LIDANDO COM A INSTABILIDADE E
HIPERSENSIBILIDADE GENERALIZADAS
(Lição 08 –
24 de fevereiro de 2019)
TEXTO
ÁUREO
“Então, me
invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
VERDADE
APLICADA
Um ambiente
repleto de oração, adoração e amor fraternal muito contribui para produzir
equilíbrio na vida do discípulo de Cristo.
· Revelar o que é o Borderline;
· Mostrar os riscos da imprudência causada pelo
Borderline;
· Ensinar como tratar o Borderline.
TEXTO
DE REFERÊNCIA
1
Samuel 25.10 - E Nabal
respondeu aos criados de Davi e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé?
Muitos servos há hoje, e cada um foge a seu senhor.
1 Samuel 25.11 - Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei de onde vêm?
1 Samuel 25.11 - Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei de onde vêm?
1
Samuel 25.37 - Sucedeu,
pois, que pela manhã, havendo já saído de Nabal o vinho, sua mulher lhe deu a
entender aquelas palavras; e se amorteceu nele o seu coração, e ficou ele como
pedra.
INTRODUÇÃO
Neste ponto
do nosso estudo sobre as enfermidades da alma, iremos abordar o Transtorno de
Personalidade Borderline (BDL) também conhecida como Transtorno de
Personalidade Limítrofe. Conforme afirmam os estudiosos da psiquiatria, como
acontece sempre com outros diagnósticos, o termo Transtorno
Borderline tem uma longa história, passando por diversos conceitos e
denominações ao logo do tempo. A primeira vez que aparece o termo borderline é
em 1884. Nesse ano, Hughes (psiquiatra inglês) designa assim aos
estados borderline da loucura, definindo essas pessoas que passaram toda sua
vida de um lado a outro da linha da sanidade (basicamente, os pacientes
apresentam uma alteração na fronteira (ou na borda) entre a neurose e a
psicose). Alguns autores da época usavam esse diagnóstico quando havia sintomas
neuróticos graves. O psiquiatra Thyago Azevedo defini que o Transtorno de
Personalidade Borderline é uma condição mental grave e complexa cujos sintomas
instáveis podem invadir o indivíduo de modo súbito, caótico, avassalador e
desenfreado. Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais 5ª Ed. 2013), o Transtorno de Personalidade Borderline envolve um
padrão de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos,
e de impulsividade acentuada que surge no começo da vida adulta e está presente
em vários contextos. Por se tratar basicamente de um distúrbio caracterizado
por alterações do humor, comportamentos e relacionamentos instáveis, tais
características faz do Transtorno de Personalidade Borderline, bem parecido com
o último transtorno que estudamos anteriormente (Bipolaridade) e outro
considerado também bastante grave (Esquizofrenia). Os efeitos do BDL que
sobretudo modificam o humor e o comportamento, prejudicam em muito a vida do
portador da enfermidade, afetando substancialmente também, aqueles que estão em
seu entorno.
1.
BORDERLINE E BIPOLARIDADE
A
psicanalista Sílvia Marques explica que muitas pessoas com Transtorno de
Personalidade Borderline são diagnosticadas como bipolares. O erro é comum
porque os dois transtornos, apesar de diferentes, apresentam sintomas muito
semelhantes, que podem gerar dúvidas tanto nas pessoas que convivem com o portador
do transtorno como em especialistas do comportamento em fazer o diagnóstico. Apesar
das enfermidades serem distintas, mas apresentarem sintomas parecidos, não é
incomum que um indivíduo apresente ambos os transtornos (Borderline e
Bipolaridade), tornando o caso potencialmente mais grave!
1.1. As semelhanças entre Borderline e
Bipolaridade
Como já
vimos anteriormente, o Transtorno Bipolar ou Bipolaridade é uma doença mental,
que consiste na brusca mudança de humor. A pessoa passa de uma fase eufórica
para outra depressiva ou de uma depressiva para outra eufórica sem motivo
aparente. A bipolaridade é classificada como um tipo de psicose e o seu
portador pode ser muito beneficiado com o uso de medicamentos mais a terapia.
Os depressivos crônicos são considerados bipolares. A Dr. Silvia Marques diz
que o transtorno de Personalidade Borderline é um pouco mais complexo pois como
o próprio nome diz, trata-se da personalidade da pessoa. É o jeito da pessoa
ser e ver o mundo. Medicamentos podem ajudar um Borderline, mas a terapia é
muito mais eficaz neste tipo de quadro. Já na bipolaridade, o uso de
medicamentos provoca uma resposta muito maior. O Borderline não é simplesmente
alguém que sofre oscilações bruscas de humor. Ele é dotado de uma personalidade
fluida, mal delineada e assim como os líquidos, acabam muitas vezes tomando a
forma do recipiente. Como assim? Se uma mulher carnívora começa a namorar um
vegetariano, ela deixa de comer carne. Mas, se logo em seguida, se apaixonar
pelo dono de uma churrascaria, passa a comer carne novamente. Ou se torna
religiosa ao extremo ao namorar um pastor ou resolve aprender a surfar porque
se encantou por um surfista. O exemplo utilizando o sexo feminino é devido a
estatística apontar que cerca de 75% a 76% dos portadores deste transtorno são
mulheres, justamente por este sexo ser mais emocional e o homem ser mais
racional. Enquanto os surtos do bipolar alteram o seu humor em uma frequência
maior, levando de um extremo a outro por um período de dias até meses ou anos,
os que sofrem de Borderline tem esta frequência periódica reduzida a segundos e
minutos, quando muito, algumas horas! A Dr. Sílvia Marques afirma que muitas
vezes os transtornos são confundidos porque além dos sintomas em comum já
vistos, como por exemplo, a mudança brusca de humor, ainda há uma excessiva
carência afetiva, o descontrole emocional que pode acarretar em surtos
psicóticos. Embora ambos os transtornos apresentem como sintoma a carência
afetiva, esta é mais forte nos Borderline, pois como possuem uma personalidade
mal delineada, se apegam excessivamente às pessoas que amam, principalmente ao
parceiro amoroso. Por fim, existe também uma tendência a excessos nos dois
transtornos, como abuso de álcool e outras substâncias. Ambos são graves e
geram muito sofrimento para quem os têm e para quem convive, mas são tratáveis.
Ninguém deixará de ser Bipolar ou Borderline, mas podem viver sob controle,
podem aprender a lidar melhor com as emoções. Diante de qualquer desconfiança,
é recomendável buscar ajuda profissional para estabelecer um diagnóstico. Mas
vale ressaltar que leva um tempo para se chegar a um parecer. O pastor Israel
Maia pontua que as igrejas, por experimentarem o crescimento em suas fileiras,
também tem tido a experiência de lidar cada vez mais com pessoas portadoras
deste transtorno e nos cabe lidar sempre da melhor forma com tais casos,
evitando exposição e julgamentos precipitados por falta de conhecimento. Como
cristãos, paralelamente a ajuda profissional, é nosso dever buscarmos em Deus,
recursos que possam auxiliar a pessoa doente e a Palavra, certamente será de
grande proveito para todo e qualquer caso, inclusive para aqueles que padecem
do Transtorno de Personalidade Borderline, pois vivifica (Sl 119.49.50) e traz
esperança (Rm 15.4).
1.2. A dificuldade de gerenciar a
autoimagem
O
termo “Borderline” significa “fronteiriço” na língua inglesa. Para
alguns estudiosos da área, o termo vem pelo fato de o Borderline ser
mais um “jeito de ser” disfuncional do que uma doença propriamente dita. Porém,
para muitos outros, o Transtorno da Personalidade Borderline é uma doença
mental caracterizada por uma perturbação da personalidade que provoca
instabilidade emocional, sentimento de vazio interno, desregulação afetiva e
uma série de outros sintomas que levam a diversos comportamentos impulsivos e
perigosos. Essas variações da personalidade, por óbvio, dificultam o
gerenciamento da autoimagem do indivíduo, pois, ora aparenta dócil, ora o
oposto, complicando assim, as relações. Os psiquiatras afirmam que esta
característica do portador da Borderline é uma perturbação para a sua
identidade pessoal, isto é, pode haver um distúrbio de identidade caracterizado
por uma autoimagem ou sentimento da mesma acentuada e persistentemente
instável. Mudanças súbitas e dramáticas são observadas na autoimagem,
caracterizadas por objetivos, valores e aspirações profissionais em constante
mudança. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca
da carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Esses indivíduos
podem mudar subitamente do papel de uma pessoa suplicante e carente de auxílio
para um vingador implacável de maus tratos passados. O Borderline tem uma
grande dificuldade em se definir, em saber quem é. Tal condição o deixa
extremamente confuso. O Borderline também está sujeito a exuberantes
manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções
como o amor e ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado,
alegria efusiva e tristeza profunda, tais manifestações, certamente trazem
sérios prejuízos a autoimagem do indivíduo, dificultando a vida profissional e
todas as esferas de relacionamentos. A vida conjugal com essas pessoas pode ser
muito problemática, pois, ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e se
confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de
maltratá-lo cruelmente. A união com Cristo e com os irmãos (Sl 133) desenvolve
a nossa fé e robustece a nossa esperança (Jr 17.7). A fé, além de propiciar a
nossa salvação em Cristo (2Tm 3.15), também atesta que por ela, podemos
conquistar muitas outras bênçãos, inclusive o alívio ou a cura definitiva de
quaisquer enfermidades (At 14.9). Por outro lado, a esperança é o combustível
que mantém o fogo aceso de que o Senhor, poderá fazer tudo por nós; a esperança
sempre deixa as portas abertas para que as possibilidades aconteçam (Jó 14.7).
1.3. Lidando com os portadores de BDL
Uma
classificação bastante didática divide o Transtorno
Borderline em 4 grupos clínicos:
Grupo A:
Borderline com predomínio de características esquizóides e/ou paranóides, mais
próxima das psicoses;
Grupo B:
Borderline com predomínio de características distímicas e afetivas;
Grupo C:
Borderline com predomínio de características anti-sociais e perversas
(corresponderiam ao grupo de Transtorno de Pessoalidade Borderline,
propriamente dito, satisfazendo quase todos os critérios do DSM IV);
Grupo D:
Borderline com predomínio de características neuróticas (obsessivo-compulsivas,
histéricas e fóbicas) graves.
Esta
classificação tem objetivo mais didático que prático, porquanto na prática
cotidiana observamos com maior frequência a ocorrência de casos mistos. Uma das
características do portador do Transtorno de Personalidade Borderline é que os
mesmos são pessoas simpáticas e agradáveis, mas em sua intimidade são
explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis e com tendência a
manipular. Imagine lidar com alguém com esse tipo de transtorno? Difícil!
Sim, muito difícil, no entanto, como servos de Deus, precisamos exercitar o que
disse Paulo aos Coríntios: “[o amor] tudo suporta” (1Co 13.7b).
É com este amor que nos esforçaremos para não afastar tais pessoas do nosso
círculo de comunhão, pois isso resultaria em agravo da enfermidade e por certo,
esta não é a vontade de Deus, já que Ele não faz acepção de pessoas (Rm 2.11);
porque nós faríamos? O cuidado em lidar com pessoas assim deve ser redobrado.
Devemos não apenas demonstrar atenção, mas oferece-la a eles, a fim de que
possam se sentir estimados e incluídos na vida da igreja. O pastor Israel Maia
assinala algo extremamente relevante quando diz que uma enfermidade da alma não
afasta ninguém da salvação proposta por Deus! Cabe aqui mais uma vez, o que
disse Paulo, sobre o fato de Deus não fazer acepção de pessoas, logo, o
evangelho da graça salvadora deve ser pregado a todos, inclusive aos enfermos
da alma! O processo do conhecimento acerca de Deus, deve ser manifesto também a
eles, assim como o caminho para que possam buscar tratamento, a fim de obterem
estabilidade mental e conseguirem compreender adequadamente a mensagem de
salvação que por si mesma produz vida abundante (Jo 10.10).
2.
IMPRUDÊNCIA
CAUSADA PELO BORDERLINE
Imprudência
é diferente de negligência! O negligente é conhecido pela falta de cuidado
e atenção, implica em omissão ou falta de observação do dever, isto é, não age
com o cuidado exigido pela situação. O imprudente por sua vez, tem a ver
com algo mais do que a mera falta de atenção ou cuidado. O ato do
imprudente pode até se revelar de má fé, ou seja, com conhecimento do mal mesmo
assim assumiu o risco de praticá-lo. O Imprudente ainda é aquele que não
toma os cuidados normais que qualquer pessoa tomaria. E por fim,
imprudente é aquele que sabe do grau de risco envolvido na atividade
e mesmo assim acredita que é possível a realização sem prejuízo para
ninguém. É aquele que extrapola os limites da inteligência e
do bom senso e acaba prejudicando, ferindo e pondo outros em sérios riscos por
sua imprudência. Os que sofrem de BDL são classificados como indivíduos
potencialmente imprudentes pois agem por ímpeto que normalmente (no caso
deles), estão desregulados e fora da realidade, incorrendo em eventuais danos a
si mesmos e a outros.
2.1. Gerenciamento de sentimentos
O
Transtorno de Personalidade Borderline provoca explosões de raiva e baixa
autoestima. Pacientes têm sensação parecida com a da morte diante da ameaça da
rejeição e do abandono. A taxa de tentativas de suicídio entre os portadores de
personalidade Borderline é muito alta! Os indivíduos com BDL se esforçam
freneticamente para evitarem um abandono, seja um abandono real ou imaginado. A
perspectiva da separação, perda ou rejeição podem ocasionar profundas
alterações na autoimagem, afeto, cognição e no comportamento. O Borderline vive
exigindo apoio, afeto e amor continuadamente. Sem isso, aflora o temor à
solidão ou a incapacidade de ficar só, em presença de si mesmo. A jornalista
Marcela Franco exemplifica: “Como acontece diariamente, os namorados
combinam de se falar por telefone no horário de sempre, às 20h. Só que, desta
vez, o namorado se atrasa alguns minutos, seja porque o celular ficou sem
bateria, porque estava ocupado, ou porque simplesmente não conferiu o relógio.
O que seria algo completamente normal e perdoável para outras namoradas, neste
caso se torna uma catástrofe. A moça, certa de que o atraso significa que ele a
rejeita, entra em colapso, sofre e, sem saber como lidar com a ansiedade,
cogita até mesmo o suicídio”. É uma situação que poderia ser classificada
facilmente como chilique, exagero ou ataque de ciúmes, mas que, na literatura
médica, aparece como uma séria manifestação de uma doença com causas bem mais
profundas que uma simples insegurança, o indivíduo possivelmente tem
Borderline! Enquanto boa parte da humanidade teme a rejeição, um Borderline
simplesmente tem algo parecido com a sensação de morte ao ser — ao simplesmente
se imaginar — rejeitado ou abandonado. E isso não acontece apenas nos
relacionamentos amorosos, mas, sim, em qualquer nível de envolvimento, seja
familiar, de amizade ou mesmo no trabalho, como explica o psiquiatra Pedro
Antônio Schmidt do Prado Lima, da PUC do Rio Grande do Sul: “Em uma
relação afetiva, a dor do Borderline é absolutamente maior, mas a sensibilidade
existe o tempo todo, em todo tipo de ambiente. São pessoas extremamente
ansiosas, impulsivas, passíveis de um descontrole muito forte diante da ameaça
de ser abandonadas. Com certa frequência, alguns pacientes podem também se
automutilar com cortes no corpo. Fazem isso para diminuir o sofrimento”. Entre
os sintomas do transtorno, que costumam aparecer na adolescência ou na fase
adulta, estão também sentimentos negativos frequentes — que são quase sempre
confundidos com depressão. São eles: baixa autoestima, autoimagem distorcida,
comportamento imprudente, flutuações de humor e explosões de raiva difíceis de
controlar, mas de curta duração. Como servos de Deus, devemos sempre considerar
o nosso relacionamento com o Criador como algo de extremo valor, portanto,
precioso. Este relacionamento deve ser apresentado ao portador de BDL, pois
Cristo satisfaz aos mais altos anseios da alma humana. Sempre está acessível e
é um amigo extraordinariamente confiável (Jo 15.3; Hb 13.6; Sl 56.11)!
2.2. Borderline: uma batalha diária
Os
principais sintomas do transtorno de personalidade Borderline são: Instabilidade
emocional; Comportamentos impulsivos; Demonstrações inadequadas de raiva; Baixa
autoestima; Insegurança; Tendência ao suicídio; Dificuldade em aceitar críticas
e regras; Intolerância às frustrações; Medo do abandono. Para a Drª. Ligia
Lorandi Ferreira Carneiro, como o transtorno afeta as relações interpessoais,
muitos preconceitos e muita incompreensão acompanham os pacientes com
personalidade Borderline. Muitas vezes, tais pessoas são rotuladas de
“irresponsáveis”, “egoístas”, “desequilibradas”, “problemáticas”, o que só
agrava sua instabilidade e faz com que elas se aproximem mais e mais da
loucura, já que dificilmente sozinhas conseguirão contornar a dificuldade. Há
uma grande carência de compreensão quanto aos sintomas que refletem a doença
BDL no indivíduo portador. Normalmente ao lidarmos com alguém assim, temos
baixa tolerância, pois para o doente, em sua batalha diária contra as
manifestações sintomáticas, é praticamente impossível gerenciar todas essas
manifestações sem que respingue naqueles que o rodeia, causando tristeza e
muitas vezes mágoas, além do prejuízo maior que seria a quebra do
relacionamento, gerando neles outro malefício – o medo de ser abandonado e ser
deixado só. Este processo se desdobra em sensações terríveis de solidão e de um
vazio profundos. A solidão ou a sensação de abandono pode ser ocupada pela
comunhão com os santos e a vida eclesiástica (Ec 4.9-12; Hb 10.24-25), enquanto
o vazio poderá ser preenchido pela presença do Criador no espírito humano (Jo
14.17). A igreja recebe a orientação da Palavra de Deus expressa por
Paulo: “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os
homens” (Rm 12.18). “Se possível…” A explicação dessa expressão
aparece nas palavras seguintes, “…quanto estiver em vós…” ou “quanto
depender de vós”. O crente deve fazer tudo quanto está ao seu alcance para
preservar a harmonia, tanto com a comunidade fora da igreja como com todos os
indivíduos, inclusive com os portadores do Borderline. Entender as suas
dificuldades facilita a aplicação do texto bíblico nas relações com aqueles que
padecem do Borderline.
2.3. A paranoia agravada pelo BDL
Uma das
características já vista do Transtorno de Personalidade Borderline é a
impulsividade em áreas potencialmente autodestrutivas (gastos, sexo, abuso de
substâncias, direção irresponsável ou imprudente, compulsão alimentar). O
padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado
pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização e instabilidade
afetiva devida a uma acentuada reatividade do humor podem ou não ser
acompanhados de paranoias, que segundo o pastor Israel Maia, se manifestam na
forma de ciúmes e mania de perseguição. Pelo fato de a igreja possuir em sua
característica o elemento espiritual, para o pastor Israel Maia, tal
ingrediente potencializa os eventos de crise do indivíduo doente, pois o mesmo
passa a espiritualizar tudo, o que poderá incorrer na falsa sensação de que
outros irmãos o estão perseguindo e buscando o seu fim, quando na verdade, tudo
não passa de um delírio mental causado pela paranoia do Borderline. A igreja
tem papel fundamental no progresso ou no retrocesso deste sintoma causado
especificamente dentro deste contexto eclesiástico. A mania de perseguição pode
ser combatida apresentando ao enfermo Aquele que é maior do que qualquer
perseguidor – Cristo! O portador do Borderline, como já destacamos, é impulsivo
e suas atitudes são imprudentes, já que não respeita limites e perde a noção do
que pode ser perigoso. O pastor Israel Maia cita o caso do personagem bíblico
Nabal e sua atitude insensata em negar alimento a Davi e aos seus homens. Nabal
era um homem muito rico, porém nada generoso. Warren W. Wiesber afirma: quando
Davi retornou às cercanias das terras de Nabal, era tempo da tosquia, um
acontecimento festivo (2Sm 13.23) que ocorria toda primavera e no começo do
outono. Davi tinha esperanças de que Nabal o recompensasse e a seus homens por
seus serviços, pois certamente mereceriam alguma coisa por terem protegido as
ovelhas e cabras de Nabal dos ladrões que costumavam aparecer no tempo de
tosquia. A expectativa de Davi era lógica. Qualquer homem com três mil ovelhas
e mil cabras poderia dar alguns animais para alimentar seiscentos homens que
havia arriscado a própria vida para guardar parte de sua riqueza. Sem dúvida,
por uma simples questão de cortesia, Nabal deveria convidar Davi e seus homens
a partilhar de sua comida numa ocasião festiva em que a hospitalidade era a
ordem do dia. Alimentar seiscentos homens no deserto não seria uma tarefa
simples, de modo que Davi enviou dez de seus rapazes para explicar a situação e
pedir que fossem convidados para a festa. Porém, Nabal recusou-se a ouvir e
desdenhou do futuro rei de Israel (1Sm 25.10-11). Quando os jovens lhe
explicaram educadamente a situação, Nabal insultou-os. Os jovens relataram a
resposta de Nabal a Davi que, no mesmo instante, se irou e jurou vingança
contra ele. Davi era um homem piedoso e um líder competente, mas até os
melhores homens são, na melhor das hipóteses, apenas seres humanos! A esposa de
Nabal, mulher prudente e sábia, se antecipou aos planos de Davi, levou alguns
viveres e afugentou do seu coração o desejo de vingança pessoal. Após a festa e
o efeito do vinho, Abigail contou a Nabal o que ela avia feito; e como a sua
vida e a vida da sua família e dos seus servos foram poupados, “se
amorteceu nele o seu coração, e ficou ele como pedra” (1Sm 25.37). Wiersbe
reitera que Abigail foi prudente ao esperar para contar ao marido o que havia
feito. A notícia deixou-o tão aturdido que sofreu um derrame e ficou paralisado
por dez dias, depois dos quais o Senhor lhe tirou a vida. Assim como Nabal, os
portadores do Borderline estão inclinados a agirem de forma insensata, trazendo
grandes prejuízos para si mesmo, mas que pode refletir em outros inocentes que
estão junto a eles. Que possamos ser úteis no auxílio dos tais e ajuda-los
naquilo que estiver ao nosso alcance, sempre tendo em mente que o
encaminhamento ao profissional competente não é uma alternativa, mas uma
responsabilidade urgente.
3.
CONHECENDO
A ENFERMIDADE
O
Transtorno de Personalidade Borderline pode ocorrer devido à predisposição
genética, quando pelo menos um parente próximo apresenta este distúrbio, ou há
alterações no cérebro, principalmente nas áreas responsáveis pelo controle dos
impulsos e das emoções. Vimos anteriormente (item 1.1) as similaridades entre
Borderline e Bipolaridade. Desta vez o destaque das semelhanças fica por conta
de que no Borderline, a herança genética como citada acima, não tem tanto peso
na origem do transtorno como tem, quando o assunto é a Bipolaridade.
3.1. A necessidade de uma família sadia
O
Transtorno de Personalidade Borderline é uma doença mental grave que
deve ser tratada, mesmo nos casos mais leves. Por ser tratar de um distúrbio
mental que implica na variação do humor e da personalidade com consequências
sérias, o Borderline causa muitos conflitos de ordem relacional, já que assimilar
o comportamento do doente e manter-se em harmonia com o mesmo, é tarefa
hercúlea. A Dra. Ligia Lorandi Ferreira Carneiro afirma que para conviver com a
personalidade Borderline, o primeiro passo é caracterizá-la como um transtorno
psiquiátrico tratável e procurar ajuda com profissionais da saúde
especializados. Tanto a atitude pessoal de aderir à terapia, quanto a educação
da família são essenciais, na medida que o único tratamento efetivo é o de
equipe, contando com a colaboração de médicos, psicólogos, a família e o
paciente. Para o psiquiatra, Dr. Emerson Rodrigues Barbosa, dentre as opções
terapêuticas e farmacológicas para o tratamento dos portadores do Transtorno de
Personalidade Borderline, a terapia também pode ser feita nas relações que são
abaladas pelo BDL, isto é, a terapia familiar auxilia os familiares a
compreender melhor a condição do paciente, a desenvolver técnicas para evitar
conflitos e melhorar a comunicação, além de prover suporte aos membros da
família. Esse formato de tratamento minimiza os atritos gerados pelo
desequilíbrio emocional do enfermo, além de minimizar o impacto quando a
instabilidade se manifesta. Quando o transtorno é detectado por algum irmão da
igreja, por óbvio que toda a igreja não irá passar pela terapia por não possuir
laços familiares consanguíneos com o indivíduo afetado pelo transtorno, porém
ela pode aplicar a Palavra de Deus e conforme foi dito anteriormente (item
1.3), o amor que trazemos em nosso coração (Rm 5.5) suportará as hostilidades
peculiares das oscilações de humor e personalidade do enfermo (1Co 13.7b) e
promoverá um ambiente favorável e acolhedor.
3.2. A eficácia de uma igreja preparada
Há algumas
décadas atrás poucos na igreja possuíam instrução de grau superior e muito
poucos ainda, formação na área da psicologia, psiquiatria, psicanálise, terapia
e afins. A igreja era formada em sua maioria por pessoas leigas, porém, a
realidade atual mudou muito e temos em nossas fileiras homens e mulheres nas
mais diversificadas formações, mesmo de doutorado e PhD, inclusive nas áreas
onde abordamos acima! A comunidade cristã tem se sensibilizado com o tema que
estamos a estudar e atualmente, algumas faculdades teológicas até oferecem
princípios da psicologia em sua grade curricular. Pastores que antes buscavam o
seu bacharelado em Direito, hoje optam por Psicologia, pois perceberam a grande
necessidade de se conhecer o assunto com profundidade. Tal mudança no cenário
evangélico nos propicia encaminhar ou mesmo sermos tratados por profissionais
que professam a mesma fé em Cristo Jesus. Além das terapias convencionais
aprendidas nos bancos acadêmicos, podemos contar também com as orações e
conselhos centrados na Palavra de Deus. Tudo que envolvemos o Senhor, prospera
com mais qualidade! O psiquiatra Thyago
Azevedo afirma que o impacto do ambiente familiar no desenvolvimento da criança
pode ser um fator importante entre as causas do Borderline. Comungando do mesmo
dado estatístico apresentada pelo pastor Israel Maia, ele afirma que cerca de
80% dos pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline, veem o casamento
de seus pais como muito conflituoso. Muitos desses pacientes passaram por
negligência e abusos físicos e sexuais dentro da família. Porém, há pacientes
com Transtorno de Personalidade Borderline com familiares absolutamente comuns,
sem nada de anormal. O Dr. Thyago diz que também há aumento do risco de
Transtorno de Personalidade Borderline quando existe na família, o pai e ou mãe
com transtorno por uso de substância, transtorno de personalidade antissocial e
transtorno depressivo ou transtorno bipolar. O Transtorno de Personalidade
Borderline seria também a consequência de uma educação muito autoritária, em
que pais rígidos sempre imporiam seus desejos aos filhos. Com o tempo as
tentativas de autoafirmação da criança sucumbiriam aos desejos dos pais e ela
se habituaria a se submeter sempre aos pais, desenvolvendo dúvidas sobre a
própria capacidade e vergonha pelos seus fracassos. Aos poucos a criança iria
parando de tentar expressar as suas vontades podendo levar a falhas na
clarificação psíquica de si e do outro. Um lar onde Cristo não é o centro e sua
Palavra não é a instrução que se reflete, pode tornar-se um lugar propenso para
o desenvolvimento não somente deste transtorno visto aqui, mas de outros também.
3.3. Cuidado para evitar tragédias
A Síndrome
de Borderline pode levar à perda de laços familiares e de amizades, o que gera
solidão, além de dificuldades financeiras e de manter o emprego. Todos esses
fatores associados às variações de humor podem levar à tentativa de
suicídio. Aproximadamente 2% da população mundial está diagnosticada com
Borderline. Se não tratado, a instabilidade das emoções permanece, inclusive
com episódios graves e risco de suicídio nas crises. O mestre e a doutora em
psicologia Edilson Pastore e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, respectivamente,
afirmam que um dos critérios mais importantes e também mais preocupantes do
Transtorno de Personalidade Borderline, diz respeito às ameaças e tentativas de
suicídio que acometem esses pacientes. Muitas dessas tentativas constituem-se
em uma forma de chamar atenção para o sofrimento emocional que vivenciam e não
chegam a constituir risco real para que cheguem a óbito. Ainda assim, toda
tentativa de suicídio requer atenção cautelosa e cuidados intensivos. No caso
desses pacientes, essa atenção deve ser aumentada devido ao risco potencial
para automutilações denominadas também como comportamentos parasuicidas e,
evidentemente, à possibilidade de ocorrer efetivamente o suicídio. Resultados
de autópsia psicológica de mortes por suicídio estimam que entre 9% e 33 % dos
pacientes que se suicidaram preenchiam critérios diagnósticos para BDL. Ainda
segundo os psicólogos, compreender os fatores que fazem o risco de suicídio
aumentar, assim como o comportamento suicida e a própria ideação suicida, são
cruciais para o entendimento do BDL. Os suicídios consumados em pacientes que
apresentam BDL giram em torno de 10%, e as tentativas de suicídio entre essa
população variam de 37% a 73% (Black, Blum, Pfohl, & Hale 2004). Um em cada
dez pacientes com diagnóstico de BDL se suicida (cerca de 10%), igualando-se o
índice aos de patologias com alta letalidade como a esquizofrenia e a depressão
maior. Esses dados levam a questionar uma ideia preconcebida e estigmatizada de
que pacientes com BDL tentam suicídio apenas para manipular ou chamar a
atenção, dizem os mesmos psicólogos que afirmaram ser o suicídio um chamariz
para que o Borderline seja visto. O Dr. Thyago Azevedo afirma que sempre que o
paciente com Transtorno de Personalidade Borderline apresentar sintomas muito
angustiantes e ou reações que possam afetar ou machucar a si mesmos ou a outras
pessoas, ele deve procurar o médico; em casos de atos (auto) lesivos e
compulsivos severos como jogo patológico, compulsão a compras, presença de
comorbidades (duas ou mais doenças em simultâneo na mesma pessoa) como doenças
clínicas concomitantes, por exemplo. O mesmo ocorre quando há intenção suicida
ou mesmo tentativa. Nesses casos é muito importante que a família e
principalmente os terapeutas tenham conhecimento desses pensamentos, pois eles
podem ajudar. Por vezes tanto pacientes como familiares ficam muito assustados,
mas os terapeutas compreendem bem essa situação e sabem como lidar. É
importante lembrar que hoje, o diagnóstico de BDL é feito pela presença de uma
coleção de traços e não por um critério isolado. Assim, merece ser destacado no
diagnóstico o esforço desesperado que o portador do transtorno faz para evitar
o abandono real ou imaginário e a gravidade das alterações das relações
interpessoais, na família, escola, trabalho e lazer e, posteriormente, também
com os profissionais que se aproximam para oferecer tratamentos. Mas todo o
cuidado é pouco. O psiquiatra que se baseia somente nos sintomas do DSM (Manual
de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) pode errar. É comum a
confusão do Transtorno de Personalidade Borderline com o Transtorno Bipolar,
por exemplo. E além do diagnóstico ser às vezes difícil, o psiquiatra precisa
saber lidar com o paciente. Exame físico e testes de laboratório são recomendáveis
para eliminar sintomas possíveis, como problemas de tireoide e abuso de
substâncias. Exames de imagem são usados para afastar outras causas.
CONCLUSÃO
O último
relatório assinado por uma comissão composta por 28 cientistas da área da saúde
mental foi publicado pela revista Lancet (especializada em artigos relacionados
a ciência médica), e aponta que os distúrbios de saúde mental aumentam em todos
os países do mundo. Trata-se de uma epidemia que se alastra por todo o planeta
e que se tem multiplicado potencialmente nos últimos 25 anos, provocando
prejuízos exorbitantes (humanos, social e financeiros) e que tão cedo não será
remediada. De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde, cerca de
300 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem depressão e 50 milhões têm
demência. A esquizofrenia acomete 23 milhões, o distúrbio bipolar atinge 60
milhões e o Borderline outros 60 milhões, sem acrescentar as demais doenças
mentais! Logo, não seria absurdo pensar que em nossos cultos, talvez estejamos
assentados ao lado de alguém que possivelmente padeça de algum transtorno
mental e que sequer o saiba. Pode ser que nós mesmos já tenhamos identificado
sintomas das enfermidades estudadas até aqui em nossa própria vida. No entanto,
os nossos cultos devem ser permeados de uma atmosfera de gratidão a Deus, sem
qualquer impedimento, mesmo aqueles oriundos de tantos problemas que nos
cercam. É também nos cultos que podemos com total liberdade, não somente levar
a Deus o nosso louvor e adoração, como também apresentar a Ele aquilo que nos
causa dor e sofrimento.
COMENTÁRIOS
ADICIONAIS:
Pb. Lindoval
Santana - ADS – Assembleia de Deus de Sobradinho.
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