando
entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres, e
nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm
todas as gentes que estão em redor de mim.” (Dt 17.14).
VERDADE
APLICADA
Mesmo
após a instauração da monarquia, Deus continuou considerando
Israel como Seu povo, visando o cumprimento do divino plano redentor.
OBJETIVOS
DA LIÇÃO
►
MOSTRAR
a história da monarquia através da vida dos três primeiros reis;
►
APRESENTAR
a divisão do reino e as lições decorrentes desse período;
►
ENFATIZAR
que, apesar da desobediência da nação, Deus levantou homens para
transmitir Suas mensagens ao povo.
TEXTOS
DE REFERÊNCIA
1
Sm 8.1 –
E
sucedeu
que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes
sobre Israel.
1
Sm 8.3 –
Porém
seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à
avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo.
1
Sm 8.4 –
Então
todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a
Ramá,
1
Sm 8.5 –
E
disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam
pelos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nós,
para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.
1
Sm 8.6 –
Porém
esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos
um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor.
INTRODUÇÃO:
Josué
viveu 110 anos e faleceu, a terra prometida havia sido conquistada em
parte, mas muito ainda havia que se fazer. O povo serviu a Deus todos
os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que sobreviveram por
muito tempo depois de Josué e que viram todas as grandes obras
feitas pelo Senhor a Israel. Mas após isso, outra geração se
levantou após eles, que não conhecia ao Senhor nem tampouco as
obras que Deus fizera para libertar a Israel. Neste período Israel
pecava e se envolvia com a adoração dos deuses pagãos e como
consequências
destes atos caiam nas mãos dos cananeus e sofriam e eram perseguidos
e feitos servos dele. O Senhor levantava juízes aos quais atribuía
o seu poder e a sua autoridade para julgar, batalhar e libertar a
terra, contudo o povo não obedecia aos juízes e logo que Deus os
livrava tornavam a se voltar aos deuses falsos e ainda sim quando o
juiz falecia, se tornavam ainda piores do que antes, e assim se dá
início ao
período de Juízes. O período de Juízes se conclui em Samuel,
quando ao final de sua vida o profeta nomeia seus filhos como juízes
sobre Israel (1º Samuel 8:1) porém seus filhos não andaram segundo
seu caminho, mas se inclinaram a avareza e aceitaram subornos e
perverteram o direito. Assim os anciãos de Israel se reúnem para
falar com Samuel e lhe pedem um rei.
1.
A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA
A
monarquia em Israel foi uma imposição política, ela não foi
instituída com um caráter religioso natural como no Egito e na
Mesopotâmia. A monarquia não era tradição israelita, ela se deu
pela vontade do povo segundo os escritos bíblicos: “Constitui-nos,
pois, agora, um rei sobre nós, para nos julgar, como em todas as
nações”. Entretanto apesar disso
a monarquia em Israel não conseguiu se desvencilhar de trazer um
elemento forte da monarquia sagrada. No caso de Israel, a monarquia
não traz na sua essência este conceito de monarquia sagrada, mas
traz uma carga do conceito sagrado após sua instituição. A
instituição monárquica em Israel marca a transição de um período
onde a sociedade estava organizada em tribos, sem um poder central,
para uma organização produtiva que constitui a partir daí, numa
mão de obra disciplinada para manter o reinado, regido por um poder
central. O templo funcionava como símbolo nacional anteriormente com
Moisés, Deus habitava em tendas na figura da Arca da Aliança, com a
instituição monárquica, Salomão o construtor do Templo de
Jerusalém deu a Yahweh sua morada. Com isso aproximou ainda mais a
monarquia ao sagrado, o templo deu-lhe prestígio religioso. A
política, portanto caminhava unida a religiosidade, ainda que não
fossem os reis a efetivarem
a ritualização da religião, eles eram escolhidos de Yahweh. Essa
manifestação de aliança a casa de Davi, corroborou para tornar a
monarquia de Israel, sagrada.
1.1.
Saul, o primeiro rei de Israel
Saul
foi o primeiro rei de Israel. Ele era filho de Quis e pertencia a
tribo de Benjamim. Saul foi escolhido como rei quando os israelitas
pediram pela monarquia. A história de Saul na Bíblia está
registrada em livro de 1 Samuel (capítulos 9-31). O nome Saul
significa “pedido”, do original Sha’ul.
Alguns intérpretes sugerem que esse significado transmite o sentido
de “pedido de Deus”. Outros personagens bíblicos também
aparecem com esse mesmo nome. Saul
aparece na narrativa bíblica como um jovem camponês da cidade de
Gibeá. Ele é descrito como um homem de físico imponente, o mais
formoso entre os israelitas (1 Samuel 9:2). A sequência da narrativa
bíblica sobre a história de Saul mostra que ele era valente e muito
corajoso. A
Bíblia diz que Saul estava procurando algumas jumentas de seu pai
que haviam se desgarrado quando se encontrou com Samuel. O profeta
profetizou que Saul seria rei e o ungiu secretamente na terra de
Zufe. Mais tarde, Samuel confirmou a escolha de Saul como rei
apresentando-o publicamente ao povo em Mispá (1 Samuel 9:1-10:25).
Tão logo o rei Saul já mostrou toda sua habilidade como líder e
valoroso guerreiro. Quando o rei de Amom, Naás, sitiou
Jabes-Gileade, Saul liderou um exército que destruiu os amonitas.
Essa campanha militar impressionou o povo, e os israelitas celebraram
o reinado de Saul em Gilgal (1 Samuel 11). De
acordo com a narrativa bíblica, é possível mencionar três grandes
erros cometidos pelo rei Saul. Em primeiro lugar, o rei Saul tentou
usurpar o ofício sacerdotal. Antes da batalha contra os filisteus,
Saul se mostrou impaciente e ofereceu sacrifício em Gilgal. Em
segundo lugar, o rei Saul desobedeceu mais uma vez ao Senhor quando
desprezou a ordem divina para destruir todos os amalequitas. Saul
resolveu poupar o rei Agague bem como o melhor dos animais daquele
povo conquistado. Em terceiro lugar, o rei Saul confirmou sua
terrível condição iníqua quando procurou ajuda de uma feiticeira
em En-Dor pedindo-lhe que trouxesse o espírito de Samuel dos mortos.
Ele estava desesperado, e procurava alguma mensagem de esperança
antes de sua batalha. O final do reinado do rei Saul foi trágico e
melancólico. Cada vez mais ele foi se afastando do Senhor.
Inclusive, ele foi perdendo suas características, tornando um homem
depressivo, medroso e perturbado (1 Samuel 16:14; 19:9). Alguns
intérpretes consideram possível que Saul até tenha se tornado um
tipo de doente mental com episódios de esquizofrenia (1 Samuel
16-19). No
monte Gilboa, e ele e três de seus filhos morreram, entre eles
Jônatas,
amigo de Davi.
Temendo
ser capturado pelo exército adversário, Saul lançou-se sobre sua
própria. No outro dia, quando os filisteus começaram a recolher os
despojos dos mortos no campo de batalha, encontram o corpo de Saul.
Então eles cortaram sua cabeça, penduraram seu corpo no muro de
Bete-Sã para vergonha pública, e levaram suas armas para o templo
de Dagom em Astarote (1 Samuel 31). Depois, num ato de bravura, os
homens de Jabes-Gileade resgataram os corpos de Saul e seus filhos.
Depois de queimá-los, eles recolheram seus ossos e os sepultaram
debaixo de um arvoredo em Jabes (1 Samuel 31:12,13). Apesar de tudo,
o rei
Davi
sentiu
profundamente a morte de Saul e de Jônatas (2 Samuel 1:17-27).
1.2.
Davi, homem segundo o coração de Deus
Davi
era o filho mais novo de Jessé, pertencia à tribo de Judá, e era
neto da moabita
Rute
com
o judeu
Boaz.
Ele nasceu em Belém, uma cidade que ficava aproximadamente 10
quilômetros ao sul de Jerusalém. Seu pai era um homem rico e
respeitado na cidade. Davi foi criado como pastor de ovelhas. Essa
profissão lhe ensinou muitas qualidades que ele pôs em prática ao
longo de sua vida. Quando ele assumiu o trono de Israel, por exemplo,
ele demonstrou ter coragem, dedicação e cuidado com o povo.
Exercendo sua profissão de apascentar ovelhas, Davi enfrentou
situações desafiadoras, como um urso e um leão (1 Samuel
17:34-37). O texto bíblico afirma que Davi era ruivo, do hebraico
‘admoni,
“vermelho”, e possuía boa aparência (1 Samuel 16:12). A
primeira vez que Davi é mencionado na Bíblia é no texto que
descreve a ocasião da visita do profeta Samuel a Belém. Deus havia
rejeitado Saul como rei de Israel, e revelou que seu sucessor estava
na casa de Jessé. A Bíblia afirma que a partir daquele dia “o
Espírito do Senhor se apoderou de Davi”(1
Samuel 16:13). Apesar de ter sido escolhido por Deus, ainda demoraria
algum tempo até que Davi fosse reconhecido pelo povo como rei. A
história de Davi como rei começou ainda antes de ele assumir o
trono de Israel. Primeiramente
ele tornou-se rei da tribo de Judá em Hebrom (2 Samuel 2-4). Esse
local ficava aproximadamente 50 quilômetros de Jerusalém, e passou
a ser sua capital. Como rei em Hebrom, Davi fez importantes alianças
estratégicas. Aos poucos ele começou a conquistar as principais
lideranças de Israel. Com isso, ele contornou a indisposição com
muitos daqueles que apoiavam a casa de Saul. Davi ficou em Hebrom
durante sete anos e meio. Davi se tornou rei sobre as doze tribos de
Israel após a morte de Isbosete, filho de Saul. Isbosete havia sido
proclamado rei por alguns apoiadores de seu pai. Um deles foi o
antigo capitão de Saul, Abner, que também acabou sendo morto. Davi
assumiu o trono de Israel ainda em Hebrom, porém pouco depois
transferiu sua capital para Jerusalém (2 Samuel 3-5). Dessa
forma, o rei Davi se tornou o primeiro a governar Israel como um
império unificado.
Mesmo com a divisão que ocorreu após a morte de seu filho, o rei Salomão,
a dinastia da casa de Davi durou aproximadamente 425 anos. Já em
Jerusalém, o rei Davi construiu seu palácio no Monte Sião, após
conquistar a região dos jebuseus (2 Samuel 5:6-9). Além dessa, ele
também construiu várias outras construções importantes. O rei
Davi também centralizou a adoração a Deus em Jerusalém, colocando
a Arca
da Aliança
na
capital do império, e desejava construir um Templo ao Senhor, porém
essa tarefa Deus não lhe permitiu executar, ficando a cargo
posteriormente de seu filho, Salomão. O rei Davi também estabeleceu
um poderoso exército profissional. Ele conquistou vitórias
lendárias contra os edomitas, filisteus, cananeus, moabitas,
amonitas, arameus e amalequitas. O rei Davi edificou estradas e
fortaleceu rotas comerciais. Suas ações trouxeram grande
prosperidade ao povo de Israel. Foi no período de grande
prosperidade do reino de Israel que Davi experimentou seu tombo mais
amargo, onde conspirou adulterou com Bate-Seba
e conspirou
a morte de Urias,
esposo da mulher. O rei Davi foi duramente
repreendido
pelo profeta Natan,
expondo
um pecado que até então parecia que ficaria encoberto. Davi
casou-se com Bate-Seba, se arrependeu profundamente, Deus o perdoou,
mas não deixou de castigar o seu pecado (2 Samuel 12). Da união
entre Bate-Seba e Davi nasceu seu herdeiro no trono de Israel,
o
rei Salomão.
As
consequências do pecado de Davi puderam ser vistas claramente na
sequência
da história de Israel. Certamente esse pecado descrito nas
Escrituras é um alerta para cada um de nós, pois o caráter santo e
justo de Deus não tolera esse tipo de coisa.
1.3.
Salomão, mais sábio do que todos os homens
Salomão foi
um rei de Israel (mencionado,
sobretudo, no Livro
dos Reis),
filho de David com Bate-Seba,
que teria se tornado o terceiro rei de Israel,
governando durante cerca de quarenta anos (segundo algumas
cronologias
bíblicas,
de 966 a 926
a.C.).
O
nome Salomão ou Shlomô (em hebraico:
שלמה),
deriva da palavra Shalom,
que significa “paz”
e tem o significado de “Pacífico”.
Também chamado de Jedidias (em árabe سليمان
Sulayman)
pelo profeta
Natã.
(II Samuel 12:24, 25). Foi quem, segundo a Bíblia
(em
Reis e em Crônicas), ordenou a construção do Templo
de Jerusalém,
no seu 4.º ano, também conhecido como o Templo de Salomão. Depois
disso, mandou construir um novo Palácio Real para o Sumo Sacerdote,
o Palácio da Filha de Faraó, a Casa de Cedro do Líbano e o Pórtico
das Colunas. A descrição do seu trono era exemplar único em seus
dias. Mandou construir fortes muralhas na cidade de Jerusalém, bem
como diversas cidades fortificadas e torres de vigia. Salomão se
notabilizou pela sua grande sabedoria, prosperidade e riquezas
abundantes, bem como um longo reinado próspero, mas com alguns
inimigos. No livro de 1
Reis
11:14
podemos ver que o Senhor Deus levanta adversários contra o rei, são
estes: Hadade o edomita que queria vingança pelo seu povo que havia
sido derrotado em Edom,
pelas mãos de Davi
seu
pai: Rezom, filho de Eliada que fugiu
de Hadaezer,
rei de Zobá seu senhor, com o objetivo de se vingar também da
descendência de Davi,
pelo motivo de Davi
ter
matado seus homens de guerra quando Rezom foi capitão de um
esquadrão, como diz em 1
Reis 11
versículo 24. Jeroboão:
também se levantou contra Salomão como conta os versículos 26 à
32 de 1
Rs 11.
Após a sua morte ocorreu o cisma nas tribos de Israel, originando o
Reino
de Judá (formado
pelas duas tribos), ao Sul, e o Reino de Israel Setentrional (formado
pelas dez tribos), ao Norte. Existem diferentes datas para divisão
do reino de Israel. Adonias,
o filho primogênito
de David, proclamou-se pretendente ao trono e sucessor de seu pai.
Segundo os profetas, era da vontade divina que o sucessor fosse
Salomão, filho de David e Bate-Seba. Visto que Salomão não era o
herdeiro imediato ao trono, isso levou a intrigas e conspirações
pelos partidários de Adonias. O direito de Salomão ao trono é
assegurado mediante ação decidida de sua mãe, do Sumo Sacerdote
Zadoque e do profeta Natã, com aprovação do idoso rei David. Logo
que se tornou rei, Salomão eliminou todos os conspiradores e
consolidou o seu reinado. Diferentemente de seu pai, Salomão não se
tornou um líder guerreiro, pois isso não foi necessário. Soube
manter a grande extensão territorial que herdara de seu pai.
Mostrou, de acordo com a tradição judaica, ser um grande governante
e um juiz justo e imparcial. Soube habilmente desenvolver o comércio
externo e da indústria, as relações diplomáticas com países
vizinhos, o que levou a um progresso considerável das cidades
israelitas. Salomão casou-se com uma filha do faraó(Anelise)
e recebeu como dote de casamento a cidade cananeia de Gezar.
Renovou a aliança comercial com Hirão,
Rei de Tiro.
Ficou conhecido por ter ordenado a construção do Templo
de Jerusalém(também
conhecido como o Templo de Salomão), no monte
Moriá.
Isto ocorreu no seu 4º ano de reinado, exatamente no 480.º ano (479
anos completos mais alguns dias ou meses) após o Êxodo
de Israel do Egito. (Os historiadores e exegetas bíblicos consideram
esta data como artificial, embora haja alguns biblistas que a
consideram uma sincronização autêntica.) Após isso mandou
construir fortes muralhas na cidade de Jerusalém, bem como mandou
reconstruir e fortificar diversas cidades (como por exemplo, Megido,
Bete-Seã,
Hazor…)
e construir cidades-armazém. Salomão organizou uma nova estrutura
administrativa, dividindo as terras em 12 distritos administrativos
governados por funcionários nomeados diretamente pela administração
central. No exército, deu especial importância a cavalaria e aos
carros de guerra. Dispunha no porto de Eziom-Geber,
no
de
uma frota
de navios comerciais de longo curso, chamados de "navios de
Társis". Segundo I Reis 11:3, A
estas nações uniu-se Salomão por seus amores. Teve setecentas
esposas de classe principesca e trezentas concubinas. E suas mulheres
perverteram o coração.
2.
A
CISÃO POLITICA E RELIGIOSA DE ISRAEL
No
ano de 931
a.C,
depois da morte do grande sábio Salomão (chacham
– hb),
o Reino de Israel se dividiu em Norte (que
passou a se chamar Reino
de Israel)
e Reino
Sul (que
passou a se chamar Reino
de Judá).
O
Reino
do Norte chamado
Reino
de Israel assumiu
Jeroboão
filho
de Nabat (conforme Biblia de Jerusalém em Rs 15,1) tendo como
capital
Samaria.
Este Reino do Norte continha a maioria das tribos de Israel, 10
tribos, e também a maior população. Jeroboão para impedir a ida
ao Templo em Jerusalém, mandou construir dois Templos, um em Dã, e
outro em Betel. O Reino
do Sul chamado
Reino
de Judá ficou
como outro filho de Salomão Roboão
tendo
capital Jerusalém. Para o Sul permaneceram as tribos em torno a
Jerusalém, Tribo de Benjamin e Judá. Habitam a região montanhosa,
árida e seca, menos propensa a agricultura, mas protegida dos
invasores do Norte e Sul.
PORQUE
OS REINOS SE DIVIDIRAM. Salomão
foi um rei de obras grandiosas, gerando também grandes
despesas.
Para pagamento destas despesas o povo teve de arcar com mais
impostos. Após a morte do rei o povo se dirigiu ao sucessor Roboão
pedindo a redução
dos pesados encargos colocados
sobre eles. Roboão seguindo o conselho de seus amigos jovens disse
que em seu reino o jugo
seria mais pesado que o de seu pai.
Após essa decisão de Roboão o povo se negou a continuar sendo
governado por ele. Levantaram como rei de Israel, Jeroboão, ficando
sob as ordens de Roboão apenas a tribo de Judá e Benjamim (1
Re 12).
Sendo assim o reino de Israel ficou dividido, formando Judá e
Benjamim o reino
do Sul e
o restante das dez tribos o reino
do Norte.
2.1.
A dinastia do Reino do Norte.
O
Reino
do Norte (Israel)
era menos estável politicamente que o Reino
do Sul (Judá),
sua duração mais curta como nação independente (209 anos) e a
violência ligada à sucessão ao trono comprovam
esse fato.
O historiador de Reis considerou “maus”
todos os dezenove governantes de Israel, porque perpetuaram o culto
ao “bezerro de ouro” de Jeroboão. A média de duração do
reinado de um monarca israelita era
de apenas dez anos,
e nove famílias diferentes reivindicaram o trono. Para chegar ao
trono, o carisma era tão útil quanto a ascendência, mas
não era garantia de preservação;
sete reis foram assassinados, um cometeu suicídio, um foi ferido por
Deus e outro foi deposto e levado para Assíria.
A
QUEDA DO REINO DO NORTE. O
Reino
do Norte lutou
em várias
ocasiões contra o domínio assírio, fazendo alianças com outros
reinos, como por exemplo, o Egito, e formando uma liga de cidades que
enfrentavam essa potência. Em 723
a.C.,
os líderes do Norte tentaram de algum modo forçar o Reino
de Judá a
participar de acordos e alianças contra a Assíria. Desesperado,
Acaz (732-716),
governante de Judá naquela ocasião, pediu auxílio
à Assíria contra essa intervenção vinda do Reino
do Norte,
o que desencadeou a tomada da região pelo exército
assírio. Em 732 a cidade de Damasco e a Galileia
foram sitiadas, restando ao reino de Israel submeter-se ao controle
estrangeiro. Nessa região a migração
forçada de
colonos
estrangeiros não
foi comprovada, porém é certa a formação de uma nova identidade
étnica através da mistura dos assírios com a população local. A
perda, nessa ocasião de cerca de dois
terços de seu território fez
com que restasse ao povo do Reino
do Norte aproximadamente
apenas as montanhas de Efraim, com a capital Samaria. O rei Oseias
(731-723 a.C.), de Israel, que assumiu o trono sob a concordância do
rei assírio
Tiglate-Pileser
III,
não se conformando com a perda territorial e de independência,
pediu auxílio ao Egito, que lhe prometeu enviar forças militares,
que nunca chegaram. De qualquer modo, os anos que se seguiram foram
marcados pela esperança de libertação. Porem, em 722 o Reino do
Norte foi
definitivamente conquistado por Salmanaser V
(726-722 a.C.), ocorrendo a consolidação assíria com Sargão II
(722-705 a.C.). Samaria foi repovoada
por
colonos estrangeiros e a população
deportada por
todo o império assírio. A tribo de Simeão, por ter o seu
território no meio
da tribo de Judá,
com o passar do tempo foi englobada pela tribo de Judá por esta ser
mais numerosa do que ela. A tribo de Benjamin
também foi absorvida por Judá,
tendo deixado de existir como tribo separada e funcional, entretanto,
esta tribo ainda existia em termos territoriais, por isso ela é
citada em I
Rs 12.21. Mas, em I Rs 11. 13,32,36 e I Rs 12.20,
aparece apenas a tribo de Judá.
OBSERVAÇÃO.
As
dez
tribos do Norte provavelmente
devem estar contando com a tribo de Simeão, pois mesmo o seu
território tendo sido englobado pela tribo de Judá, os seus
descendentes parecem ter ido habitar ao norte com as outras tribos e
não aceitaram a dinastia de Davi. No texto de II
Cr 15.8,9,
o cronista deixa subtendido que Simeão estava com o reino do Norte.
2.2.
A dinastia do Reino do Sul
O Reino
de Judá limitava-se
ao Norte com o Reino
de Israel,
a Oeste com a inquieta região costeira da Filistia,
ao Sul com o Deserto do Neguebe,
e a Leste com o Rio Jordão e o Mar Morto e o Reino de Moabe. Era uma
região montanhosa, fértil, relativamente protegida de invasões
estrangeiras (o
território da Tribo de Judá manteve-se basicamente o mesmo durante
os mais de 300 anos de sua existência).
Sua
capital era Jerusalém, onde encontrava-se o Templo do Deus de Israel
mandado construir pelo rei Salomão para abrigar a Arca da Aliança.
O Reino do Sul (Reino de Judá), cuja capital era Jerusalém,
sobreviveu ainda por cerca de 200 anos, quando em 587 a capital foi
destruída e os moradores levados para o exílio em Babilônia.
Segundo a Bíblia, quando esses deportados voltaram do exílio e
tentavam reconstruir o templo, os Samaritanos queriam frear a
construção. Também teriam se aliado contra os judeus na época de
Antíoco IV. O Reino de Judá entrou em conflitos com os reinos de
Moabe, Amom e os filisteus. Entretanto, o principal adversário
político e militar do Reino de Judá foi o Reino de Israel. Inúmeras
vezes travaram-se batalhas entre os
dois reinos, com vitórias pouco significativas para cada lado.
Israel tornou-se fortemente influenciado pela cultura cananeia
e pela religião fenícia, enquanto Reino de Judá permaneceu, de
maneira geral, fiel à sua fé em YHVH, o Deus dos patriarcas
hebreus. O culto a YHVH (Deus) e a preservação da linhagem real
davídica do qual deveria vir o prometido Messias, de acordo com os
profetas do Velho Testamento, é a justificativa para a misericórdia
de Deus sobre o Reino do Sul, ao passo que o politeísmo de Israel
teria sido responsável por sua ira sobre seus governantes. O Reino
de Judá viu o perigo das potências estrangeiras emergentes quando a
capital de Israel, Samaria foi tomada pelo rei assírio Sargão, em
722 a.C.. Mais tarde, o Rei Senaqueribe invade o Reino de Judá e
sitia Jerusalém, mas sem a conquistar. Segundo a Bíblia, o seu
exército foi “subitamente
destruído por obra de Deus“.
O Reino do Sul persistiu por mais de um século e meio depois da
destruição de Israel (cerca de 345 anos). Ao contrário de Israel,
os reinados dos dezenove reis e uma rainha em Judá, tiveram duração
média de mais de dezessete anos. A dinastia de Davi foi a única a
reivindicar o trono do Sul, realçando a estabilidade política. O
reinado terrível da rainha Atália foi a única interrupção da
sucessão davídica. No entanto, em Judá também ocorreram intrigas
políticas, pois cinco reis foram assassinados, dois foram feridos
por Deus e três foram exilados. O historiador de Reis relatou que
oito monarcas de Judá foram “bons” porque seguiram o exemplo de
Davi e obedeceram a Deus. Foram eles:
*
Asa;
*
Josafá;
*
Joás;
*
Amazias;
*
Uzias;
*
Jotão;
*
Ezequias;
*
Josias.
Os
reis Ezequias e Josias são idealizados como personagens semelhantes
a Davi e Salomão porque purificaram o templo e restauraram a
adoração adequada em Jerusalém.
O
Reino do Sul também foi levado cativo, por não obedecer aos
mandamentos do Senhor: “E
queimaram a casa de Deus, e derrubaram os muros de Jerusalém, e
todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os
seus preciosos vasos. E os que escaparam da espada levou para
Babilônia; e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao tempo
do reino da Pérsia. Para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela
boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados;
todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos se
cumpriram” (2 Cr 36.19-21).
Com um desfecho melhor que
Israel, o povo de Judá (Reino Sul) voltou para sua terra,
cumprindo-se assim a promessa do Senhor de que da raiz de Davi
nasceria o redentor. Por isso Ciro rei da Pérsia permitiu aos judeus
retornarem a Jerusalém, conforme narrado pelo escritor do livro das
Crônicas: “Porém, no
primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra
do SENHOR pela boca de Jeremias), despertou o SENHOR o espírito de
Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino,
como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O
SENHOR Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me
encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.
Quem há entre vós, de todo o seu povo, o SENHOR seu Deus seja com
ele, e suba” (2 Cr
36.22-23).
PORQUE
OS JUDEUS NÃO SE COMUNICAVAM COM OS SAMARITANOS: Agora que já
entendemos os motivos que levaram a nação de israel se dividir,
conseguiremos entender melhor essa guerra entre eles, porque os
judeus não se comunicavam com
os samaritanos. Em João
Capitulo 4.9 mostra que os
judeus não se comunicavam com os samaritanos. Mas o que levou os
judeus não conversarem com os samaritanos? Existem vários itens que
contribuíram par que isso acontecesse, como já mencionado, nesse
post eu vou destacar os principais, são eles:
1
– O povo de Israel adorava apenas a um Deus (YHWH) já os
samaritanos adoravam há vários deuses (por um motivo que veremos já
ja);
2
– Eles não concordavam com praticamente nenhuma informação,
discordavam em quase tudo, um dos pontos que eles discordavam é o
lugar onde se deve adorar – “Nossos
pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar
onde se deve adorar.” (João
4.20).
3
– Brigavam por territórios, quase sempre estavam brigando por
territórios, por exemplo: este poço é nosso, ‘não’, este poço
é nosso’, por ai vai…
2.3.
As lições da Monarquia
A
monarquia trouxe benefícios para Israel, e não se pode ignorá-los.
O primeiro e mais forte foi a manutenção da unidade nacional. Ela
deu um senso de povo, de organização social, que não se nota em
Juízes. Em momentos de crise, Deus levantava um juiz que liderava o
povo. Mas uma nação precisa de mais que líderes eventuais para ter
identidade nacional. A institucionalização da monarquia pela lei,
atribuindo deveres e responsabilidades ao rei, mostra que o próprio
Deus atribuiu méritos à monarquia. Ela deveria ser o instrumento
para que o povo fosse instruído dentro da vontade de Iahweh. Mas
a monarquia trouxe algumas vantagens. Uma
delas foi
a centralização do culto, o que sucedeu com Davi. Em 2Samuel 7
vemos o interesse de Davi em edificar um templo ao Senhor. Isto é
mais que o desejo de construir um prédio. Era o desejo de fixar
Iahweh como o Deus nacional e centralizar o culto em Jerusalém. Esta
fixação e esta centralização fariam com que oculto fosse mantido
puro. Havia um grupo fixo, embora renovável, os levitas, para o
culto. Haveria um templo só em uma cidade. Uma religião nacional,
fixada em um ponto geográfico, nas mãos de um grupo que se
reproduziria teologicamente, sem novidades. Uma
segunda
vantagem foi
a institucionalização de Davi e sua família, como padrão
monárquico. As falhas de Davi nunca impediram nem apagaram isto: ele
é o rei padrão. E sua família seria uma família de reis. Veja-se
o texto de 2Samuel 7.16: “A tua casa, porém, e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para
sempre”. Os reis descendentes de Davi poderiam falhar, mas isto não
faria com que Deus os abandonasse. Lemos em 2Samuel 7.14-15: “Eu
lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir,
castigá-lo-ei
com vara de homens, e com açoites de filhos de homens; mas não
retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem
tirei de diante de ti”. A alusão é a Salomão. Iahweh não lhe
retiraria a sua
benignidade.
O hebraico é hesed,
o termo para o amor do pacto. Nenhuma falha dos reis que sucedessem a
Davi anularia o pacto que ele fez com Davi. O texto de 2 Samuel 7 é
muito importante na teologia do Antigo Testamento. É o momento da
aliança de Iahweh com Davi, a chamada aliança davídica. A partir
daqui, todo o Antigo Testamento órbita ao redor de Davi. Aqui está
o significado maior da monarquia. O seu maior vulto não é um
sacerdote, mas um rei. Tanto que o Messias passou a ser visto como um
novo Davi. Lemos em Ezequiel 34.23-24:” E suscitarei sobre elas um
só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará,
e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu
servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”.
3.
OS PROFETAS E AS SUAS MENSAGENS
3.1.
Os
profetas do Reino do Norte
Podemos
dizer que monarquia e profecia surgem juntas. Nascem e caminham lado
a lado. Reis e profetas são figuras complementares, mas
contrastantes. Nesse período, no Reino do Norte, atuaram os
profetas: Elias, Eliseu, Amós e Oseias.
Todos eles declararam "guerra santa" contra os reis de
Israel (1 Rs 18; 2 Rs 10).
Elias,
o tesbita - A ambição pelo
poder corrompe. Para que o governo dos reis triunfasse era necessário
destruir a religião de Javé. Esta religião mantinha o povo na
obediência às leis e à Aliança, às tradições tribais e aos
costumes do tempo dos Juízes. Isto impedia a centralização do
poder nas mãos do Rei. Na tentativa de destruir a religião de Javé,
os reis vão incentivar e promover o culto idolátrico a baal, deus
cananeu da chuva e da fertilidade do solo, o protetor das cidades. Na
época do rei Acabe,
a religião de baal se torna oficial (1Rs 16,32-33). Casado com
Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, princesa fenícia de
Tiro, trouxe desta cidade-estado sacerdotes e profetas de baal que
viviam na corte em Samaria, sustentados pelo rei (1Rs 18,19). A
religião de Javé é duramente perseguida (1Rs 18,13). Profetas
Javistas são presos ou mortos. Tudo isto fez Israel mergulhar no
mais profundo paganismo, sem nenhuma pretensão de preservar o culto
a Javé tornando-se uma nação idólatra e pagã, como as demais
nações. Nesta época, as cidades funcionavam como quartéis,
centros comerciais e centros religiosos. O rei era, ao mesmo tempo,
comandante do exército, responsável pelo comércio
e sacerdote da religião. O casamento do rei Acabe
com a rainha Jezabel faz com que invistam muito no comércio, fazendo
aliança com os fenícios, os maiores comerciantes da época. Israel
comprava dos fenícios tecidos, objetos de luxo e armas. E, em troca,
oferecia trigo, óleo, azeite e gado. Essa aliança significava que
comerciantes estrangeiros,
da cidade-estado de Tiro, criassem um bairro comercial em Samaria. E
neste bairro construíram um templo ao seu deus baal-Malkart (l Rs
16,31). Quando Acabe,
influenciado por sua esposa Jezabel, substituiu o culto à Javé pela
adoração à baal (1 Rs 16,31-33), Elias apareceu repentinamente
perante o rei para anunciar a ausência de chuva (1 Rs 17,1) e,
portanto, um longo período de seca. Como a chuva é um dos
principais elementos de sustentação da natureza, a falta dela
provocou seca, fome e miséria. Isto fez com que Acabe
se irasse ainda com Elias, pois achava que ele era o culpado daquela
calamidade, que prejudicou terrivelmente a vida dos camponeses e das
camponesas. Em 1 Sm 17, 1ss, a palavra de Javé veio a Elias, pedindo
que ele se dirigisse para Sarepta, na região de Sidônia. Lá ele
encontra uma mulher pobre, viúva, estrangeira que, com seu filho
órfão, também vive a penúria da fome e da seca. A esse grupo, de
pobres e miseráveis, símbolo das excluídas e excluídos daquela
época, Elias pede água e pão. A mulher e o filho o acolhem e
partilham com ele o que lhes resta. A partilha generosa e gratuita da
mulher faz o milagre da fartura. É com essa comunidade de sofredores
e sofredoras anônimos/as que Elias convive durante três anos, na
partilha e na solidariedade. Cresce a opressão da sociedade, mas ao
mesmo tempo cresce a resistência dos pobres, grito profético contra
a força da morte que continua destruindo a vida do povo. O filho
único da viúva acaba morrendo. Agora é a mulher que desafia Elias.
Elias clama a Javé. Javé, o Deus da vida, presença sagrada na
comunidade que acolhe e partilha, ouve o clamor, restaura a vida do
menino... Na resistência, na partilha, na solidariedade dessa
comunidade profética, Elias experimenta a manifestação sagrada de
Deus, capta a sua presença e sua palavra se torna Palavra de Deus.
Foi desse grupo de pobres que ele recebeu a confirmação de sua
missão: "Assim disse a mulher a Elias: ‘Agora sei que você é
um homem de Deus, e que de fato anuncia a palavra de Javé'"
(1Rs 17,24). A situação de opressão é um apelo à profecia que
nasce no meio do povo e se expressa no seu esforço de organização.
Mesmo sem falar, a presença dos pobres, excluídas e excluídos, é
um grito profético que interpela a consciência da nação, a
vivência de nossa vida religiosa. Os profetas e as profetisas,
comprometidos e comprometidas com a causa dessas pessoas, captam o
seu grito, se tornam seus porta-vozes e as ajudam na sua organização.
Enquanto, na Samaria, o povo passava fome e penúria Acabe,
sua corte e seus profetas estavam preocupados em manter vivos os seus
"cavalos e burros", isto é, estavam preocupados com o
exército e com o comércio (1Rs 18,1-6). Possivelmente movido pelo
desespero, o próprio Acabe
sai à procura de água com Obadias, o que não era um fato comum,
pois, como rei, ele poderia apenas ordenar a seus servos que saíssem
à procura de água. Jezabel, esposa do rei Acabe,
além de controlar o seu esposo (1Rs 21,25), ela levou a nação de
Israel a adorar seus deuses (1Rs 18,19-20). Os israelitas achavam que
podiam adorar o Deus verdadeiro e ao mesmo tempo adorar a Baal. Eles
tinham o coração dividido e por esta razão queriam servir a dois
senhores. Como se não bastasse, intentou matar a todos os profetas
do Senhor (1Rs 18,4). Foi nessa ocasião que Obadias, um homem
temente a Deus e servo do rei Acabe
(possivelmente um mordomo ou camareiro do palácio), conseguiu
esconder 100 profetas do Senhor e os sustentou com pão e água,
pondo em risco a sua própria vida, pois, caso fosse descoberto,
tanto ele como os cem profetas, seriam mortos à mando de Jezabel.
Esta família preocupada em acumular riqueza e viver na mordomia e
usando do famoso direito dos reis (Dt 17,14-20; 1Sm 8,10-17), pisavam
no povo como se fossem donos da vida e da morte de seus súditos. No
capítulo 21 de 1Rs, está registrado que Acabe
desejou adquirir uma vinha que pertencia a Nabote.
Como Nabote
recusou-se vender a sua vinha para Acabe,
Jezabel enviou cartas aos anciãos e aos nobres da cidade, com o selo
do rei (como se estivesse sido escritas por ele), e mandou colocar
duas falsas testemunhas contra Nabote,
acusando-o de blasfêmia contra Deus e contra o rei, e, depois, o
apedrejassem; fazendo com que seu marido possuísse a vinha que
pertencia a Nabote
(1Rs 21,1-16), numa demonstração de que, tanto Acabe como sua
esposa Jezabel, eram capazes de fazer qualquer coisa para conseguir
seus objetivos, até mesmo, mandar matar pessoas inocentes. É em
meio a essa crise social, moral e espiritual, Deus levanta o profeta
Elias para combater o pecado, proclamar o juízo e chamar o povo ao
arrependimento o qual, desafiou o povo a fazer uma escolha definitiva
entre seguir a Deus ou a Baal. O conflito entre a religião de Javé
e a religião de baal atinge no Carmelo seu ponto crítico. Deste
enfrentamento sairá a resposta vital: quem é o verdadeiro Deus? O
povo reunido deve definir-se ante as posições em conflito.
Mergulhado na dúvida, o povo viu que o rei Acabe
e a rainha Jezabel promoveram a religião de baal (l Rs 16,31),
perseguiram e mataram os profetas de Javé (l Rs 18,4) e incentivaram
a idolatria trazendo e sustentando profetas estrangeiros. Só no
palácio estes profetas eram 450! Ameaçado de morte, fugiu com medo
de Jezabel e desejou a morte (1Rs 19,4); caminhou 40 dias 40 noites,
após ser alimentado com pão e água, trazidos por um anjo (1Rs
19,8); ao chegar em Horebe,
esconde-se em uma caverna, onde tem um encontro com Deus (1Rs 19,12);
Unge Elizeu como seu sucessor (1Rs 19,15,21); foi levado ao céu em
um redemoinho (2Rs 2,11).A história de Elias está registrada em 1Rs
17,1 até 2Rs 2,11. O relato sobre a vida do profeta Elias inicia-se
com uma declaração sobre a sua terra e seu povo: “Então, Elias,
o tisbita, dos moradores de Gileade” (1Rs 17,1). Estas palavras
põem no cenário bíblico uma das maiores figuras do movimento
profético. Elias era de Tisbe, um lugarejo situado na região de
Gileade e a leste do rio Jordão. Esse lugar não aparece em outras
passagens bíblicas, mas é citado somente no contexto do profeta
Elias (1Rs 21,17; 2Rs 1,3-8; 9,36). Elias se tornou muito maior do
que o meio no qual vivia. Na verdade, não foi Tisbe que deu nome à
Elias, mas foi Elias que colocou Tisbe no mapa! São muitas as
virtudes que as Escrituras registram sobre a vida deste destemido
profeta. Profetizar no tempo de Elias não era uma tarefa fácil. Era
colocar a sua própria vida em risco (1Rs 18.4). E Elias foi chamado
para profetizar exatamente contra aqueles que tinham o poder nas
mãos: o rei Acabe
e sua ímpia esposa, Jezabel. Mas Elias não vacilou: Profetizou a
falta de chuva e de orvalho (1Rs 11); combateu o pecado de Acabe,
chamando-o de perturbador de Israel (1Rs 18,18); desafiou os profetas
de Baal (1Rs 18,22-40) e predisse a morte do rei Acabe
e de sua esposa Jezabel (1Rs 22,17-24). Somente uma confiança
inabalável em Deus poderia levar um homem a profetizar naqueles
dias.
Eliseu
- Eliseu foi sucessor de Elias e
era um homem bastante particular dentre os profetas. O conjunto de
narrativas a seu respeito encontra-se no 2º livro dos Reis,
espalhado entre os capítulos 2 e 13, apesar de já ter sido
introduzido em 1Rs 19,19-21, quando ele foi chamado por Elias para
segui-la. Boa parte dessa narrativa tem aquele gosto dos "causos"
que, por sua forma extraordinária (e às vezes exagerada mesmo),
levam a gente a pensar. Encontramos nelas uma predileção pelo
milagre ou pelas ações, no mínimo, "esquisitas". Daí a
particularidade de Eliseu: suas intervenções nem sempre têm como
resultado direto a denúncia de alguma injustiça cometida, ou o
prenúncio de um castigo ou uma intervenção divina, como no caso
dos profetas anteriores a ele. Às vezes até nos perguntamos o que
certas intervenções do profeta têm a ver com sua missão em si. A
julgar pelo teor dessas narrativas populares, Eliseu é um
especialista em “milagres
aquáticos”, faz parar de
correr as águas do Jordão para passar (2Rs 2,14), toma potável a
água de Jericó (2,21), manda o leproso Naamã banhar-se no Jordão
para curar-se (5,10), indica o lugar onde afundou um machado que caiu
no rio (6,6). Mas encontramos também outras histórias milagrosas de
teor popular: os meninos de Betel estraçalhados por duas ursas
(2,23-24), a multiplicação do óleo da viúva (4,1-7), a sunamita e
seu filho ressuscitado (4,9-37), a comida envenenada tornada boa
(4,38-41), a multiplicação dos pães (4,42-44) e a revitalização
de um morto (13,21). Mas tomemos cuidado. O gosto pelo extraordinário
nessas narrativas não nos deve desviar da mensagem mais profunda que
elas encerram: "O Senhor agia pela palavra e ações de Eliseu,
entre pequenos e grandes, em Israel e fora". As demais
narrativas sobre esse profeta mostram uma outra característica sua:
a de acompanhar e dirigir os movimentos políticos, exercendo uma
liderança notável, orientado pelo espírito do Senhor (Ec 48.13).
Nesse setor, Eliseu foi mais radical do que Elias, chegando, com
grande probabilidade, a apoiar a rebelião de Jeú, que pôs fim à
dinastia de Amri. Encontramos Eliseu envolvido
nos eventos políticos que marcaram a primeira metade do século IX
a.C.: na guerra de Jorão contra Meshá, rei de Moab (2Rs 3.4-27); na
guerra com a Síria, destacando o milagroso (2Rs 6.8-23); na subida
de Hazael ao trono da Síria (2Rs 8.7-15); no assédio a Samaria e na
fome na cidade (2Rs 6.24-7,2); na unção de Jeú como rei de Israel
(9,1-10); no anúncio da vitória contra a Síria (13,14-20). Vai-se
confirmando e aprofundando a característica do profetismo como
um movimento político a partir da ótica dos pobres.
Amós
- Jeroboão II, em meados do
século VIII, foi o décimo terceiro reis do reino do Norte, e foi
uma época de enriquecimento, mas na qual o luxo dos grandes
contrastava com a miséria do povo e o esplendor do culto mascarava
uma falsa religião. No seu reinado levantou-se o profeta Amós, um
pastor de Técua, rude e incisivo (Am 7,14). E assim, nasceram
os profetas escritores. Em relação aos profetas não escritores,
como Elias e Eliseu, há em comum a defesa ferrenha da fé em Javé.
Seu lugar preferido para falar em público era o santuário de Betel,
pois lá encontrava sempre muita gente que vinha oferecer seus
sacrifícios e trazer suas ofertas, agradecendo a Deus pela
prosperidade que estava concedendo ao povo. Contudo essa
prosperidade era falsa, porque, como já vimos, a exploração e a
injustiça, o roubo e o suborno permitiam que alguns se deitassem em
divãs de marfim e se regalassem em festas intermináveis (Am 6,1-7),
enquanto as pessoas iam ficando cada vez mais pobres e excluídas. O
povo não percebia isso. Continuava a acreditar na propaganda
enganosa das autoridades governamentais. Deixava-se convencer pela
pregação espiritualista dos líderes religiosos, que legitimavam a
situação, fazendo perigosas concessões ao baalismo. Amós se
propôs a ser a voz dos camponeses, levantando-se contra esse sistema
de exploração e injustiça, claramente identificado como idolatria,
porque levava ao abandono do Senhor e de seu projeto (Aliança), para
servir a outros deuses, ou seja, a outros projetos que escravizam e
matam. Esse seu grito em defesa do pobre é para ele um "rugido
do Senhor" (1,2), um imperativo ao qual ele não pode resistir
(3,3-8). Essa é a sua vocação profética. Suas intervenções,
portanto, são sempre marcadas pela clareza de opção social ao lado
dos deserdados, dos excluídos, dos injustiçados (veja-se, por
exemplo, Am 2,6-8; 3,13-15; 5,10-13; e especialmente 8,4-6). Tal
opção, resultou, é claro, em conflito. E não demorou muito:
parece que Amós não atuou mais do que dois anos. A classe dirigente
da nação estava conduzindo o país à ruína, mas parece que só
Amós conseguiu ver isso. Ele profetizou a morte do rei, a deportação
do povo, e até mesmo o avanço das tropas assírias sobre o país.
Era a declaração da falência do sistema apregoado pelos dirigentes
políticos e religiosos. Isso custou a Amós sua expulsão de Israel
pelo sacerdote de Betel, Amasias (Am 7,10-17). Com Amós teve início
uma nova fase no profetismo em Israel, que contribuiu intensamente
para o enriquecimento do material bíblico. Suas palavras, sua vida e
suas reflexões passam a ser consignadas por escrito, dando-se origem
à literatura profética. Inicia-se a "época de ouro" do
profetismo bíblico. A partir dele, os profetas não serão apenas
questionadores de algumas políticas erradas dos governantes.
Questionarão o próprio sistema monárquico de Israel e Judá,
decretando a falência do modelo de sociedade baseado nesse esquema.
A profecia de Amós conseguiu despertar a sensibilidade de mais gente
para a realidade das coisas no reino do Norte.
Oséias
- Logo depois dele surge Oséias,
denunciando com o mesmo vigor os pecados de Israel, agora
identificados como "a prostituição" do povo, que
abandonou o projeto do Senhor para servir ao projeto de Baal
(veja-se, por exemplo, Os 4,2.4-10; 6,7-10; 10,4; 12,2.8-9). Essa
ótica é reforçada pela experiência pessoal de Oseias
(a menos que seja apenas um artifício literário): seu casamento
conheceu o fracasso quando sua mulher o abandonou e entregou-se à
prostituição (provavelmente a "prostituição sagrada"
nos ritos baalísticos de fecundidade). Mas ele a amava e, quando ela
voltou para casa, recebeu-a de novo, perdoando-a (Os 1,2-3,5). Essa
experiência deu a Oseias
a moldura para repensar a relação entre o Senhor e Israel, seu
povo. Diante da infidelidade à Aliança ("prostituição"),
que Oseias
percebe como sendo a causa central de toda aquela situação difícil
do povo, não resta outra saída senão converter-se ao Senhor, que
perdoará, porque ama seu povo. Daí a denúncia ao culto idolátrico,
que é a principal temática de Oséias. Mas ele não é, nem de
longe, um liturgista querendo reformar os ritos, ou um religioso
tradicionalista queixando-se do abandono das antigas tradições. A
partir da religião, Oséias conseguiu atingir todos os setores da
vida de Israel: a política, a economia, a educação, demonstrando
com clareza que um projeto de sociedade, que pretende "ter a
bênção do Senhor", tem necessariamente de se articular
segundo a justiça e o direito, o amor e a ternura (Os 2,21). A
pregação de Oséias parece que tampouco deu resultado. Ele também
percebe que sua gente caminhava para a ruína. Talvez teve a infeliz
sorte de ver acontecer aquilo contra o qual tanto prevenira e
alertara o povo: a chegada do inimigo (a Assíria) e a devastação
definitiva do reino, por causa de sua infidelidade. Debaixo dos
escombros da sociedade israelita, a mensagem desse profeta
infiltra-se e desabrocha como uma teimosa flor, delicada em suas
pétalas, mas de cor firme e de perfume forte. Também o amor
do Senhor supera e redime até a infidelidade do seu povo.
3.2.
Os profetas do Reino do Sul
Desde
quando começou a monarquia com Saul, apareceram também os profetas
como reação aos desmandos da monarquia. Inicialmente eles se
relacionavam mais com os reis, convivendo com eles no palácio. Mas
nem por isso podem ser considerados "profetas da corte",
quase como funcionários do Estado. A começar por Samuel, no tempo
de Saul e Davi, passando por Natã e Gad, com Davi e depois Aias de
Silo com Salomão e Jeroboão I, os profetas sempre exerceram um
papel crítico perante os monarcas. Durante a monarquia dividida, os
profetas floresceram mais no Norte, onde as tradições javistas do
tribalismo foram mais conservadas e também onde as realidades
política, social e religiosa exigiam intervenções severas desses
"homens de Deus". Então, os profetas foram tomando
distância cada vez maior do rei e do palácio e se identificando
mais com o povo, com os pobres, os excluídos do sistema. Assim
fizeram. No Sul, durante o reinado de Salomão, e depois dele, não
se ouve mais falar de profetas, até a segunda metade do século VIII
a.C., quando surgiu o eloquente Isaías, no tempo do rei Ozias (740)
e seus sucessores. Talvez esse "silêncio" no Sul se deva
ao fato de que a teologia davídica, elaborada na corte, e a relativa
paz em que vivia o reino de Judá, durante pouco mais de cem anos,
inibiam o surgimento desses grandes críticos da sociedade, os
profetas. Os profetas eram os verdadeiros arautos do javismo,
defensores da religião no seu sentido mais profundo. Eles eram uma
instância crítica junto à monarquia, uma forma de "consciência
popular" diante dos desmandos dos monarcas. Não foi em vão que
eles denunciaram o culto externo desligado da prática da justiça.
Os reis de Judá encontraram a crítica e a oposição frequentes de
profetas da envergadura de Isaías e Jeremias, que exerceram seu
ministério profético por três ou quatro décadas, vivendo as
situações mais adversas. Isso exigiu deles uma constante fidelidade
ao momento em que viviam e ao mesmo tempo à Palavra de Deus, da qual
eram porta-vozes. Deviam atualizar a mensagem às novas situações,
sem perder sua fidelidade ao passado. Isso não era uma tarefa fácil.
A importância desses profetas mostrou-se também pela extensão dos
livros que recolheram suas palavras: Isaías tem 66 capítulos[1] e
Jeremias.
Isaías
-
Foi Isaías quem rompeu o silêncio, de mais de um século, na
profecia de Judá. Ainda jovem, recebeu a vocação profética um
pouco antes da morte de Ozias, em 740 (Is 6,1-8). Exerceu o
ministério profético por cerca de 40 anos, até o ano 700
aproximadamente. Sua pregação reflete a mentalidade de quem vive na
cidade (Jerusalém) e conhece bastante a vida política, a corte e as
atividades do Templo. Demonstra também muita sensibilidade pelos
marginalizados, pelos excluídos daquela sociedade: as viúvas, os
órfãos, os sem-teto (Is 1, l7.23; 9,16; 10,2). Além disso,
demonstra um conhecimento profundo da situação a sua volta, no
cenário internacional. Suas intervenções, suas palavras, suas
ações simbólicas eram tão densas de sentido que não se esgotaram
no seu tempo. Alcançaram um significado para além do próprio
momento de Isaías. Assim foi interpretada a profecia do nascimento
de um libertador que ele chamou de Emanuel (= Deus conosco), por
exemplo (Is 7,14); do "rebento de Jessé (Is 11, ls) e da
cegueira e surdez do povo (Is 29,18-19), entre outras. No campo
político, suas intervenções mais significativas foram duas: a
primeira no tempo de Acaz (cerca de 732) e a segunda no tempo de
Ezequias (cerca de 700). Acaz havia sido atacado por Facéias, rei de
Israel, unido a Rason, rei de Damasco. Esses dois reis queriam forçar
Judá a entrar numa coalizão militar contra a Assíria. Essa batalha
ficou conhecida como a guerra siro-efraimita (2Rs 16,5-6). Isaías
propôs ao rei neutralidade e confiança nos planos do Senhor' que,
mais tarde, estaria afastando a ameaça daqueles dois "tições
de lenha fumegantes" (Is 7,3-9). Mas Acaz preferiu contar com
uma segurança mais palpável: pediu socorro a Teglat-Falasar, rei da
Assíria (745-727). O socorro veio logo, mas o preço pago foi caro.
Judá acabou se tornando um vassalo da Assíria (Is 8,5-10; 2Rs
16,79.17-18). No tempo de Ezequias aconteceu o cerco de Jerusalém
pelos assírios, então comandados pelo rei Senaquerib (704-681).
Dessa vez Isaías parecia desinteressado na questão. Mas sua
imparcialidade foi sacudida diante das insolências proferidas pelo
copeiro-mor de Senaquerib, que desafiava a confiança do rei e da
população no Senhor para salvar a cidade. Na visão do invasor, o
Senhor não poderia salvar Jerusalém, assim como os deuses do Egito
e de outras cidades-estados da região não salvaram seus habitantes
do jugo assírio (2Rs 18,33-35; 19,10-13). Isaías não pôde
calar-se diante dessa afronta ao que ele considerava a atitude mais
necessária do povo, que era a confiança no Senhor. Nas palavras do
copeiro-mor, o Senhor não passaria de um "idolozinho" a
mais, entre tantos que não tiveram força para evitar a vitória
assíria. Procurado pelos funcionários do rei, Isaías, mais uma
vez, vaticinou a derrocada do inimigo: a cidade não seria invadida
(2Rs 19,6.21-28.32-34). De fato, o exército de Senaquerib suspendeu
imediatamente o cerco e voltou a Nínive, sua capital. Nunca se soube
ao certo o que teria provocado a retirada repentina do exército
assírio. Mas isso foi interpretado como uma intervenção miraculosa
de Deus (2Rs 19,35; Is 37,33-39). Vendo, porém, a euforia do povo
que festejava a retirada do inimigo, mas não reconhecia nisso um
apelo do Senhor à conversão, Isaías condenou, sem hesitar, essa
atitude. Para ele, aquela euforia toda era sinônimo de excessiva
confiança do povo em si mesmo, como se o Senhor estivesse, de fato,
satisfeito com o que acontecia na cidade, como se tudo estivesse bem
e o povo não precisasse se converter. Por isso Isaías proferiu
contra ele o "oráculo sobre o vale da Visão", decretando
a futura destruição da cidade (Is 22,114). Isaías foi o primeiro
profeta de Judá cujas palavras foram registradas por escrito na
Bíblia, em um livro que leva seu nome. Atualmente esse livro tem 66
capítulos, mas somente os primeiros 39, excetuando-se os 24-27 e
34-35, contêm as palavras do profeta do século VIII, que viveu e
atuou no reino do Sul. Os demais capítulos, inseridos posteriormente
na sua obra, demonstram que Isaías "fez escola", isto é,
sua mensagem encontrou eco na pregação de outros profetas que lhe
seguiram os passos, mesmo após sua morte.[2]
Miqueias
e Sofonias - Outros
profetas desse período, cujos livros são menores, mas não menos
contundentes, criticaram a situação do país, exortando-o à
conversão. Todos eles, no fundo, propunham uma profunda mudança no
estilo de vida que aproximasse mais a sociedade judaica daquele ideal
delineado na Aliança com o Senhor. Assim, temos Miquéias e Sofonias
como porta-vozes da mensagem divina naqueles contextos bastante
complexos nos quais viveu o reino de Judá. Miquéias, analogamente a
Amós, do Norte, denunciava os abusos sociais, sobretudo contra os
camponeses (Mq 2,1-5) do sul. Anunciava a superação do reino de
Davi, já idealizado, pela esperança de um novo rei Messias (Mq
4,1-5; 5,1). Sofonias defendia o lado do povo simples, dos pobres,
daqueles que viviam com retidão e justiça, contra uma sociedade que
privilegiava os ricos e poderosos. Proclamava o "Dia do Senhor"
em Judá como dia de manifestação do seu poder contra a
infidelidade do povo idólatra, dos chefes violentos, dos
comerciantes fraudulentos e dos incrédulos. Fazia um apelo à
conversão, proferindo oráculos contra as nações e contra
Jerusalém. Fez uma promessa de salvação: "rejubila, filha de
Sião, solta gritos de alegria, Israel! O Senhor revogou a tua
sentença, eliminou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no
meio de ti" (Sf 3,14-15).
Hulda
- A
voz das mulheres na profecia: Não podemos esquecer, nesse período,
a significativa atuação da profetisa Hulda. Ela interveio no tempo
de Josias, para confirmar a "autenticidade" das palavras
contidas no Livro da Lei encontrado no Templo e dar seu parecer
favorável à reforma religiosa pretendida pelo rei. As palavras
claras e contundentes de Hulda (2Rs 22,15-20) foram acolhidas pelo
rei como a expressão da própria vontade de Deus, pois, como
profetisa, foi procurada pelos funcionários do rei para "consultar
ao Senhor" (2Rs 22,13). Hulda é importante pelo fato de ser a
única mulher citada na Bíblia que exerceu o ministério profético,
cujas palavras foram registradas por escrito, num livro que não
levou seu nome.
Jeremias
- Jeremias
também deixou marcas profundas na história do reino do Sul, onde
atuou também por cerca de 40 anos. De tantos profetas que previram a
ruína do povo por sua surdez aos "oráculos do Senhor",
Jeremias foi talvez o único que teve a infelicidade de ver acontecer
a desgraça que anunciara. Viveu os momentos mais eufóricos da
reforma religiosa promovida por Josias e também os momentos mais
dramáticos da queda vertiginosa de seu povo, após amor- te do
reformador, até à destruição de Jerusalém e às deportações
para a Babilônia. Jeremias, o escolhido e enviado Jeremias recebeu a
vocação profética ainda bastante jovem, como Isaías (Jr 1,6).
Jeremias quis furtar-se à missão que lhe reservava o Senhor,
certamente por intuir a responsabilidade que ela acarretava, para a
qual não se sentia preparado. Mas Deus mesmo colocou-se como
garantia da eficácia de suas palavras, antecipando seu socorro
diante dos que, com certeza, iriam perseguir o profeta por causa de
sua palavra (Jr 1,8. l7-19). Não é fácil resumir a vida e a
atuação desse profeta tão marcado pelos revezes da história. Suas
atitudes vão de um extremo a outro, como já se delineava nas
palavras de Deus no relato de sua vocação: "Vê! Eu te
constituo, neste dia, sobre as nações e sobre os reinos, para
arrancar e para destruir, para exterminar e para demolir, para
construir e para plantar" (Jr 1.10). Jeremias é o profeta das
contradições. Embora tivesse reconhecido que o Senhor o conhecia e
o consagrara antes de ser concebido no ventre materno (Jr 1,5),
chegou até a amaldiçoar o dia em que nasceu (Jr 20,14-18), num
momento de crise interior. E enquanto todos ansiavam por uma
intervenção do Senhor para salvar o seu povo das mãos de
Nabucodonosor, rei da Babilônia, Jeremias apregoava a rendição ao
dominador estrangeiro, sendo considerado traidor da pátria (Jr
37,13). Isso não significa que Jeremias estivesse de acordo com a
dominação da Babilônia, mas era a única forma de o povo não ser
aniquilado e assim poder manter a sua identidade e sobrevivência, na
certeza e confiança de que um dia também esse poder cairia. E,
então, o resto de Israel poderia reconstruir a sua história. No
início de seu ministério profético, Jeremias apoiou as reformas de
Josias (640-609), assumindo o discurso deuteronomista que
representava o espírito das reformas (Jr 11,2-14). Após a morte de
Josias, ele viu crescer, até se desviar, a valorização dos
preceitos da Aliança referentes ao culto e ao Templo. A reforma de
Josias propunha uma valorização dos preceitos da Lei, mas o povo
levou isso longe demais, supervalorizando a parte ritual e omitindo a
parte ética. No tempo de Joaquim (609-598), o Templo já se tomara
um fetiche para o povo de Judá. Como já vimos antes, Jeremias
condenou veementemente essa perversão do sentido do Templo. Os
textos de Jr7, 1-8,3 e 11,15-17 conservam as críticas do profeta à
instituição do Templo e ao culto desacompanhados da prática da
justiça. A acusação de que o Templo se transformara num "covil
de ladrões" (Jr 7,11) é a expressão mais forte da utilização
de uma instituição que gozava do respaldo de Deus para esconder a
prática da corrupção, contrariando a vontade do Deus que cultuavam
no Templo. O "covil" é o esconderijo que serve de refúgio,
de abrigo e de proteção para os ladrões. É o lugar onde eles se
sentem à vontade, em casa. Por conseguinte, aqueles que frequentam
esse "covil" identificam-se com "ladrões".
Jeremias não teria outra expressão melhor para traçar o perfil dos
dirigentes da nação, sobretudo naquele tempo em que o rei Joaquim
havia aumentado os impostos sobre o povo para pagar o tributo exigido
pelo faraó: nada menos que 200 talentos em ouro e prata (ao todo
6.840 kg!). A denúncia corajosa de Jeremias custou-lhe a liberdade e
quase a própria vida (Jr 18,18; 26,8- 9.11.16 etc.). Tal coragem
repetiu-se no gesto de Jesus, ao expulsar os vendilhões do Templo
(Lc 19,4546). Encontramos um paralelo dessa situação no regime do
Padroado brasileiro, semelhante ao das outras colônias
latino-americanas. A instituição religiosa nas mãos do Estado
colonizador servia de "capa". Escondia a prática do roubo,
do saque do ouro e da prata dos templos e das minas. Encobria a
exploração destruidora dos produtos naturais e da produção
agrícola e industrial dos povos conquistados. Mas esses povos não
eram considerados povos estranhos, senão "súditos" de Sua
Alteza, isto é, cidadãos do reino de Portugal ou da Espanha. Daí a
maior perversidade do sistema: os colonizadores exploravam os povos
dos quais eles pretendiam ser irmãos, pela mesma fé e pelo mesmo
batismo, pela mesma religião que os submetia todos a um só Deus.
Naum
e Habacuque - Naum
dava asas ao sentimento de alegria do povo ao ver a derrota do seu
opressor, a Assíria, cuja capital, Nínive, havia sido tornada pelos
babilônios em 612 a.C. Apesar de pouco ortodoxo, porque parece dizer
"bem feito" a quem está pagando pelo mal que fez, o
profeta ensina que todo opressor terá o seu dia e renova a esperança
do povo não com sentimento de vingança, mas como certeza do juízo
de Deus sobre a história. Habacuque,
entretanto, um pouco mais tarde que Naum, vendo as intenções
conquistadoras dos babilônios, que "puniram" os assírios,
lamenta profundamente o crescimento da violência, da guerra, que só
traz miséria e sofrimento para o povo. Por mais que ficassem
satisfeitos pela vingança contra o opressor, seu desejo mais
profundo era a paz e a concórdia entre os povos.
3.3.
A mensagem dos profetas de hoje
O
endurecimento do coração para a Palavra de Deus sempre provocou
todo tipo de desdobramento: idolatria, sensualidade, egocentrismo,
luta desenfreada pelo poder, descaso para com o sofrimento alheio,
menosprezo ao sábado, etc… Essas foram as razões pelas quais o
mundo enfrentou suas maiores crises. Porém, para cada crise
iminente, Deus providenciou uma maneira para que Seu povo soubesse
quais seriam os passos que o conduziriam e livrariam, bem como, quais
atitudes deveriam ser tomadas. Esse princípio é bem expresso nas
palavras: “Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma sem
ter revelado o Seu segredo aos Seus servos os profetas” (Amós
3:7). Uma das características do povo fiel a Deus no tempo do fim é
a observância dos “mandamentos de Deus” e do “testemunho de
Jesus” (Apocalipse 12:17), definido em Apocalipse 19:10 como o
Espírito de Profecia. Portanto, é natural que procuremos hoje em
dia por profetas verdadeiros. A rejeição aos profetas nos momentos
cruciais da história sempre gerou sérias consequências para o
professo povo de Deus, porque a rejeição de um profeta implica, de
acordo com Lucas 10:16, na rejeição dAquele que o enviou. Caso
reconheçamos em nossos dias Deus falando através de um mensageiro
humano, devemos respeitar a sua relevância e considerar com
seriedade os seus ensinos. Afinal de contas o profeta é um enviado
de Deus para nos abençoar e proteger.
CONCLUSÃO
Por
causa da imaturidade do povo, acabou-se escolhendo um sistema que
iria trazer mais opressão e escravidão, um povo que nunca esqueceu
o que era ser escravo, escolhe servir a um senhor imperfeito e impuro
e com isso se afastar cada vez mais do Senhor Yahweh que os libertara
da opressão do Egito e os trouxera à terra de descanso. E a igreja
contemporânea não se faz diferente, pois cada vez mais a
pós-modernidade nos incita a abandonar a simplicidade para viver uma
vida de “luxos desnecessários”, quando o foco da vida cristã
deveria ser a missão de Cristo, acabamos escolhendo líderes que
atuam mais como monarcas de nossas vidas, do que pastores que nos
apascentam para águas tranqüilas e condutores para um front de
batalha contra o mundo. A proposta de Cristo para sua igreja era a de
que ela pudesse viver a sua imagem e semelhança, tal qual fora dito
no livro de Gênesis, nessa recriação, a igreja deve-se voltar para
os ensinos de Cristo e aprender de sua essência, na palavra e na
ação. Os profetas se levantaram contra o povo de Israel, pois havia
esquecido o que era fundamental no relacionamento com Yahweh, o amor
a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como ti mesmo.
BIBLIOGRAFIAS
4.
ISRAEL:
UMA HISTORIA, ano
de edição: 2018,
autor: Anita
Shapira,
editora: Paz & Terra.
5.Revista
Betel, Ano 28 – nº 108 – 3ª trimestre de 2018, Israel 70
anos, O Chamado de uma nação e o plano divino de redenção.
6.
História de Israel no Antigo Testamento - 2ª Edição revisada,
autor: Samuel J. Schultz, edição 2009.
7.
AS
TRADIÇOES HISTORICAS DE ISRAEL: INTRODUÇAO A HISTORIA DO ANTIGO
TESTAMENTO, autor: Antonio
Gonzalez Lamadrid
, ano
copyright: 1993,
edição: 2ª.
COMENTÁRIOS
ADICIONAIS
Pr
Éder Santos –
Ministério Madureira, Professor da EBD na
Sede da ADTAG – Assembleia de Deus em Taguatinga, Teólogo pela
FTBB e Pós-Graduado em Hermenêutica.
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