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Enfrentando os traumas da vida - Comentários Adicionais (Pb Lindoval Santana)


ENFRENTANDO OS TRAUMAS DA VIDA
(Lição 06 – 10 de fevereiro de 2019)

TEXTO ÁUREO
Invoquei o SENHOR na angústia; o SENHOR me ouviu e me pôs em um lugar largo” (Salmos 118.5).

VERDADE APLICADA
Após acontecimentos intensamente traumáticos, precisamos permanecer confiando no amor e cuidado do Senhor para alcançarmos o necessário equilíbrio.

OBJETIVOS DA LIÇÃO
  • Ensinar como ocorre o TEPT;
  • Mostrar a seriedade desta enfermidade;
  • Revelar que nem todo o trauma causa o estresse pós-traumático.

TEXTO DE REFERÊNCIA
Sl 22.1 - Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas das palavras do meu bramido e não me auxilias?
Sl 22.5 - A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram e não foram confundidos.
Sl 22.11 - Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.
Sl 22.20 - Livra a minha alma da espada e a minha predileta, da força do cão.
Sl 22.21 - Salva-me da boca do leão; sim, ouve-me desde as pontas dos unicórnios.
Sl 22.22 - Então, declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.

INTRODUÇÃO
No sexto capítulo do nosso estudo sobre as enfermidades da alma, apresentaremos aquela que é denominada como Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Para uma melhor compreensão deste transtorno que traz em si mesmo a expressão “Pós-Traumático”, penso ser de grande importância, conceituarmos primeiramente o que seria um trauma. Entendemos por trauma a toda aquela ferida ou lamentação, lesão que se provoca sobre o organismo ou sobre o psicológico de uma pessoa, causando alterações do funcionamento normal de certos elementos. Um trauma pode variar seguramente em termos de gravidade, embora na maioria dos casos a noção de trauma está vinculada a uma ferida ou lesão que deixa algum tipo de sequela, seja ela, física, moral, emotiva ou mental. Normalmente, a área da medicina se diferencia entre o trauma físico e o trauma psicológico. Embora ambos os tipos sejam gerados por uma alteração do curso normal da saúde física ou mental de um indivíduo, as causas, situações ou elementos responsáveis de uma alteração, assim como as consequências podem variar de grande maneira. Quando falamos de trauma físico, referimos a um tipo de lesão ou ferida que afeta diretamente ao organismo a nível somático. O trauma físico pode ser causado tanto por golpes como por feridas agudas, no entanto, o nosso estudo se reserva a tratar os traumas em seu aspecto psicológico e estes acontecem a nível da psiquê humana; estes também, em muitos casos, podem envolver uma gravidade mais profunda que o trauma físico. Em geral, o trauma psicológico é produzido a partir da vivência de uma experiência dolorosa, angustiante e crítica, como por exemplo, presenciar a morte de um ser querido (em muitos casos, até de uma pessoa desconhecida), sofrer algum tipo de abuso, alguma situação próxima da morte, etc. Os traumas psicológicos podem ser muito mais difíceis de curar que os traumas físicos, pois se existem procedimentos de terapia para serem tratados, estes podem não ser sempre iguais dos efetivos. Além disso, um trauma psicológico pode mudar completamente a personalidade de um indivíduo e transformar sua vida em uma experiência totalmente diferente. Para os psiquiatras Ivan Figueira e Mauro Medlowicz, em todas as ocasiões nas quais o espectro da guerra passa a rondar a humanidade, a existência da síndrome do estresse pós-traumático (TEPT) é trazida para o primeiro plano. Foi assim na Guerra Civil Americana (síndrome do coração irritável), na Primeira Guerra Mundial (choque da granada), na Segunda Guerra Mundial (síndrome de esforço, neurose de guerra), na guerra do Vietnam, na guerra do golfo e, mais recentemente, nos atentados do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono. Esse ataque, por exemplo, fez com que o prestigioso New England Journal of Medicine publicasse, em 2002, um editorial e uma revisão chamando a atenção para a relevância do TEPT. Embora os sintomas presentes no transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) já tenham sido descritos há cerca de 100 anos, embora ainda não apresentasse essa denominação nessa época, foi somente após a Guerra do Vietnã que foi dada maior atenção a esse transtorno. Ao regressarem aos Estados Unidos após servirem nessa guerra, os soldados passaram a manifestar sintomas de trauma psicológico pronunciado, com significativo prejuízo de sua vida pessoal, e os médicos passaram a se interessar por esta condição. Em 1980, o transtorno passou a compor, oficialmente, o quadro dos subtipos de transtornos de ansiedade apresentados pela terceira edição do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). A partir daí muitos estudos psicológicos, farmacológicos e neurológicos foram sendo desenvolvidos em ordem de se conhecer melhor o TEPT.

1. VIVENDO COM TEPT
O psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de Deus afirma que o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) pode ser definido como um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais. Esse quadro ocorre devido à pessoa ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando ele se recorda do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento vivido na primeira vez. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais. Perceba que este transtorno é diferente da Síndrome do Pânico estudada anteriormente, Enquanto aquela, o indivíduo é acometido de um medo abrupto, porém passageiro (cerca de 10 a 45 minutos duram as crises), neste, o indivíduo é envolvido e absorvido pelo pavor por um tempo maior, sufocando-o a ponto de tornar a vida insuportável.

1.1. Como vive o portador do TEPT
Nos Estados Unidos, os primeiros estudos sobre o tema estão relacionados às vítimas de guerras. Mais recentemente, estudiosos americanos constataram o impacto da violência urbana para o desenvolvimento do transtorno. Para compreendermos a vida de alguém que convive com este transtorno, vamos utilizar o exemplo real de um ex fuzileiro naval do EUA que combateu na guerra do Iraque, cabo James Blake Miller. Ele tinha o sonho de ser pastor evangélico e após estudar para tal, se viu convocado para o serviço militar e especificamente deslocado para o oriente médio. O cabo James Blake Miller, tentava se proteger e manter os insurgentes o mais longe possível dele e de seus companheiros. No agito do tiroteio, seus companheiros quase atingiram Luis Sinco, fotógrafo do Los Angeles Times que acompanhava a unidade e que, findo o combate, tirou um retrato de Miller. No dia seguinte, centenas de jornais traziam a imagem de Miller, cigarro pendurado nos lábios, o rosto coberto de sangue e sujeira. Ainda que a contragosto, virou celebridade, com direito a carta do presidente e dispensa honrosa – ninguém queria que o Marlboro Marine, como ficou conhecido, se machucasse. Mas o estrago já havia sido feito. Feliz por estar de volta, o marine não se preocupou quando a esposa disse que ele estava apertando o pescoço dela durante a noite. Achou que era passageiro, assim como seus pesadelos sobre o Iraque. Só depois de olhar pela janela e ver o corpo de um iraquiano na calçada (alucinações são sintomas deste transtorno), Miller resolveu buscar ajuda profissional de um psiquiatra militar. Diagnóstico: o herói estava com trauma de guerra (TEPT). Como tantos treinados para a guerra, ele não conseguia achar a paz. Dentre os sintomas do TEPT, e ainda olhando para o caso do cabo Miller, pode-se incluir os flashbacks do combate, paranóia constante e a incapacidade de funcionar no ambiente familiar, social e profissional. Este transtorno, apesar de se desenvolver potencialmente em militares que retornam de algum conflito (estatísticas apontam que 5% da população desenvolve algum nível de estresse pós-traumático, enquanto ao menos 10% dos combatentes desenvolvem o problema plenamente), o TEPT pode atacar qualquer vítima ou testemunha de desastres naturais, incidentes terroristas, maus tratos, abusos sexuais, procedimentos cirúrgicos graves, acidentes sérios ou ataques violentos – qualquer evento aterrorizante em que a morte ou ferimentos graves são possíveis. Psicólogos afirmam: “quando se fala de ameaça à vida, há várias dimensões da vida que podem ser ameaçadas: dimensão física, dimensão psíquica (ameaças como assédio, humilhações e outras violências psíquicas), dimensão social (micro e macro social) e ainda a dimensão espiritual. Em todas estas dimensões podem haver situações de extrema violência ou ameaça e de certa forma, produzirem um quadro de estresse pós-traumático.” Voltemos ao Mariner americano… Quatro anos depois da foto que o deixou famoso, James Blake Miller estava divorciado do seu amor de colégio e morando em um trailer nos fundos da casa do seu pai, em uma cidadezinha do Kentucky. Após a volta para casa, decidiu que seria policial, sonho que o diagnóstico de TEPT tornou impossível. Aceitou um emprego em uma oficina mecânica de motos e, por conta disso, acabou entrando para uma gangue local de motoqueiros arruaceiros que vive arranjando confusão com a polícia. O TEPT acabou por destruir um homem em suas emoções e caráter, desconstituiu a sua família, tirou os seus sonhos de primeiro ser pastor e depois policial, e por último, o tornou um delinquente e indesejado social!

1.2. O perigo do suicídio
Um dos efeitos colaterais assustadores de qualquer doença mental é o risco de pensamentos nocivos ou suicidas. Acredita-se que os militares, tanto os que prestaram serviço numa guerra quanto os que não o fizeram, apresentam risco mais alto de suicídio que a população americana em geral. O pastor Israel Maia nos traz duas classificações quanto ao tipo de manifestação do TEPT: a) Agudo - Quando o transtorno aflige o indivíduo por um período de tempo curto; b) Crônico - Quando a aflição dura por períodos longos, anos até. Os sintomas do transtorno do estresse pós-traumático se dividem nas categorias principais: Reexperiência traumática: pesadelos e lembranças espontâneas, involuntárias e recorrentes (flashbacks) do evento traumático – revivescência; Fuga e esquiva: afastar-se de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas, como situações, contatos ou atividades que possam se ligar às lembranças traumáticas; Distanciamento emocional: diminuição do interesse afetivo por atividades, pessoas, que anteriormente eram prazerosas, diminuição de afetividade; Hiperexcitabilidade psíquica: reações de fuga exagerados, episódios de pânico (coração acelerado, transpiração, calor, medo de morrer…), distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, hipervigilância (estado de alerta); Sentimentos negativos: sentimento de impotência e incapacidade em se proteger do perigo, perda de esperança em relação ao futuro, sensação de vazio. Para pesquisadores e estudiosos do assunto, entre os transtornos mentais associados ao suicídio, está o TEPT. “Quem tem TEPT também apresenta depressão, ansiedade, abuso de substâncias, entre outros agravos. Também se observa nessa população alta prevalência de comportamento suicida, ou seja, a ideação suicida, o planejamento suicida ou a tentativa de suicídio”, explicou a pesquisadora Aline Cristina de Oliveira Costa. Em sua pesquisa sobre “Transtorno de estresse pós-traumático” e comportamento suicida, Aline apresentou resultados em que indivíduos com TEPT, em comparação com pessoas sem este transtorno, uma maior prevalência de ideação suicida, planejamento suicida e tentativas de suicídio! Lembrando que este transtorno é causado por eventos traumáticos, o advogado Frederico Eugênio Fernandes Filho, que atua no ramo de direito trabalhista, apresenta um caso bastante interessante, onde o pesquisador alemão Heinz Leymann, doutor em psicologia e PhD em psiquiatria pela universidade de Estocolmo e Umeia, respectivamente, iniciou uma pesquisa na década de 80 com a finalidade de se descobrir o motivo que levava as enfermeiras do sistema de saúde sueco cometerem suicídio. À época, essa era a categoria profissional que apresentava o maior índice de mortalidade devido ao suicídio. O professor Leymann uniu-se à socióloga Annelie Gustafsson, sua colega na Universidade de Umea, e ambos analisaram os casos de vinte e uma enfermeiras que se suicidaram ou que tentaram cometer suicídio. O projeto tinha dois objetivos: o de estabelecer se as condições no local de trabalho causariam algum risco de suicídio (e em qual extensão), e o de sugerir estratégias para a prevenção desse risco. Ao investigarem os casos de suicídios, os pesquisadores identificaram algumas semelhanças entre eles. A principal era que as enfermeiras haviam sido vítimas de comportamentos hostis no ambiente de trabalho, praticados por seus colegas de forma repetitiva e prolongada, o que resultava em transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O resultado dessa extensa pesquisa foi publicado no livro Självmordsfabriken (Editora Norstedts Juridik), palavra que em tradução livre significa “Fábrica de suicídios”. O assédio moral no trabalho experimentado por aquelas enfermeiras fez desenvolver o TEPT, que culminou no pior desfecho desta enfermidade – o suicídio! A relação do TEPT com o suicídio é real e comprovada cientificamente. Os comportamentos hostis sofridos pelas enfermeiras suecas eram muito semelhantes ao bullying praticado no ambiente escolar, em que um ou mais estudantes perseguem, humilham e agridem alguns de seus colegas, que acabam isolados do grupo. Outros traumas podem produzir no individuo com TEPT, a desesperança total da vida, pois não conseguem enxergar uma saída para os enfrentamentos que parecem sempre maiores do que as suas forças ou expectativas de mudança, levando-os a ceifarem a própria vida como meio de escapar do perigo ou daquilo que os afligem. Sabemos que o suicídio não deve ser considerado uma opção saudável para quem quer que seja, mas uma pessoa doente, tem poucas perspectivas e está absorvida pelos sintomas da enfermidade, logo, urge que ao menor sinal desta enfermidade em nosso círculo de relacionamento (mesmo na igreja), orientemos a procurar ajuda, além do que, o conselho de um pastor preparado para abordar a questão é fundamental, pois a ideia e o plano de suicídio já permeia a mente e o coração da alma doente. Mesmo o cristão, não está isento dos traumas da vida, e neste caso pode desenvolver o TEPT e produzir em sua mente ideias suicidas. Nisto, devemos nos valer da Palavra de Deus que nos garante subsídios suficientes para se crer na habilidade divina em nos fazer desvencilhar de todo e qualquer perturbação que possa afligir a nossa alma (Sl 22.4). O melhor a se fazer é ajudar aqueles cuja mente está entorpecida pelas ideias suicidas, sejam elas causadas por uma enfermidade ou outros motivos quaisquer.

1.3. TEPT, uma realidade comum
Em sua pesquisa sobre o tema, a jornalista Elizabeth Costa relata que segundo o Departamento Americano de Questões dos Veteranos de Guerra, quase 8 milhões de adultos americanos sofrem de TEPT em qualquer ano pesquisado. Além disso, 8% da população geral apresenta TEPT em algum momento da vida. Esta informação é alarmante, visto que, por se tratar de uma enfermidade causada por diversos tipos de traumas que podem marcar o indivíduo de forma memorável, por ocorrer em qualquer período da vida e pelo fato de todos estarem indistintamente sujeitos a sofrer algum trauma durante a vida (vimos acima que 50% das mulheres e 60% dos homens), a doença torna-se uma realidade mais comum do que podemos imaginar. Pesquisas comprovam que o aumento da violência, principalmente em grandes centros urbanos, contribui para que a estatística de enfermos com TEPT aumente cada vez mais, pois são vítimas de abusos em famílias desajustadas, assédios de todos os tipos e em diversos ambientes (familiar, escola, trabalho), pressões como bullying, conflitos, violência doméstica e social (assaltos, homicídios, etc) e até perseguição eclesiástica podem culminar no desenvolvimento do TEPT. Tais situações citadas acima potencializa o desenvolvimento desta enfermidade, assim devemos procurar evitar condições que propiciem perigo. Elizabeth Costa cita outros problemas relacionados ao TEPT, ela menciona que os efeitos do estresse pós-traumático não são apenas de natureza emocional. A condição é ligada a problemas físicos, como saúde cardiovascular prejudicada e problemas gastrointestinais. Ela se caracteriza também por episódios de medo paralisante, pela fuga de situações que engatilham esses medos e por mudanças de humor, como sentimento extremo de culpa, preocupação acirrada ou perda de motivação. A culpa aqui não é necessariamente algum pecado cometido, na verdade, quando o assunto é TEPT, a culpa está associada a algum evento em que o indivíduo sente-se culpado por um desastre, um acidente que tenha resultado em grandes prejuízos, inclusive na morte de alguém. Por exemplo, há histórias verídicas onde alguém tem a sua vida ceifadas e o pai ou a mãe se culpam por não terem estado presente no momento do acontecimento, pois em suas mentes, poderia evitar que o pior tivesse ocorrido. O sentimento de culpa, a autocrítica elevada e a vergonha (no caso do bullying, abusos, etc.), de acordo com a psicóloga Lina Sue Matsumoto, contribuem para intensificar o estresse que tais pessoas enfrentam e também servem para que elas resistam em procurar ajuda. “Às vezes ela não acha que a situação que enfrentou exija de fato a busca de um tratamento. Elas também costumam relatar a incompreensão da família, que considerada uma ‘frescura’ a dificuldade que ela está enfrentando”, alerta Lina. O indivíduo passa a carregar a culpa sozinho e não consegue dela se desvencilhar. A pessoa assombrada pela enfermidade (TEPT), foge do convívio com os irmãos. Para ele, o gatilho que dispara os sintomas da doença pode acontecer a qualquer instante. Em sua cabeça, ele pensa ser um estorvo aos outros, no entanto, precisamos atraí-lo e mantê-lo na comunhão com os santos, pois o ambiente familiar cristão promove bem-estar e a paz tão necessárias para a sua melhora e o avanço da sua recuperação (Ec 4.9-10).

2. O TEPT NÃO É BRINCADEIRA
Assim como a grande maioria dos transtornos já estudados até aqui, o TEPT é também classificado como sendo um transtorno da ansiedade e como visto, ocorre após a exposição de eventos traumáticos na vida do indivíduo. Nós estamos falando de uma enfermidade que envolve traumas diversos, isto é, experiências ruins, negativamente marcantes, que geram sequelas na psiquê humana, logo, não cabe espaço para que se brinque com esta enfermidade, pois como já vimos aqui, a sua gravidade é tamanha que pode levar o indivíduo até mesmo ao suicídio. Portanto, demos a ela a importância e a seriedade que merece!

2.1. Identificando o melhor tratamento
Como toda e qualquer enfermidade, o TEPT, uma vez diagnosticado, tem tratamento, no entanto, é preciso identificar com precisão as causas originárias que levaram o indivíduo a adquirir o TEPT. Aproximadamente entre 15% e 20% das pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas em casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, sequestro, acidentes, guerra, catástrofes naturais ou provocadas, desenvolvem esse tipo de transtorno. No entanto, a maioria só procura ajuda dois anos depois das primeiras crises. O Dr. Pérsio afirma que os objetivos do tratamento do transtorno do estresse pós-traumático estão voltados a: Diminuir os sintomas; Prevenir complicações; Melhorar desempenho na escola ou no trabalho; Melhorar relacionamentos sociais e familiares; Tratar transtornos associados (como depressão e alcoolismo). O tratamento preferencial é a Terapia cognitivo-comportamental (TCC) por seis meses a um ano, complementada, em algumas ocasiões, com o uso de fármacos como os ansiolíticos ou os antidepressivos de última geração. Quando os tratamentos são associados, psicoterapia e o uso adequado de psicofármacos, tem-se obtido melhores respostas terapêuticas. Infelizmente há sempre os “crentões” que se recusam a indicar o tratamento a outros ou mesmo eles serem tratados por este tipo de profissional, sob a alegação de que Deus é suficiente para nós em tudo, inclusive para curar-nos de todas as nossas enfermidades. É óbvio que o Senhor é poderoso em tudo, até mesmo para curar qualquer doença, seja ela no corpo ou na alma, no entanto, o fato de buscarmos na medicina a cura para os nossos males, não anula em hipótese alguma a nossa confiança em Deus. Independente da fonte da cura, tudo isso só é possível por causa da bondade de Deus e da sua suficiência na Criação. Somos agradecidos aos médicos e aos laboratórios de pesquisa científica, mas a Graça e a Glória pela cura são únicas e exclusivas do Nosso Deus. Jamais deixe de ir ao médico, de tomar seus remédios, e de orar a Deus, um dos três ou os três juntos podem lhe dar a benção de ser curado de uma enfermidade.

2.2. A enfermidade não incapacita
Dentre as complicações psíquicas do estresse pós-traumático estão: Distúrbios do humor; Depressão; Transtornos de ansiedade; Alcoolismo; Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC); Transtornos somatoformes (é a classificação médica para doenças que persistem apesar dos transtornos físicos presentes não explicarem nem a natureza e extensão dos sintomas, nem o sofrimento e as preocupações do sujeito); Transtornos dissociativos; Transtorno de personalidade. Claro que alguns destes sintomas podem trazer certos prejuízos no desenvolvimento das atividades do indivíduo afetado pela TEPT, porém não o torna incapaz em suas tarefas diárias, mas limitado (não estamos considerando casos em que a doença se torna tão crônica que impossibilita o indivíduo de fazer qualquer coisa). Uma das formas de complementar o tratamento por terapia e medicamentos é exatamente manter as atividades curriculares do indivíduo, pois elas contribuirão para o restabelecimento da sua saúde psíquica. Quando se tratar de irmãos em Cristo, os mesmos não devem ser afastados de seus cargos, mas devem permanecer ocupados, ainda que sobre a mentoria e observação de outros no sentido de auxiliá-lo, principalmente quando estiver sob crise. Como em outras enfermidades da alma já vistas até aqui, sempre devemos estar atentos para não cometermos equívocos e confundirmos os sintomas de uma enfermidade da alma com problemas de ordem espiritual. Errar a esta altura, pode agravar o distúrbio. Se a igreja pode contribuir além da assistência através da oração, companhia e cuidado (1Co 12.25), conhecer os sintomas, classifica-los e obter ajuda do céu para discernir cada caso, será de grande valia para o Corpo de Cristo. É a Palavra de Deus quem nos dá a sustentação necessária diante das grandes aflições. Ao descrever a fé perfeita em Deus, o salmista inicia dizendo que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angustia. Pelo que não temeremos…” (Sl 46.1-2a). Então ele passa a narrar diversas situações catastróficas, caóticas e perturbadoras, capazes de desequilibrar e desestabilizar qualquer um, menos aqueles que estão refugiados em Deus, até que por fim, ordena que nos aquietemos (Sl 46.10). Um dos significados para esta palavra em seu original hebraico é “relaxar”. Sim, relaxar quando tudo parece desmoronar é uma característica daqueles que confiam em Deus. É o Senhor dos Exércitos, que nos esconde nEle mesmo quando tudo estiver ruindo e desabando – Aleluia! Esta é a mensagem que deve ser passada aqueles que sofrem com TEPT – “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Sl 46.11).

2.3. Olhando o TEPT com seriedade
A Bíblia Sagrada nos fala de um item da armadura de Deus. O cidadão do céu se reveste dela. Me refiro ao capacete da salvação (Ef 6.17). O capacete da salvação se refere a mente controlada por Deus. Ele é capaz de anular e deter os maus pensamentos oriundos de Satanás, isto é, os pensamentos plantados pelo inimigo de nossas almas que tentam anular a nossa fé no sacrifício de Cristo e que nos garante a nossa salvação, por isso ele é chamado de capacete da salvação. Mas este capacete não pode impedir que as enfermidades da alma se instaurem na mente humana. Elizabeth Costa em seu artigo sobre o tema afirma que a mente é o órgão mais complexo do corpo, e as doenças relacionadas devem ser tratadas como tais. Pesquisas mostram que o estresse traumático afeta regiões do cérebro. Em outras palavras, o TEPT não é algo que a pessoa pode superar, simplesmente, nem é uma atitude que ela adota para tentar chamar a atenção. Os traumas podem ser tão severos que literalmente afetam a forma do indivíduo encarar situações semelhantes aquelas que o traumatizaram e como já vimos, a vida pode apresentar diversas situações perturbadores e angustiantes. As aflições do mundo pronunciadas por Jesus, podem ser consideradas como sendo também, alguns dos muitos traumas que vivenciamos e que talvez não possam ser controlados. Os traumas da vida simplesmente acontecem e não há nada que possamos fazer com a finalidade de evitar muitos deles (não estamos dentro de uma bolha), outros, porém podemos tentar. Tais situações experimentadas por diversas pessoas ainda na fase infantil ou juvenil contribuiu para o desenvolvimento do TEPT, tais como as listadas pelo pastor Israel Maia: Violência doméstica; Bullying; Abuso sexual; TDAH (Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade); Acidentes diversos e outros. O pastor Israel Maia afirma que a Igreja pode exercer papel fundamental na tentativa de impedir ou de amenizar as ocorrências dos casos citados acima que conduzem o indivíduo ao TEPT. A fim de tornar os indivíduos menos vulneráveis a esta enfermidade, a igreja pode investir em ensinamentos que abordem a vida familiar ideal com o intuito de trazer maior equilíbrio na estrutura da família, evitando a violência no lar, tão comum nos dias atuais. O TDAH é um transtorno neurobiológico que aparece na infância e que na maioria dos casos acompanha o indivíduo por toda a vida. Ele se caracteriza pela combinação de sintomas de desatenção, hiperatividade (inquietude motora) e impulsividade, sendo a apresentação predominantemente desatenta conhecida por muitos como DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Segundo o pastor Israel Maia, crianças com TDAH, além do tratamento convencional, podem ser encaminhadas a aulas da EBD e do culto infantil, a fim de reduzir as chances de desenvolver o TEPT. Outrossim, a igreja é detentora de um poderoso remédio que pode com certeza auxiliar na prevenção do TEPT, este remédio é o amor de Deus que segundo o apóstolo Paulo “está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). Sua prática entre os santos é manifesta quando nos importarmos uns com os outros (Rm 12.15) e quando oferecemos a levar as cargas que não são nossas (Gl 6.2).

3. NEM TODO O TRAUMA LEVA AO TEPT
Segundo o artigo publicado na revista Clinical Review & Education, 13% das mulheres e 6% dos homens que vivenciaram um ou mais experiências traumáticas durante a vida podem desenvolver o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). A informação implica em afirmar que apesar dos eventos traumáticos serem uma realidade durante a vida, não significa que tais experiências obrigatoriamente resultarão no desenvolvimento do TEPT.

3.1. Confirmando o TEPT
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), os critérios necessários para fazer o diagnóstico do TEPT em alguém que tenha tido alguma experiência traumática, são baseados em critérios sintomatológicos, ou seja, sintomas e sinais que já vimos anteriormente e citados pelo Dr. Pérsio como sendo: Existência de um evento traumático claramente reconhecível como um atentado à integridade física, própria ou alheia, que haja sido experimentado direta ou indiretamente pela pessoa afetada e que lhe provoque temor, angústia ou horror; Re-experimentação persistente do evento; A insensibilidade afetiva; Hipervigilância; Como critério de diagnóstico, essa perturbação deve causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo, tais como trabalho, família, escola e/ou outros convívios sociais. O primeiro sinal de alerta do quadro de transtorno do estresse pós-traumático é dado pela identificação de um evento traumático (agente estressor) que tenha representado ameaça ao indivíduo ou ameaça a uma pessoa querida e perante o qual se sentiu impotente para esboçar qualquer reação. No entanto, as pessoas reagem individualmente, não são todos que passam por experiências traumáticas que desenvolverão estresse pós-traumático, apesar que o número de quadros de transtorno do estresse pós-traumático tem aumentado nas últimas décadas. Se apresentar sintomas que possam ser atribuídos a esse distúrbio da ansiedade, a procura da assistência médica é indispensável, mas lembre-se de que algumas pessoas são mais vulneráveis e predispostas. O que pode gerar um estresse pós-traumático em uma pessoa pode não gerar em outra. Em sua vida, Jó atravessou por traumas diversos e subsequentes, isto é, um após o outro e em níveis de gravidade altíssimos. Como em seu tempo não havia recursos profissionais para auxiliarem o patriarca nos dramas que abalaram a sua vida por completo, ele atravessou o vale da sombra da morte tendo apenas a silenciosa companhia divina que apenas o preservava em vida (Jó 2.6). O cristão que atravessa momentos difíceis ocasionados por traumas diversos em sua vida, tem em Deus a sua presença mantenedora e sustentadora, mas tem também a sua Palavra que é alimento para alma e produz saciedade e vida para o santo sofredor (Jo 6.35; Pv 16.24).

3.2. Alterações provocadas pelo TEPT
Uma vez diante de um profissional, inicia-se a bateria de exames para checar se o indivíduo após passar por algum trauma, tenha ou não desenvolvido o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Como em todos os quadros de estresse, existem vários marcadores biológicos que podem ficar alterados e que são instrumentos auxiliares no diagnóstico de estresse pós-traumático, são eles citados pelo psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de Deus: Dosagem do cortisol: Hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que estão localizadas acima dos rins. A função do cortisol é ajudar o organismo a controlar o estresse – conhecido como o hormônio do estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar no sangue constantes, assim como a pressão arterial; Dosagem dos hormônios da hipófise: Glândula que controla outras glândulas e também contribui para o bom funcionamento do metabolismo e produção de hormônios; Dosagem dos hormônios da tireoide: Importante glândula que age na função de órgãos importantes como o coração, cérebro, fígado e rins. Interfere, também, no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes; na regulação dos ciclos menstruais da mulher; na fertilidade; no peso; na memória; na concentração; no humor; e no controle emocional. É fundamental estar em perfeito estado de funcionamento para garantir o equilíbrio e a harmonia do organismo; Dosagem dos hormônios sexuais: Testosterona nos testículos (em indivíduos do gênero masculino) e progesterona e estrógeno nos ovários (em indivíduos do gênero feminino); Polissonigrafia: Exame não invasivo que mede a atividade respiratória, muscular e cerebral (além de outros parâmetros) durante o Pode nos revelar as consequências do estresse pós-traumático no sono. As atividades cristãs religiosas ocupam o tempo e a mente do indivíduo vítima do TEPT positivamente. A comunhão do Corpo de Cristo, seja nos cultos, ensaios, confraternizações, organização de eventos e todas as atividades realizadas na igreja, produzem aconchego, contentamento, tranquilidade, segurança, prazer e entusiasmo. Na unidade da igreja, Deus ordena a sua bênção e ela contempla todos os aspectos da vida humana, inclusive a saúde da alma (Sl 133).

3.3. Práticas para diminuir os sintomas
O psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de Deus afirma que existem diversas ações que podem ser realizadas para evitar as complicações do estresse pós-traumático, que basicamente se resumem em buscar qualidade de vida e desta forma diminuir o impacto que o trauma teve sobre a vida da pessoa. Tais hábitos são: Prática de exercícios físicos diários – melhora circulação, melhora condição muscular e esquelética, liberação de endorfina e com isso maior liberação de serotonina; Prática de esportes – se possível de forma coletiva, que além do aspecto lúdico agrega a sociabilização; Arte-terapia – desenvolvimento do cérebro sensitivo; Técnicas de relaxamento – como contraponto à tensão e ansiedade; Psicoterapia – se existirem ou restarem conflitos psicológicos; Dieta saudável e equilibrada; Evitar maus hábitos (excesso de bebida, tabagismo, drogas); Fazer do trabalho, além do aspecto de responsabilidade e produtividade, um espaço de convivência saudável e estimulante; Bom ambiente afetivo-familiar; Meditação e Religiosidade, como contraponto ao materialismo excessivo do mundo atual e sob o aspecto neurocientífico, estimulando o cérebro não dominante ou sensitivo. Este último ponto citado acima se relaciona fortemente com a comunhão com Deus e os irmãos. O exercício do devocional diário e meditação na Palavra de Deus pode ser considerado uma terapia bastante eficaz, pois a Bíblia sempre produz saúde espiritual a quem por ela se orienta, além do que, suas instruções fornecem sabedoria do alto que promovem a valorização daquilo que é correto e agradável a Deus. Segundo o psiquiatra Pérsio as chances do quadro do transtorno do estresse pós-traumático se estabilizar com tratamento adequado são altas. Com o tratamento adequado depois de algum tempo a pessoa vai gradualmente retomando a normalidade de vida. Às vezes, o indivíduo poderá ficar com uma dificuldade específica a ser vencida, como, por exemplo, uma pessoa que sofreu um incidente aéreo severo, que vai poder levar uma vida normal, porém sempre terá alguma dificuldade em voar novamente. Atentemos para a realidade que na presença de Deus podemos alcançar muito e alcançar tudo! O pastor Silas Malafaia, que não descarta a ajuda de um profissional para o tratamento das enfermidades da alma, pondera: “quando alguém dobra os seus joelhos para orar, falar com o Altíssimo, que é onisciente e onipotente, sobre o que o está incomodando, machucando, ferindo, o que está dentro da sua alma, imediatamente o processo da cura é iniciado. O Senhor tem poder para curar depressão, angústia, tristeza, traumas, e resgatar a autoestima e ajudar-nos a ter uma autoimagem positiva de nós mesmos.”

CONCLUSÃO
Como igreja temos grande responsabilidade de assumirmos o papel. A igreja é como uma família unida; quando você mexe com um, mexe com todos, quando você abençoa a um, abençoa a todos. Na igreja cada um está buscando meios e formas de cooperar, de ajudar, de abençoar, de enlevar, de edificar a todos, por isso, devemos estar sempre vigilantes ao estado emocional de nossos irmãos; mais que isso, precisamos estar prontos para estender a mão a ajudá-lo naquilo que for necessário para o seu restabelecimento.

COMENTÁRIOS ADICIONAIS:
Pb. Lindoval Santana - ADS – Assembleia de Deus de Sobradinho.


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