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Lidando com a Instabilidade e Hipersensibilidade Generalizadas - Comentários Adicionais (Pb. Lindoval Santana)


LIDANDO COM A INSTABILIDADE E HIPERSENSIBILIDADE GENERALIZADAS
(Lição 08 – 24 de fevereiro de 2019)

TEXTO ÁUREO
“Então, me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
E buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.12-13).

VERDADE APLICADA
Um ambiente repleto de oração, adoração e amor fraternal muito contribui para produzir equilíbrio na vida do discípulo de Cristo.

OBJETIVOS DA LIÇÃO
·       Revelar o que é o Borderline;
·       Mostrar os riscos da imprudência causada pelo Borderline;
·       Ensinar como tratar o Borderline.

TEXTO DE REFERÊNCIA
1 Samuel 25.10 - E Nabal respondeu aos criados de Davi e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos servos há hoje, e cada um foge a seu senhor.
1 Samuel 25.11 - Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei de onde vêm?
1 Samuel 25.37 - Sucedeu, pois, que pela manhã, havendo já saído de Nabal o vinho, sua mulher lhe deu a entender aquelas palavras; e se amorteceu nele o seu coração, e ficou ele como pedra.
1Samuel 25:38 - E aconteceu que, passados quase dez dias, feriu o SENHOR a Nabal, e este morreu.

INTRODUÇÃO
Neste ponto do nosso estudo sobre as enfermidades da alma, iremos abordar o Transtorno de Personalidade Borderline (BDL) também conhecida como Transtorno de Personalidade Limítrofe. Conforme afirmam os estudiosos da psiquiatria, como acontece sempre com outros diagnósticos, o termo Transtorno Borderline tem uma longa história, passando por diversos conceitos e denominações ao logo do tempo. A primeira vez que aparece o termo borderline é em 1884. Nesse ano, Hughes (psiquiatra inglês) designa assim aos estados borderline da loucura, definindo essas pessoas que passaram toda sua vida de um lado a outro da linha da sanidade (basicamente, os pacientes apresentam uma alteração na fronteira (ou na borda) entre a neurose e a psicose). Alguns autores da época usavam esse diagnóstico quando havia sintomas neuróticos graves. O psiquiatra Thyago Azevedo defini que o Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição mental grave e complexa cujos sintomas instáveis podem invadir o indivíduo de modo súbito, caótico, avassalador e desenfreado. Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª Ed. 2013), o Transtorno de Personalidade Borderline envolve um padrão de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos, e de impulsividade acentuada que surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos. Por se tratar basicamente de um distúrbio caracterizado por alterações do humor, comportamentos e relacionamentos instáveis, tais características faz do Transtorno de Personalidade Borderline, bem parecido com o último transtorno que estudamos anteriormente (Bipolaridade) e outro considerado também bastante grave (Esquizofrenia). Os efeitos do BDL que sobretudo modificam o humor e o comportamento, prejudicam em muito a vida do portador da enfermidade, afetando substancialmente também, aqueles que estão em seu entorno.

1. BORDERLINE E BIPOLARIDADE
A psicanalista Sílvia Marques explica que muitas pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline são diagnosticadas como bipolares. O erro é comum porque os dois transtornos, apesar de diferentes, apresentam sintomas muito semelhantes, que podem gerar dúvidas tanto nas pessoas que convivem com o portador do transtorno como em especialistas do comportamento em fazer o diagnóstico. Apesar das enfermidades serem distintas, mas apresentarem sintomas parecidos, não é incomum que um indivíduo apresente ambos os transtornos (Borderline e Bipolaridade), tornando o caso potencialmente mais grave!

1.1.    As semelhanças entre Borderline e Bipolaridade
Como já vimos anteriormente, o Transtorno Bipolar ou Bipolaridade é uma doença mental, que consiste na brusca mudança de humor. A pessoa passa de uma fase eufórica para outra depressiva ou de uma depressiva para outra eufórica sem motivo aparente. A bipolaridade é classificada como um tipo de psicose e o seu portador pode ser muito beneficiado com o uso de medicamentos mais a terapia. Os depressivos crônicos são considerados bipolares. A Dr. Silvia Marques diz que o transtorno de Personalidade Borderline é um pouco mais complexo pois como o próprio nome diz, trata-se da personalidade da pessoa. É o jeito da pessoa ser e ver o mundo. Medicamentos podem ajudar um Borderline, mas a terapia é muito mais eficaz neste tipo de quadro. Já na bipolaridade, o uso de medicamentos provoca uma resposta muito maior. O Borderline não é simplesmente alguém que sofre oscilações bruscas de humor. Ele é dotado de uma personalidade fluida, mal delineada e assim como os líquidos, acabam muitas vezes tomando a forma do recipiente. Como assim? Se uma mulher carnívora começa a namorar um vegetariano, ela deixa de comer carne. Mas, se logo em seguida, se apaixonar pelo dono de uma churrascaria, passa a comer carne novamente. Ou se torna religiosa ao extremo ao namorar um pastor ou resolve aprender a surfar porque se encantou por um surfista. O exemplo utilizando o sexo feminino é devido a estatística apontar que cerca de 75% a 76% dos portadores deste transtorno são mulheres, justamente por este sexo ser mais emocional e o homem ser mais racional. Enquanto os surtos do bipolar alteram o seu humor em uma frequência maior, levando de um extremo a outro por um período de dias até meses ou anos, os que sofrem de Borderline tem esta frequência periódica reduzida a segundos e minutos, quando muito, algumas horas! A Dr. Sílvia Marques afirma que muitas vezes os transtornos são confundidos porque além dos sintomas em comum já vistos, como por exemplo, a mudança brusca de humor, ainda há uma excessiva carência afetiva, o descontrole emocional que pode acarretar em surtos psicóticos. Embora ambos os transtornos apresentem como sintoma a carência afetiva, esta é mais forte nos Borderline, pois como possuem uma personalidade mal delineada, se apegam excessivamente às pessoas que amam, principalmente ao parceiro amoroso. Por fim, existe também uma tendência a excessos nos dois transtornos, como abuso de álcool e outras substâncias. Ambos são graves e geram muito sofrimento para quem os têm e para quem convive, mas são tratáveis. Ninguém deixará de ser Bipolar ou Borderline, mas podem viver sob controle, podem aprender a lidar melhor com as emoções. Diante de qualquer desconfiança, é recomendável buscar ajuda profissional para estabelecer um diagnóstico. Mas vale ressaltar que leva um tempo para se chegar a um parecer. O pastor Israel Maia pontua que as igrejas, por experimentarem o crescimento em suas fileiras, também tem tido a experiência de lidar cada vez mais com pessoas portadoras deste transtorno e nos cabe lidar sempre da melhor forma com tais casos, evitando exposição e julgamentos precipitados por falta de conhecimento. Como cristãos, paralelamente a ajuda profissional, é nosso dever buscarmos em Deus, recursos que possam auxiliar a pessoa doente e a Palavra, certamente será de grande proveito para todo e qualquer caso, inclusive para aqueles que padecem do Transtorno de Personalidade Borderline, pois vivifica (Sl 119.49.50) e traz esperança (Rm 15.4).

1.2.    A dificuldade de gerenciar a autoimagem
O termo “Borderline” significa “fronteiriço” na língua inglesa. Para alguns estudiosos da área, o termo vem pelo fato de o Borderline ser mais um “jeito de ser” disfuncional do que uma doença propriamente dita. Porém, para muitos outros, o Transtorno da Personalidade Borderline é uma doença mental caracterizada por uma perturbação da personalidade que provoca instabilidade emocional, sentimento de vazio interno, desregulação afetiva e uma série de outros sintomas que levam a diversos comportamentos impulsivos e perigosos. Essas variações da personalidade, por óbvio, dificultam o gerenciamento da autoimagem do indivíduo, pois, ora aparenta dócil, ora o oposto, complicando assim, as relações. Os psiquiatras afirmam que esta característica do portador da Borderline é uma perturbação para a sua identidade pessoal, isto é, pode haver um distúrbio de identidade caracterizado por uma autoimagem ou sentimento da mesma acentuada e persistentemente instável. Mudanças súbitas e dramáticas são observadas na autoimagem, caracterizadas por objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca da carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Esses indivíduos podem mudar subitamente do papel de uma pessoa suplicante e carente de auxílio para um vingador implacável de maus tratos passados. O Borderline tem uma grande dificuldade em se definir, em saber quem é. Tal condição o deixa extremamente confuso. O Borderline também está sujeito a exuberantes manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções como o amor e ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda, tais manifestações, certamente trazem sérios prejuízos a autoimagem do indivíduo, dificultando a vida profissional e todas as esferas de relacionamentos. A vida conjugal com essas pessoas pode ser muito problemática, pois, ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e se confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de maltratá-lo cruelmente. A união com Cristo e com os irmãos (Sl 133) desenvolve a nossa fé e robustece a nossa esperança (Jr 17.7). A fé, além de propiciar a nossa salvação em Cristo (2Tm 3.15), também atesta que por ela, podemos conquistar muitas outras bênçãos, inclusive o alívio ou a cura definitiva de quaisquer enfermidades (At 14.9). Por outro lado, a esperança é o combustível que mantém o fogo aceso de que o Senhor, poderá fazer tudo por nós; a esperança sempre deixa as portas abertas para que as possibilidades aconteçam (Jó 14.7).

1.3.    Lidando com os portadores de BDL
Uma classificação bastante didática divide o Transtorno Borderline em 4 grupos clínicos:
Grupo A: Borderline com predomínio de características esquizóides e/ou paranóides, mais próxima das psicoses;
Grupo B: Borderline com predomínio de características distímicas e afetivas;
Grupo C: Borderline com predomínio de características anti-sociais e perversas (corresponderiam ao grupo de Transtorno de Pessoalidade Borderline, propriamente dito, satisfazendo quase todos os critérios do DSM IV);
Grupo D: Borderline com predomínio de características neuróticas (obsessivo-compulsivas, histéricas e fóbicas) graves.
Esta classificação tem objetivo mais didático que prático, porquanto na prática cotidiana observamos com maior frequência a ocorrência de casos mistos. Uma das características do portador do Transtorno de Personalidade Borderline é que os mesmos são pessoas simpáticas e agradáveis, mas em sua intimidade são explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis e com tendência a manipular. Imagine lidar com alguém com esse tipo de transtorno? Difícil! Sim, muito difícil, no entanto, como servos de Deus, precisamos exercitar o que disse Paulo aos Coríntios: “[o amor] tudo suporta” (1Co 13.7b). É com este amor que nos esforçaremos para não afastar tais pessoas do nosso círculo de comunhão, pois isso resultaria em agravo da enfermidade e por certo, esta não é a vontade de Deus, já que Ele não faz acepção de pessoas (Rm 2.11); porque nós faríamos? O cuidado em lidar com pessoas assim deve ser redobrado. Devemos não apenas demonstrar atenção, mas oferece-la a eles, a fim de que possam se sentir estimados e incluídos na vida da igreja. O pastor Israel Maia assinala algo extremamente relevante quando diz que uma enfermidade da alma não afasta ninguém da salvação proposta por Deus! Cabe aqui mais uma vez, o que disse Paulo, sobre o fato de Deus não fazer acepção de pessoas, logo, o evangelho da graça salvadora deve ser pregado a todos, inclusive aos enfermos da alma! O processo do conhecimento acerca de Deus, deve ser manifesto também a eles, assim como o caminho para que possam buscar tratamento, a fim de obterem estabilidade mental e conseguirem compreender adequadamente a mensagem de salvação que por si mesma produz vida abundante (Jo 10.10).

2.    IMPRUDÊNCIA CAUSADA PELO BORDERLINE
Imprudência é diferente de negligência! O negligente é conhecido pela falta de cuidado e atenção, implica em omissão ou falta de observação do dever, isto é, não age com o cuidado exigido pela situação. O imprudente por sua vez, tem a ver com algo mais do que a mera falta de atenção ou cuidado. O ato do imprudente pode até se revelar de má fé, ou seja, com conhecimento do mal mesmo assim assumiu o risco de praticá-lo. O Imprudente ainda é aquele que não toma os cuidados normais que qualquer pessoa tomaria. E por fim, imprudente é aquele que sabe do grau de risco envolvido na atividade e mesmo assim acredita que é possível a realização sem prejuízo para ninguém. É aquele que extrapola os limites da inteligência e do bom senso e acaba prejudicando, ferindo e pondo outros em sérios riscos por sua imprudência. Os que sofrem de BDL são classificados como indivíduos potencialmente imprudentes pois agem por ímpeto que normalmente (no caso deles), estão desregulados e fora da realidade, incorrendo em eventuais danos a si mesmos e a outros.

2.1.    Gerenciamento de sentimentos
O Transtorno de Personalidade Borderline provoca explosões de raiva e baixa autoestima. Pacientes têm sensação parecida com a da morte diante da ameaça da rejeição e do abandono. A taxa de tentativas de suicídio entre os portadores de personalidade Borderline é muito alta! Os indivíduos com BDL se esforçam freneticamente para evitarem um abandono, seja um abandono real ou imaginado. A perspectiva da separação, perda ou rejeição podem ocasionar profundas alterações na autoimagem, afeto, cognição e no comportamento. O Borderline vive exigindo apoio, afeto e amor continuadamente. Sem isso, aflora o temor à solidão ou a incapacidade de ficar só, em presença de si mesmo. A jornalista Marcela Franco exemplifica: “Como acontece diariamente, os namorados combinam de se falar por telefone no horário de sempre, às 20h. Só que, desta vez, o namorado se atrasa alguns minutos, seja porque o celular ficou sem bateria, porque estava ocupado, ou porque simplesmente não conferiu o relógio. O que seria algo completamente normal e perdoável para outras namoradas, neste caso se torna uma catástrofe. A moça, certa de que o atraso significa que ele a rejeita, entra em colapso, sofre e, sem saber como lidar com a ansiedade, cogita até mesmo o suicídio”. É uma situação que poderia ser classificada facilmente como chilique, exagero ou ataque de ciúmes, mas que, na literatura médica, aparece como uma séria manifestação de uma doença com causas bem mais profundas que uma simples insegurança, o indivíduo possivelmente tem Borderline! Enquanto boa parte da humanidade teme a rejeição, um Borderline simplesmente tem algo parecido com a sensação de morte ao ser — ao simplesmente se imaginar — rejeitado ou abandonado. E isso não acontece apenas nos relacionamentos amorosos, mas, sim, em qualquer nível de envolvimento, seja familiar, de amizade ou mesmo no trabalho, como explica o psiquiatra Pedro Antônio Schmidt do Prado Lima, da PUC do Rio Grande do Sul: “Em uma relação afetiva, a dor do Borderline é absolutamente maior, mas a sensibilidade existe o tempo todo, em todo tipo de ambiente. São pessoas extremamente ansiosas, impulsivas, passíveis de um descontrole muito forte diante da ameaça de ser abandonadas. Com certa frequência, alguns pacientes podem também se automutilar com cortes no corpo. Fazem isso para diminuir o sofrimento”. Entre os sintomas do transtorno, que costumam aparecer na adolescência ou na fase adulta, estão também sentimentos negativos frequentes — que são quase sempre confundidos com depressão. São eles: baixa autoestima, autoimagem distorcida, comportamento imprudente, flutuações de humor e explosões de raiva difíceis de controlar, mas de curta duração. Como servos de Deus, devemos sempre considerar o nosso relacionamento com o Criador como algo de extremo valor, portanto, precioso. Este relacionamento deve ser apresentado ao portador de BDL, pois Cristo satisfaz aos mais altos anseios da alma humana. Sempre está acessível e é um amigo extraordinariamente confiável (Jo 15.3; Hb 13.6; Sl 56.11)!

2.2.    Borderline: uma batalha diária
Os principais sintomas do transtorno de personalidade Borderline são: Instabilidade emocional; Comportamentos impulsivos; Demonstrações inadequadas de raiva; Baixa autoestima; Insegurança; Tendência ao suicídio; Dificuldade em aceitar críticas e regras; Intolerância às frustrações; Medo do abandono. Para a Drª. Ligia Lorandi Ferreira Carneiro, como o transtorno afeta as relações interpessoais, muitos preconceitos e muita incompreensão acompanham os pacientes com personalidade Borderline. Muitas vezes, tais pessoas são rotuladas de “irresponsáveis”, “egoístas”, “desequilibradas”, “problemáticas”, o que só agrava sua instabilidade e faz com que elas se aproximem mais e mais da loucura, já que dificilmente sozinhas conseguirão contornar a dificuldade. Há uma grande carência de compreensão quanto aos sintomas que refletem a doença BDL no indivíduo portador. Normalmente ao lidarmos com alguém assim, temos baixa tolerância, pois para o doente, em sua batalha diária contra as manifestações sintomáticas, é praticamente impossível gerenciar todas essas manifestações sem que respingue naqueles que o rodeia, causando tristeza e muitas vezes mágoas, além do prejuízo maior que seria a quebra do relacionamento, gerando neles outro malefício – o medo de ser abandonado e ser deixado só. Este processo se desdobra em sensações terríveis de solidão e de um vazio profundos. A solidão ou a sensação de abandono pode ser ocupada pela comunhão com os santos e a vida eclesiástica (Ec 4.9-12; Hb 10.24-25), enquanto o vazio poderá ser preenchido pela presença do Criador no espírito humano (Jo 14.17). A igreja recebe a orientação da Palavra de Deus expressa por Paulo: “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). “Se possível…” A explicação dessa expressão aparece nas palavras seguintes, “…quanto estiver em vós…” ou “quanto depender de vós”. O crente deve fazer tudo quanto está ao seu alcance para preservar a harmonia, tanto com a comunidade fora da igreja como com todos os indivíduos, inclusive com os portadores do Borderline. Entender as suas dificuldades facilita a aplicação do texto bíblico nas relações com aqueles que padecem do Borderline.

2.3.    A paranoia agravada pelo BDL
Uma das características já vista do Transtorno de Personalidade Borderline é a impulsividade em áreas potencialmente autodestrutivas (gastos, sexo, abuso de substâncias, direção irresponsável ou imprudente, compulsão alimentar). O padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização e instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade do humor podem ou não ser acompanhados de paranoias, que segundo o pastor Israel Maia, se manifestam na forma de ciúmes e mania de perseguição. Pelo fato de a igreja possuir em sua característica o elemento espiritual, para o pastor Israel Maia, tal ingrediente potencializa os eventos de crise do indivíduo doente, pois o mesmo passa a espiritualizar tudo, o que poderá incorrer na falsa sensação de que outros irmãos o estão perseguindo e buscando o seu fim, quando na verdade, tudo não passa de um delírio mental causado pela paranoia do Borderline. A igreja tem papel fundamental no progresso ou no retrocesso deste sintoma causado especificamente dentro deste contexto eclesiástico. A mania de perseguição pode ser combatida apresentando ao enfermo Aquele que é maior do que qualquer perseguidor – Cristo! O portador do Borderline, como já destacamos, é impulsivo e suas atitudes são imprudentes, já que não respeita limites e perde a noção do que pode ser perigoso. O pastor Israel Maia cita o caso do personagem bíblico Nabal e sua atitude insensata em negar alimento a Davi e aos seus homens. Nabal era um homem muito rico, porém nada generoso. Warren W. Wiesber afirma: quando Davi retornou às cercanias das terras de Nabal, era tempo da tosquia, um acontecimento festivo (2Sm 13.23) que ocorria toda primavera e no começo do outono. Davi tinha esperanças de que Nabal o recompensasse e a seus homens por seus serviços, pois certamente mereceriam alguma coisa por terem protegido as ovelhas e cabras de Nabal dos ladrões que costumavam aparecer no tempo de tosquia. A expectativa de Davi era lógica. Qualquer homem com três mil ovelhas e mil cabras poderia dar alguns animais para alimentar seiscentos homens que havia arriscado a própria vida para guardar parte de sua riqueza. Sem dúvida, por uma simples questão de cortesia, Nabal deveria convidar Davi e seus homens a partilhar de sua comida numa ocasião festiva em que a hospitalidade era a ordem do dia. Alimentar seiscentos homens no deserto não seria uma tarefa simples, de modo que Davi enviou dez de seus rapazes para explicar a situação e pedir que fossem convidados para a festa. Porém, Nabal recusou-se a ouvir e desdenhou do futuro rei de Israel (1Sm 25.10-11). Quando os jovens lhe explicaram educadamente a situação, Nabal insultou-os. Os jovens relataram a resposta de Nabal a Davi que, no mesmo instante, se irou e jurou vingança contra ele. Davi era um homem piedoso e um líder competente, mas até os melhores homens são, na melhor das hipóteses, apenas seres humanos! A esposa de Nabal, mulher prudente e sábia, se antecipou aos planos de Davi, levou alguns viveres e afugentou do seu coração o desejo de vingança pessoal. Após a festa e o efeito do vinho, Abigail contou a Nabal o que ela avia feito; e como a sua vida e a vida da sua família e dos seus servos foram poupados, “se amorteceu nele o seu coração, e ficou ele como pedra” (1Sm 25.37). Wiersbe reitera que Abigail foi prudente ao esperar para contar ao marido o que havia feito. A notícia deixou-o tão aturdido que sofreu um derrame e ficou paralisado por dez dias, depois dos quais o Senhor lhe tirou a vida. Assim como Nabal, os portadores do Borderline estão inclinados a agirem de forma insensata, trazendo grandes prejuízos para si mesmo, mas que pode refletir em outros inocentes que estão junto a eles. Que possamos ser úteis no auxílio dos tais e ajuda-los naquilo que estiver ao nosso alcance, sempre tendo em mente que o encaminhamento ao profissional competente não é uma alternativa, mas uma responsabilidade urgente.

3.    CONHECENDO A ENFERMIDADE
O Transtorno de Personalidade Borderline pode ocorrer devido à predisposição genética, quando pelo menos um parente próximo apresenta este distúrbio, ou há alterações no cérebro, principalmente nas áreas responsáveis pelo controle dos impulsos e das emoções. Vimos anteriormente (item 1.1) as similaridades entre Borderline e Bipolaridade. Desta vez o destaque das semelhanças fica por conta de que no Borderline, a herança genética como citada acima, não tem tanto peso na origem do transtorno como tem, quando o assunto é a Bipolaridade.

3.1.    A necessidade de uma família sadia
O Transtorno de Personalidade Borderline é uma doença mental grave que deve ser tratada, mesmo nos casos mais leves. Por ser tratar de um distúrbio mental que implica na variação do humor e da personalidade com consequências sérias, o Borderline causa muitos conflitos de ordem relacional, já que assimilar o comportamento do doente e manter-se em harmonia com o mesmo, é tarefa hercúlea. A Dra. Ligia Lorandi Ferreira Carneiro afirma que para conviver com a personalidade Borderline, o primeiro passo é caracterizá-la como um transtorno psiquiátrico tratável e procurar ajuda com profissionais da saúde especializados. Tanto a atitude pessoal de aderir à terapia, quanto a educação da família são essenciais, na medida que o único tratamento efetivo é o de equipe, contando com a colaboração de médicos, psicólogos, a família e o paciente. Para o psiquiatra, Dr. Emerson Rodrigues Barbosa, dentre as opções terapêuticas e farmacológicas para o tratamento dos portadores do Transtorno de Personalidade Borderline, a terapia também pode ser feita nas relações que são abaladas pelo BDL, isto é, a terapia familiar auxilia os familiares a compreender melhor a condição do paciente, a desenvolver técnicas para evitar conflitos e melhorar a comunicação, além de prover suporte aos membros da família. Esse formato de tratamento minimiza os atritos gerados pelo desequilíbrio emocional do enfermo, além de minimizar o impacto quando a instabilidade se manifesta. Quando o transtorno é detectado por algum irmão da igreja, por óbvio que toda a igreja não irá passar pela terapia por não possuir laços familiares consanguíneos com o indivíduo afetado pelo transtorno, porém ela pode aplicar a Palavra de Deus e conforme foi dito anteriormente (item 1.3), o amor que trazemos em nosso coração (Rm 5.5) suportará as hostilidades peculiares das oscilações de humor e personalidade do enfermo (1Co 13.7b) e promoverá um ambiente favorável e acolhedor.

3.2.    A eficácia de uma igreja preparada
Há algumas décadas atrás poucos na igreja possuíam instrução de grau superior e muito poucos ainda, formação na área da psicologia, psiquiatria, psicanálise, terapia e afins. A igreja era formada em sua maioria por pessoas leigas, porém, a realidade atual mudou muito e temos em nossas fileiras homens e mulheres nas mais diversificadas formações, mesmo de doutorado e PhD, inclusive nas áreas onde abordamos acima! A comunidade cristã tem se sensibilizado com o tema que estamos a estudar e atualmente, algumas faculdades teológicas até oferecem princípios da psicologia em sua grade curricular. Pastores que antes buscavam o seu bacharelado em Direito, hoje optam por Psicologia, pois perceberam a grande necessidade de se conhecer o assunto com profundidade. Tal mudança no cenário evangélico nos propicia encaminhar ou mesmo sermos tratados por profissionais que professam a mesma fé em Cristo Jesus. Além das terapias convencionais aprendidas nos bancos acadêmicos, podemos contar também com as orações e conselhos centrados na Palavra de Deus. Tudo que envolvemos o Senhor, prospera com mais qualidade!  O psiquiatra Thyago Azevedo afirma que o impacto do ambiente familiar no desenvolvimento da criança pode ser um fator importante entre as causas do Borderline. Comungando do mesmo dado estatístico apresentada pelo pastor Israel Maia, ele afirma que cerca de 80% dos pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline, veem o casamento de seus pais como muito conflituoso. Muitos desses pacientes passaram por negligência e abusos físicos e sexuais dentro da família. Porém, há pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline com familiares absolutamente comuns, sem nada de anormal. O Dr. Thyago diz que também há aumento do risco de Transtorno de Personalidade Borderline quando existe na família, o pai e ou mãe com transtorno por uso de substância, transtorno de personalidade antissocial e transtorno depressivo ou transtorno bipolar. O Transtorno de Personalidade Borderline seria também a consequência de uma educação muito autoritária, em que pais rígidos sempre imporiam seus desejos aos filhos. Com o tempo as tentativas de autoafirmação da criança sucumbiriam aos desejos dos pais e ela se habituaria a se submeter sempre aos pais, desenvolvendo dúvidas sobre a própria capacidade e vergonha pelos seus fracassos. Aos poucos a criança iria parando de tentar expressar as suas vontades podendo levar a falhas na clarificação psíquica de si e do outro. Um lar onde Cristo não é o centro e sua Palavra não é a instrução que se reflete, pode tornar-se um lugar propenso para o desenvolvimento não somente deste transtorno visto aqui, mas de outros também.

3.3.    Cuidado para evitar tragédias
A Síndrome de Borderline pode levar à perda de laços familiares e de amizades, o que gera solidão, além de dificuldades financeiras e de manter o emprego. Todos esses fatores associados às variações de humor podem levar à tentativa de suicídio. Aproximadamente 2% da população mundial está diagnosticada com Borderline. Se não tratado, a instabilidade das emoções permanece, inclusive com episódios graves e risco de suicídio nas crises. O mestre e a doutora em psicologia Edilson Pastore e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, respectivamente, afirmam que um dos critérios mais importantes e também mais preocupantes do Transtorno de Personalidade Borderline, diz respeito às ameaças e tentativas de suicídio que acometem esses pacien­tes. Muitas dessas tentativas constituem-se em uma forma de chamar atenção para o sofrimento emocional que vivenciam e não chegam a constituir risco real para que cheguem a óbito. Ainda assim, toda tentativa de suicídio requer atenção cautelosa e cuidados inten­sivos. No caso desses pacientes, essa atenção deve ser aumentada devido ao risco potencial para auto­mutilações denominadas também como comporta­mentos parasuicidas e, evidentemente, à possibili­dade de ocorrer efetivamente o suicídio. Resultados de autópsia psi­cológica de mortes por suicídio estimam que entre 9% e 33 % dos pacientes que se suicidaram preen­chiam critérios diagnósticos para BDL. Ainda segun­do os psicólogos, compreender os fatores que fazem o risco de suicídio aumentar, assim como o comporta­mento suicida e a própria ideação suicida, são cru­ciais para o entendimento do BDL. Os suicídios consumados em pacientes que apresentam BDL gi­ram em torno de 10%, e as tentativas de suicídio entre essa população variam de 37% a 73% (Black, Blum, Pfohl, & Hale 2004). Um em cada dez pacientes com diagnóstico de BDL se suicida (cerca de 10%), igualando-se o índice aos de patologias com alta letalidade como a esquizofrenia e a de­pressão maior. Esses dados levam a questionar uma ideia preconcebida e estigmatizada de que pacien­tes com BDL tentam suicídio apenas para manipular ou chamar a atenção, dizem os mesmos psicólogos que afirmaram ser o suicídio um chamariz para que o Borderline seja visto. O Dr. Thyago Azevedo afirma que sempre que o paciente com Transtorno de Personalidade Borderline apresentar sintomas muito angustiantes e ou reações que possam afetar ou machucar a si mesmos ou a outras pessoas, ele deve procurar o médico; em casos de atos (auto) lesivos e compulsivos severos como jogo patológico, compulsão a compras, presença de comorbidades (duas ou mais doenças em simultâneo na mesma pessoa) como doenças clínicas concomitantes, por exemplo. O mesmo ocorre quando há intenção suicida ou mesmo tentativa. Nesses casos é muito importante que a família e principalmente os terapeutas tenham conhecimento desses pensamentos, pois eles podem ajudar. Por vezes tanto pacientes como familiares ficam muito assustados, mas os terapeutas compreendem bem essa situação e sabem como lidar. É importante lembrar que hoje, o diagnóstico de BDL é feito pela presença de uma coleção de traços e não por um critério isolado. Assim, merece ser destacado no diagnóstico o esforço desesperado que o portador do transtorno faz para evitar o abandono real ou imaginário e a gravidade das alterações das relações interpessoais, na família, escola, trabalho e lazer e, posteriormente, também com os profissionais que se aproximam para oferecer tratamentos. Mas todo o cuidado é pouco. O psiquiatra que se baseia somente nos sintomas do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) pode errar. É comum a confusão do Transtorno de Personalidade Borderline com o Transtorno Bipolar, por exemplo. E além do diagnóstico ser às vezes difícil, o psiquiatra precisa saber lidar com o paciente. Exame físico e testes de laboratório são recomendáveis para eliminar sintomas possíveis, como problemas de tireoide e abuso de substâncias. Exames de imagem são usados para afastar outras causas.

CONCLUSÃO
O último relatório assinado por uma comissão composta por 28 cientistas da área da saúde mental foi publicado pela revista Lancet (especializada em artigos relacionados a ciência médica), e aponta que os distúrbios de saúde mental aumentam em todos os países do mundo. Trata-se de uma epidemia que se alastra por todo o planeta e que se tem multiplicado potencialmente nos últimos 25 anos, provocando prejuízos exorbitantes (humanos, social e financeiros) e que tão cedo não será remediada. De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde, cerca de 300 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem depressão e 50 milhões têm demência. A esquizofrenia acomete 23 milhões, o distúrbio bipolar atinge 60 milhões e o Borderline outros 60 milhões, sem acrescentar as demais doenças mentais! Logo, não seria absurdo pensar que em nossos cultos, talvez estejamos assentados ao lado de alguém que possivelmente padeça de algum transtorno mental e que sequer o saiba. Pode ser que nós mesmos já tenhamos identificado sintomas das enfermidades estudadas até aqui em nossa própria vida. No entanto, os nossos cultos devem ser permeados de uma atmosfera de gratidão a Deus, sem qualquer impedimento, mesmo aqueles oriundos de tantos problemas que nos cercam. É também nos cultos que podemos com total liberdade, não somente levar a Deus o nosso louvor e adoração, como também apresentar a Ele aquilo que nos causa dor e sofrimento.

COMENTÁRIOS ADICIONAIS:
Pb. Lindoval Santana - ADS – Assembleia de Deus de Sobradinho.

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