HABACUQUE - O JUSTO PELA SUA FÉ VIVERÁ
Lição 09 - 27 de agosto de 2023
TEXTO ÁUREO
“Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.” Habacuque 2.4
VERDADE APLICADA
O discípulo de Jesus vence perseverando em oração, confiando e esperando no agir do Senhor, enquanto cultiva um
viver para a glória de Deus.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
• Apresentar o cenário do profeta Habacuque;
• Explicar que o silêncio de Deus é pedagógico;
• Extrair lições do livro de Habacuque para hoje.
INTRODUÇÃO
O profeta Habacuque, além de trazer encorajamento para tempos difíceis, ensina o cristão a alegrar-se no Senhor também nos tempos de dificuldades.
Comentário Adicional
O livro de Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois em momento algum há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, porém o que se pode ver é um diálogo entre o profeta e Deus. Entre seu texto há no capítulo dois a expressão: "O justo viverá da fé", que mais tarde inspiraria o apóstolo Paulo a escrever a mais teológica de suas cartas, a Carta aos Romanos, que posteriormente inspirou também Martinho Lutero na elaboração das 95 Teses "gatilho" da Reforma Protestante.
1. CONHECENDO O CENÁRIO DO PROFETA HABACUQUE
O profeta Habacuque viveu no reino de Judá, aproximadamente 600 a.C. Nessa época havia uma desordem interna entre o povo, foi um período de grandes incertezas morais e espirituais. Ao mesmo tempo, as nações ao redor de Judá estavam em guerra. A Babilônia estava se fortalecendo cada vez mais sobre as grandes potências que eram a Assíria e o Egito.
Comentário Adicional
Habacuque foi um profeta de Deus, contemporâneo de Jeremias e Sofonias. Seu nome é babilônico e significa "Abraçar o Entendimento". Ele é o oitavo dos doze profetas menores. Há um livro com o seu nome no Antigo Testamento da Bíblia com três capítulos, escrito aproximadamente em 607 a.C. Habacuque entendeu quem é Deus e quem ele é em Deus e Deus nele. Ele pôde se alegrar declarando suas convicções de fé no entendimento de quem sabe que Deus sempre está no controle de todas as coisas.
1.1. Conhecendo um pouco mais o profeta
Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Habacuque. Segundo os estudiosos, o profeta foi contemporâneo de Jeremias, possivelmente presenciou a morte do rei Josias, passou pelo impiedoso reinado de Jeoaquim, pelo exílio de Daniel na Babilônia, pela deportação do rei Joaquim, e, também, pode ter testemunhado a destruição de Jerusalém, evento sobre o qual profetizou com 20 anos de antecedência.
Comentário Adicional
Discute-se a data em que o livro foi escrito, havendo duas hipóteses: 1. o livro foi escrito pouco antes da queda de Nínive em 612 AC; nessa hipótese, os opressores seriam os Assírios; 2. o livro foi escrito entre a Batalha de Carquemis em 605 AC e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C.; nessa hipótese, os opressores seriam os caldeus. Habacuque significa "abraço", e está incluso na subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Menores, sendo um livro de apenas três capítulos. Provavelmente tenha sido escrito no século V a.C.. Habacuque nos sugere que observava a sociedade judaica a partir do Templo, onde possivelmente servia como levita, isto é cantor, ornamentador, prontificador do templo (ver Números 3:6-10). Podemos notar que o capítulo três de seu livro é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento.
1.2. A mensagem do profeta
Habacuque difere de outros profetas no que diz respeito ao seu comissionamento. Ele é que se dirigiu a Deus com seus muitos questionamentos, por causa disso ele teve uma visão da parte do Senhor e recebe uma profecia que ele deveria anunciar aos seus compatriotas: “Então o Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa.” [Hc 2.2]. Em suma, a mensagem de Habacuque foi uma mensagem de conserto para o povo da Aliança, mas também de esperança, quando Deus finalmente restaurasse o remanescente de Judá.
Comentário Adicional
O tema central do livro de Habacuque é a questão do sofrimento e da injustiça no mundo e a resposta de Deus a esses problemas. Habacuque questiona por que Deus permite que os ímpios prosperem, enquanto os justos sofrem, e por que Ele utiliza nações injustas, como os babilônios, para executar Seu juízo. A resposta de Deus a essas perguntas é um dos principais ensinamentos do livro: Deus é soberano e tem um propósito maior em tudo o que acontece, mesmo que isso não seja imediatamente aparente aos seres humanos. Deus afirma que, no devido tempo, os ímpios receberão seu castigo, enquanto os justos serão recompensados. A mensagem central do livro de Habacuque pode ser resumida na célebre frase "o justo viverá pela sua fé" (Habacuque 2:4). Essa ideia enfatiza a importância da confiança em Deus e da paciência diante das adversidades.
1.3. O ousado questionamento do profeta
O profeta Habacuque não conseguia entender a “demora” de Deus em punir os perversos que oprimiam ao Seu povo e, também, a infidelidade do povo de Deus. Algumas palavras de Habacuque dão a exata ideia do que acontecia naquela sociedade: “violência, iniquidade, opressão, destruição, contenda, litígio, a lei se afrouxa, a justiça nunca se manifesta, o ímpio cerca o justo, a justiça se manifesta distorcida” [Hc 1.2-4]. Ao observar tudo isso acontecendo o profeta se enche de coragem e se dirige a Deus, não com desrespeito ou arrogância, mas com sinceridade de coração, expondo-lhe as dúvidas que lhe angustiavam. Conhecedor do caráter de Deus, sabia que não havia qualquer concordância entre Deus e tudo que ele contemplava: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contemplar; por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” [Hc 1.13].
Comentário Adicional
Uma característica do profeta fica muito clara ao longo do livro: Habacuque era muito questionador. E seu livro já começa com uma indagação: “Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão?” Hc 1:2-3a. O profeta mostrou um quadro de violência e injustiça em Jerusalém e perguntou até quando aquilo aconteceria com o povo escolhido por Deus. Habacuque pediu por justiça e livramento ao povo, entretanto, a resposta de Deus não foi exatamente o que ele esperava. Primeiramente, Deus concordou com a situação exposta, o povo injusto e violento precisava ser castigado e a determinação de Deus é que fossem seriamente punidos pelos caldeus (Hc 1:5). O povo caldeu era amargo e impetuoso (Hc 1:6), destruíram várias, possuíam o seu próprio direito, ou seja, seguiam as decisões de acordo com as suas vontades e, além disso, faziam de seu poder, um deus (Hc 1:7-11). Vendo a determinação de Deus, o profeta Habacuque tentou mais uma vez interceder pelo povo, questionando a decisão do Senhor. “Não és tu desde a eternidade, ó SENHOR, meu Deus, ó meu Santo? Não morreremos. Ó SENHOR, para executar juízo, puseste aquele povo; tu, ó Rocha, o fundaste para servir de disciplina.” Hc 1:12. Nos versículos 12 a 17 do primeiro capítulo, há uma tentativa do profeta de convencer Deus de aquela decisão não era a melhor para Judá. Ele argumentou mostrando que Deus não poderia destruir seu povo escolhido e, além disso, Deus não usaria um povo ímpio para punir um povo relativamente justo como Judá. O profeta não agiu com arrogância e prepotência, mas esperou para ouvir a resposta de Deus aos seus questionamentos. Entretanto, o Senhor respondeu: “Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.” Hc 2:2-4. E após esta declaração, o Senhor ainda detalhou em 15 versículos (Hc 2:5-20) todas as coisas que ocorreria com os caldeus em virtude daqueles que se excederam na disciplina para com o povo de Deus, profecia conhecida como os cinco ais dos caldeus. Depois de duas respostas de Deus, Habacuque foi iluminado. O Senhor lhe assegurou que a palavra iria se cumprir, mas ele precisava ter fé.
2. O SILÊNCIO DE DEUS
Por que Deus fica em silêncio quando mais precisamos ouvir a Sua voz? Por vezes, por mais contraditório que pareça, são em situações assim como a vivida pelo profeta Habacuque é que há um verdadeiro encontro entre o homem e Deus. O silêncio de Deus também é pedagógico e pode trazer respostas que não se consegue perceber se a aflição superar a fé.
Comentário Adicional
Deus se cala porque Ele sabe o tempo certo para tudo, até para falar conosco. Todo crente passa por tempos quando não ouve a voz de Deus, mas essa fase não dura para sempre. No tempo certo, Deus fala! Deus pode ter muitas razões para se calar em certos momentos. Cada situação é diferente, mas podemos confiar que Deus está no controle (Romanos 8:28). Deus trabalha no silêncio, pois mesmo nos momentos em que Ele cala, está trabalhando nas nossas vidas. De certa forma, o silêncio de Deus também é uma resposta. Muitas vezes, quando Deus se cala Ele está dizendo “espera”. Também pode ser um tempo para aplicar aquilo que já aprendemos de Deus, lembrando as coisas que já ouvimos. Outras vezes, pode ser um sinal que precisamos mudar algo em nós. Mesmo sem saber a razão do silêncio, o tempo quando Deus se cala é um tempo para usar a fé. A fé nos sustenta quando não ouvimos nada (Hebreus 11:1). Cremos que Deus existe e continua trabalhando nas nossas vidas, até quando está calado?
2.1 Até quando?
A pergunta feita por Habacuque com a expressão “até quando” continua sendo feita por diferentes pessoas e em diferentes ocasiões. “Até quando?” é o desabafo daquele que busca uma resposta que o ajude a continuar firme independente das circunstâncias. Somente Deus tem e é a resposta que todos precisam, seja qual for a pergunta. Por isso é imprescindível que num ato de fé e confiança na soberania, no amor e na misericórdia de Deus, entreguemos a Ele, sem reservas, todo e qualquer questionamento que insista em perturbar o coração e fragilizar a fé.
Comentário Adicional
A mensagem de Habacuque nos lembra do livro de Jó, pois trata de um problema parecido: como explicar o sofrimento dos justos? No caso de Habacuque, o profeta começa com a injustiça e violência dominando na sua própria nação. Ele clama a Deus pedindo justiça para proteger as vítimas inocentes: “Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me ouvirás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostra a iniquidade e me faz ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e a questão se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida” (Habacuque 1:2-4). Mas a resposta de Deus assustou o profeta! Deus lhe disse, basicamente, “Você tem razão. Vejo estas injustiças e já estou trazendo os babilônios para castigar este povo rebelde”. Não foi esta a resposta que Habacuque esperava, pois ainda considerava seu povo de Judá menos ruim que a Babilônia! Habacuque fez uma segunda série de perguntas ao Senhor, choroso como poderia usar uma nação tão má como a Babilônia para julgar seu povo. Disse que Deus estaria se calando e deixando o perverso devorar “aquele que é mais justo do que ele” (Habacuque 1:13). Na resposta divina, o Senhor frisou dois fatos importantes de contraste entre atitudes de pessoas: (1) “o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:4), um princípio citado várias vezes no Novo Testamento; e (2) “tampouco permanece o arrogante” (Habacuque 2:5). Nesta resposta, Deus cita a soberba da Babilônia, que confiava nos seus ídolos e no seu poder militar, dizendo que traria a justiça contra aquela nação. Mais um fato fundamental é frisado no final do capítulo 2: Deus está no controle! “O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Habacuque 2:20). Habacuque aprendeu esta importante lição, e se calou esperando a justiça divina. Sua inquietação e angústia foram atribuídas pela confiança e fé: “O Senhor Deus é a minha fortaleza” (Habacuque 3:19).
2.2 Por que Deus não intervém?
Ao ler o livro de Habacuque, é possível perceber pouco a pouco o quanto esse profeta, corajosamente, expôs sua humanidade. Muitas perguntas e pouco entendimento da ação de Deus sobre questões em que as pessoas O afrontam com seu estilo de vida: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contem -plar.” [Hc 1.13]. Diante dos acontecimentos que fogem ao entendimento humano e parecem claramente injustos e sem sentido, a impotência aflora e surge naturalmente a pergunta sobre como Deus pode permitir que o mal se alastre. Por que Deus não intervém? A limitação humana é um obstáculo à clara compreensão dos planos de Deus em toda a sua extensão.
Comentário Adicional
Tu és de olhos mais puros do que contemplar o mal – O profeta repete sua queixa (como pensamentos perturbadores estão acostumados a voltar, depois de serem repelidos), a fim de responder mais fortemente. Todo pecado é odioso aos olhos de Deus e, em Sua Santa Sabedoria, Ele não pode suportar “olhar para a iniquidade”. À medida que o homem se afasta de visões repugnantes, a aversão de Deus ao mal é retratada por Ele não ser capaz de “olhar para ele”. Se Ele olhou para eles, eles deveriam perecer Salmo 104: 32 . A luz não pode coexistir com as trevas, fogo com água, calor com frio, deformidade com beleza, sujeira com doçura, nem o pecado é compatível com a Presença de Deus, exceto como seu juiz e punidor. Não podes olhar. Existe toda uma contradição entre Deus e profanidade. E ainda, Portanto , vês a vista, como em Tua vista completa faz o contraste mais forte. Deus não pode suportar “olhar para a iniquidade” ( ?? ), e, no entanto, Ele não apenas faz isso, mas a contempla, a contempla e permanece em silêncio) sim, como parece, com favor, lhes conceder os bens de nesta vida, honra, glória, filhos, riquezas, como diz o salmista Salmo 73:12 ; “Eis que estes são os ímpios, que prosperam no mundo, aumentam em riqueza?” Por que você olha para “aqueles que traem com traição, mantêm a tua língua”, como se fosse uma restrição sobre si mesmo e sobre o seu próprio atributo da justiça, “quando o ímpio devora o homem que é mais justo do que ele?” Salmo 143: 2 “aos olhos de Deus ninguém pode ser justificado;” e, em certo sentido, Sodoma e Gomorra eram menos injustas que Jerusalém e Mateus 10:15 ; Mateus 11:24 ; Marcos 6:11 ; Lucas 10:12 “será mais tolerável para eles no dia do julgamento”, porque pecaram contra menos luz; contudo, os pecados reais dos caldeus foram maiores que os de Jerusalém, e o mal de Satanás é maior que o daqueles que são suas presas.
2.3 Oração como via de intimidade com Deus
Diante do quadro da iminente invasão babilônica, um povo injusto e cruel, Habacuque questiona porque Deus nada fizera [Hc 1.13,17]. Sem obter qualquer resposta, o profeta decide subir a uma fortaleza (torre de vigia) para aguardar uma resposta de Deus, agora, em oração: “Pôr-me-ei na minha torre de vigia…para ver o que me dirá o Senhor.” [Hc 2.1]. Essa atitude foi um verdadeiro exercício de fé. Finalmente o profeta supera seu estado de perplexidade e angústias e toma uma decisão que, de fato, pode mudar todo aquele quadro de expectativas não correspondidas. Ele encontrou na oração uma via de intimidade com Deus. Só então Deus o responde e o convida a aguardar a promessa com esperança, ainda que demore. A resposta de Deus é um convite a viver pela fé [Hc 2.4], até que o livramento de Sua parte chegasse.
Comentário Adicional
O profeta Habacuque recolhe-se e põe-se em guarda. Fiado em suas considerações, Habacuque põe se em guarda por ser um dos atalaia em Israel. Ele espera pela resposta divina e demonstra ansiedade pela resposta que Deus haveria de apresentar as suas queixas. Caso ele fosse interpelado, queria ter uma resposta (v. 1). Habacuque obteve resposta de Deus! Deus ordena que ele a escrevesse sobre tábuas a mensagem, para que as pessoas pudessem ler, mesmo quando passassem correndo, ou seja, em letras grandes (v. 2). O efeito da mensagem causa um trocadilho, visto que, faria quem lesse correr, ou seja: “para que possa correr aquele que a lê”. As tábuas utilizadas eram tijolos de argila, finos como tábuas ou ardósia. Elas eram utilizadas na Babilônia. A primeira resposta de Deus é sobre o tempo em que Deus haveria de cumprir a visão dada a Habacuque (Hc 1:2 e Hc 2:3 ). Após considerar as palavra do Senhor (Hc 3:2 ), Habacuque percebeu que não havia diferença entre os homens de Judá e os incircuncisos caldeus. Os caldeus ajuntavam para si as nações através da força e violência, e o povo de Israel procuravam realizar o mesmo intento através de alianças políticas. Ambos não confiavam em Deus, e atribuíam as suas conquistas as suas estratégias. Os caldeus estratégias militares, e os israelenses, estratégias políticas. Habacuque 2: 4 é citado três vezes no Novo Testamento pelos apóstolos, dada a importância desta visão concedida ao profeta Habacuque (Rm 1:17 ; Gl 3:11 e Hb 10:38 ). Em Romanos Paulo demonstra que através do evangelho o homem descobre a justiça de Deus, visto que o evangelho é poder de Deus para a salvação, ou seja, recebem poder para serem feitos (criados) filhos de Deus pela fé em Cristo (Jo 1:12 -13). Como o evangelho é a palavra da fé, a fé que uma vez foi dada aos santos, temos que o justo viverá da palavra de Deus, ou seja da fé ( Dt 8:3 ; Mt 4:4 ). Habacuque 2: 4 apresenta a mesma ideia de Deuteronômio 8: 3.
3. HABACUQUE PARA HOJE
Embora, inicialmente, Habacuque não conseguisse encontrar qualquer explicação que o ajudasse na compreensão da continuidade da opressão e da prosperidade dos seus inimigos sobre o seu povo, apesar de suas queixas e inconformismo, ele foi capaz de aprender lições que o fizeram ressignificar seu relacionamento com Deus.
Comentário Adicional
O profeta Habacuque havia questionado o Senhor por não considerar que:
• O povo de Israel era nação rebelde ( Dt 9:6 );
• Não foi a justiça de Israel que os fez habitar a terra prometida ( Dt 9:4 ); • Deus não se afeiçoou de Israel e os escolheu por eles terem algum mérito, antes porque o Senhor os amava, ou seja, para fazer cumprir o juramento que foi feito a Abraão (Dt 7:7 - 8);
• Somente aqueles que circuncidasse o coração, ou seja, que não fossem de dura cerviz, seriam justos diante de Deus ( Dt 10:16 );
• A circuncisão do prepúcio do coração só é possível através da fé (palavra de Deus), e é possível a homens e mulheres, ricos e pobres, judeus e estrangeiros, etc., pois Deus não faz acepção de pessoas.
3.1 Contentamento apesar do sofrimento
Conviver com infortúnios, sofrimentos e provações, apesar de fazer parte da caminhada de todo ser humano, pode levar qualquer pessoa à armadilha da murmuração e da amargura. Habacuque ensina que duas importantes atitudes ajudam a escapar desse caminho de desânimo e desesperança: “…ainda que… Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.” [Hc 3.17-18]. Eis aí a receita: alegria no Senhor e louvor a Deus (exultar). Olhar para Deus e não para as circunstâncias é o segredo de encontrar contentamento apesar do sofrimento.
Comentário Adicional
Nossa confiança deve estar tão concentrada em Deus. Assim, perceberemos claramente que durante as lutas, Ele mesmo nos dará força para prosseguir. Temos de fugir da idolatria. Não podemos confiar em nossa própria fé ou em nossa oração, mas sim naquele que é o Autor da nossa fé e que, por graça, ouve a nossa oração. Habacuque vislumbra a imagem de Deus como um gigante trovão que marcha através da terra para esmagar o pecado e trazer a salvação a Israel. Ele confia que Deus fará isso novamente. A seção final do capítulo 3 (versículos 16-19) revela a paz e confiança de Habacuque em seu ministério profético, independentemente das circunstâncias externas. Ele coloca sua fé em Deus e se alegra Nele, confiante de que a força e a vitória vêm do Senhor. Esta poderosa mensagem de confiança e fé em Deus é uma fonte de encorajamento e inspiração para todos nós hoje.
3.2 O cântico de Habacuque
Finalmente, Habacuque caminha em direção ao reconhecimento da soberania de Deus. O profeta não recebeu uma resposta direta sobre os problemas mencionados por ele, assim como aconteceu também com Jó. O cântico de Habacuque foi escrito mesmo que as mudanças almejadas por ele não tivessem acontecido. As questões sociais que lhe trouxeram tanto incômodo não desapareceram, o nível espiritual do povo não se elevou, as crises socioeconômicas não deixaram de existir, nem a opressão do povo babilônico enfraqueceu ou acabou. Nada naquele cenário foi mudado, a não ser o próprio profeta. Habacuque clama por misericórdia, pelo avivamento da obra do Senhor e sua manutenção ao longo dos anos [Hc 3.2], Foi ele quem experimentou a maior e melhor de todas as mudanças: deixou de ser um homem movido pela angústia e tornou-se um homem confiante na soberania de Deus.
Comentário Adicional
Após receber tão grandiosa e terrível revelação vinda de Deus, Habacuque faz uma maravilhosa oração, em forma de canto, na qual ele clama por misericórdia, pelo avivamento da obra do Senhor e sua manutenção ao longo dos anos. Habacuque então adora ao Senhor exaltando seu grande poder, mas também reconhecendo sua própria insignificância diante de tal grandiosidade, e confessando comovido em seu íntimo e tremendo diante da angústia e desolação que estava por vir. Por fim, em um final emocionante, o profeta se afirma nas promessas de Deus e em seu caráter imutável, se alegrando e declarando sua confiança no Deus da salvação, que sustenta o seu povo, apesar da destruição que se aproximava.
3.3 O justo viverá da sua fé
“Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.” [Hc 2.4]. Duas características importantes se encontram nesta declaração. A primeira é que o soberbo confia em si, e a segunda é que o justo vive pela sua fé, ou seja ele afirma a necessidade de o cristão permanecer fiel e viver diferentemente dos padrões impostos pelo mundo. Os servos de Deus não devem promover ou compactuar com a maldade, com a violência, com a ganância, com a libertinagem ou com a idolatria. Ao final de tudo o ímpio será condenado e o justo será preservado por causa da sua confiança no Senhor.
Comentário Adicional
Uma das frases mais significativas da soteriologia neotestamentária, o justo viverá da fé, tem sua origem num pequeno livro profético da Bíblia Hebraica. Habacuque 2:4 é com certeza um dos versos mais importantes da tradição teológica da igreja cristã. Na verdade, trata-se também de um texto extremamente importante para a compreensão do próprio livro de Habacuque, muito provavelmente escrito entre 605-597 a.C. Podemos dizer que este é o texto central da obra do profeta que viu a queda de Judá na ocasião da invasão neobabilônica. Todavia, ainda que pouca gente possa imaginar, Habacuque 2:4 apresenta muitas dificuldades de compreensão nos manuscritos antigos. No entanto, se queremos fazer boa teologia, é necessário que estudemos com atenção as questões linguísticas e teológicas. Vejamos duas alternativas de tradução conhecidas: “Eis o soberbo! A sua alma não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá”. (Versão Revisada – Juerp) “Escreva: O perverso está cheio de orgulho; os desejos dele não são bons; mas o justo viverá pela sua fidelidade”. O texto hebraico de Habacuque (Texto Massorético) diz literalmente no início do versículo: “eis que está inchada”. O verbo traduzido por essa frase é ‘uplâ, aparece na forma plural e não apresenta sujeito. Aparentemente o sujeito caiu da frase, conforme alguns estudiosos. Todavia, por causa do contraste com a outra metade do versículo, observa-se que é necessário que o verbo seja uma referência ao ímpio. Portanto, poucos exegetas duvidam de que o sentido contextual aqui parece ser, em sintonia com as melhores traduções: “o perverso está cheio de orgulho (envaidecido)”. A próxima frase do verso diz literalmente: “sua alma não é reta nele”. É muito provável que o termo “alma” (nephesh), tão rico semanticamente no hebraico, seja uma referência às intenções do perverso. Portanto, “seu desejo não é correto” (ou seja, é mau) capta adequadamente a ideia do original. A parte final do versículo fala do justo. O texto diz literalmente que ele “viverá” pela sua “fidelidade”. É mais difícil especificar o significado exato de “viverá” aqui. Dentre as várias alternativas, no contexto, cabe a ideia mais adequada de “ser preservado, sobreviver”, já que estamos falando da invasão dos babilônios em Judá. No entanto, a frase pode englobar significado mais amplo. Mas, no caso do termo central do texto, “fidelidade” (’emûnâ) há uma grande discussão. Muitas traduções clássicas preferem traduzir o termo hebraico por “fé” (Revisada, Corrigida, Atualizada). A origem da opção “fé” está ligada ao enfoque hermenêutico dado pela antiga versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta (LXX) (pistis). Esse texto grego depois foi citado no Novo Testamento e utilizado no contexto da igreja primitiva. É usado por Paulo (Romanos 1:17; Gálatas 3:11) e pelo autor de Hebreus (10:38). Naturalmente, cada autor neotestamentário faz uso do texto de Habacuque em um novo contexto, adaptando-o para uma nova situação de argumentação. Portanto, é absolutamente plausível e compreensível que o enfoque na fé seja um pouco distinto da ideia original de Habacuque. Isso é até mesmo necessário. Não há dúvida de que no contexto original de Habacuque o sentido do termo é “fidelidade”. Na verdade, nem existe qualquer contradição da ideia, afinal de contas “fidelidade” é a maneira concreta de expressão da “fé”, termo mais abstrato. O pensamento hebraico trabalha com ideias concretas de modo que fé e fidelidade são as duas faces de uma só realidade. Todavia, há outra diferença significativa na Septuaginta, onde aparece um sufixo pronominal de primeira pessoa no substantivo traduzido por “fidelidade”. Parece ter havido apenas uma confusão entre duas letras hebraicas muito semelhantes: um vav e um yod. Assim, em vez de be’emûnatô (Texto Massorético) a Septuaginta leu be’emûnatî. Essa pequena diferença faz com que o texto seja lido de modo diferente. Apesar de pequena, a mudança altera significativamente a mensagem central do profeta. Conforme a Septuaginta, o justo é preservado pela fidelidade de Deus, e não por mostrar fidelidade para com Deus. Assim, a Septuaginta traz: O justo viverá pela minha fidelidade. Essa mudança não é acompanhada pelas citações do Novo Testamento. Todavia, a citação de Hebreus 10:38 apresenta “o meu justo”, uma variação que chama a atenção. Mas, não considera a ideia de o justo viver por “minha fidelidade” (de Deus). Diante de todas essas informações e da peculiaridade dos contextos, devemos seguir o texto hebraico e traduzi-lo à luz das observações mencionadas; assim, chegamos à seguinte tradução: Escreva: o perverso está cheio de orgulho; o desejo dele não é correto; mas o justo será preservado pela sua fidelidade/fé. No uso paulino do texto de Habacuque, pode-se entender a relação entre os dois contextos. Assim como no juízo divino, na ocasião da queda de Judá, o justo seria preservado por sua fé comprovada (fidelidade de quem crê), agora também, com a vinda do Messias Jesus, o mesmo princípio que atuou em toda a história bíblica está em ação. A vida, em seu sentido pleno, tem prosseguimento e continuidade através da confiança e dependência de Deus, manifestada concretamente. Nesse novo contexto, Paulo, para enfatizar o princípio prefere nem explicitar o pronome (desnecessário), afirmando que o “justo viverá pela fé”.
Credito do comentário: Luiz Sayão - escritor, linguista e mestre em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo.
CONCLUSÃO
Diante das mazelas que nos cercam, muitos tendem a perder a esperança e a fé em Deus, que tem o controle de todos os acontecimentos. A mensagem do profeta Habacuque nos serve de advertência a sempre mantermos nossa fé na Palavra de Deus, jamais nas circunstâncias.
Comentário Adicional
O profeta foi encarregado de alertar o povo sobre o julgamento iminente de Deus e exortá-los a arrepender-se e voltar-se para Ele. A mensagem de Habacuque é uma mistura de lamentação e esperança, pois ele se preocupa com a justiça de Deus, mas também confia em sua fidelidade e misericórdia. Habacuque nos ensina que a missão de Deus encara a vida real, a presença do mal e as distorções da mentira, mas permanece compromissada com a verdade e com a esperança - servimos ao Deus justo e vivo. A verdadeira vocação profética não se rende aos jogos de poder, manipulação e idolatria. Toda a oração encontrada no capítulo 3 é uma forma de salmo, bastante conhecida por um chamado profético que Habacuque fala diante de Deus. As palavras conclamadas dele é pedindo que Deus fortaleça a esperança no Senhor. São palavras de sabedoria que nos fazem refletir mais sobre quem somos diante do Pai.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS
Pr Éder Santos - ADTAG
SEDE. Mestre em Teologia. Graduado em Teologia. Pós-graduado em
Hermenêutica. Especialização em Filosofia da Religião. Coordenador do
Curso de Teologia na ISCON.
3 comentários:
Excelente comentário pastor Éder será um grande recurso para nos auxiliar na compreensão da lição. Que Deus recompense o seu esforço e continue abençoando o seu ministério!
Muito bom!
Parabéns pastor muito bom seus ensinos Deus abençoe sua vida
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