ENFRENTANDO OS PROBLEMAS ECONÔMICOS
E SOCIAIS
Lição
05 – 04 de novembro de 2018.
TEXTO
ÁUREO
Porque Deus não nos
deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação. 2 Timóteo
1:7
VERDADE
APLICADA
É dever do discípulo
de Cristo procurar agir com desprendimento e generosidade diante das
necessidades do próximo, principalmente os domésticos da fé.
OBJETIVOS
DA LIÇÃO
· Mostrar a luta de Neemias contra
a injustiça social;
· Apresentar as características de
um líder excelente;
· Enfatizar as considerações sobre
o querer de Deus.
Ne 5.1 - Foi, porém, grande o clamor do
povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos.
Ne
5.2 - Porque
havia quem dizia: Com nossos filhos e nossas filhas, nós somos muitos; pelo que
tomemos trigo, para que comamos e vivamos.
Ne
5.3 - Também
havia quem dizia: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas
empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome.
Ne
5.4 - Também
havia quem dizia: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre
as nossas terras e as nossas vinhas.
Ne
5.6 - Ouvindo
eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei. (ARC)
Neste
ponto da história do livro de Neemias, vamos nos deparar com um problema que
assola a humanidade desde sempre – as injustiças sociais. Ela sempre golpeia
uma sociedade de forma violenta e cruel. Experimentá-la é dolorido e em muitos
casos gera traumas irrecuperáveis. É só lembrar-se dos grandes problemas nesta
área que estão ocorrendo na Venezuela por exemplo. O ex-copeiro do rei
Artaxerxes, agora, deveria encarar outro problema tão grave quanto a
reconstrução dos muros. Ele deveria tratar da desigualdade social e dos abusos
cometidos pelos mais ricos sobre os mais pobres.
Deus
está no controle de todas as situações. Ele é o comandante do universo. Ele o
fez, Ele o rege. Desde o primeiro momento que Neemias se dispôs a ser
instrumento de Deus na recuperação dos muros e das portas de Jerusalém, havia
também outros propósitos que também exigia urgência e que só foram revelados
depois, após chegar em Jerusalém e ouvir o lamento dos habitantes daquela
terra. O povo judeu padecia pelas mãos de seus patrícios. Eles deixaram o julgo
babilônico quando o imperador Persa permitiu que voltassem para a sua terra,
mas agora estavam sob o julgo dos seus próprios irmãos. A injustiça social
estava instaurada em Jerusalém (Ne 5.1-5). Norman Russell Champlin explica
que “A narrativa de Neemias sobre os problemas com os inimigos de seu povo
de súbito muda de tom, para enfocar uma aguda dificuldade entre o próprio povo,
uma dificuldade que tem um som curiosamente contemporâneo”. Como se caracteriza
ou se define injustiça social? Atualmente a definição de injustiça social tende
a ser múltipla, a depender do aspecto e das condições em que é analisada. De
modo simples e sucinto, o padrão de injustiça ocorre quando dois indivíduos
semelhantes e em iguais condições recebem tratamento desigual. Vimos em lições
anteriores que neste período, alguns judeus que vieram no primeiro retorno
junto com Esdras, tinham condições econômicos favoráveis, pois já vieram do
cativeiro com recursos e haveres (Ed 1.5-11; 2.66-67). Eles se tornaram ainda
mais prósperos, porém cruéis com os seus conterrâneos. Nos dias de Neemias,
estava ocorrendo um contraste alarmante na sociedade, a ponto de o povo iniciar
um grande protesto contra seus companheiros judeus, do qual até as mulheres
participaram. Alguns diziam: “Temos famílias grandes. Se não tivermos
comida, vamos morrer!” (Ne 5.1-2). Havia uma desigualdade econômica
inquietante, pois uns tinham demais e outros de menos. Neemias então é
procurado para ser informado sobre a agonia e decepção com os que tinham poder.
Quais eram as queixas:
1.
Falta de alimento (Ne 5.2,3);
2.
Tiveram que hipotecar campos, vinhos e casas para não perecerem (Ne 5.3);
3.
Tiveram que tomar dinheiro a juros para pagar os impostos do governo (Ne 5.4);
4.
Reclamaram da sorte de seus filhos comparando com a sorte dos filhos dos ricos,
alegando que os seus filhos eram tão bons quanto os dos outros (Ne 5.5);
5.
Protestaram que por causa das dívidas teriam que vender os filhos como escravos
(Ne 5.5);
6.
Afirmaram que algumas de suas filhas já haviam sido vendidas como escravos para
quitação de dívidas, mas que já não tinham mais propriedades (Ne 5.5).
Diante
das exposições dramáticas dos judeus, Neemias toma atitudes severas contra os
seus irmãos mais abastados (Ne 5.6-18), no entanto é o seu próprio exemplo que
revela ser mais pesado que as suas palavras: “Também desde o dia em que
fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o ano vinte até ao ano
trinta e dois do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o
pão do governador.
Mas
os primeiros governadores, que foram antes de mim, oprimiram o povo e
tomaram-lhe pão e vinho e, além disso, quarenta siclos de prata; ainda também
os seus moços dominavam sobre o povo; porém eu assim não fiz, por causa do
temor de Deus” (Ne 5.14-15). Por isso Paulo exortou-nos: “Sê o
exemplo dos fieis” (1Tm 4.12). As injustiças devem incomodar o cidadão do
céu. Neemias se enfadou ao ouvir (Ne 5.6). A passividade diante de situações
como essas pode indicar insensibilidade, falta de amor e compaixão para com o
semelhante, no entanto, a Palavra de Deus nos ensina a condoermos com aqueles
que sofrem e isso inclui os que são injustiçados (Mt 5.6; 9.36; 18.27,33; Lc
7.13; Rm 12.15).
Havia
inimigos internos, e não somente externos. E algumas vezes nossos inimigos
internos podem ser mais devastadores que os externos. O capitulo 4 nos informa
que a obra foi feita debaixo de intensa oposição dos inimigos, provocando
desanimo, confusão, ameaça e destruição. O capitulo cinco aponta um perigo mais
difícil de ser enfrentado: a usura dos nobres. Neemias lida agora não com um
problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos
irmãos. O exército de Sambalate é menos perigoso do que a avareza dos nobres. Em
Jerusalém havia um pequeno grupo que retinha uma grande parte do dinheiro. O
problema não estava no motivo de serem ricos, mas no fato que mesmo vendo a
miséria do povo, insistiam em aplicar-lhes severos juros e a medida que não
conseguiam pagar, também iam retirando suas propriedades e até escravizando os
seus filhos. Isso é monstruoso e impiedoso. Um gesto abominável aos olhos do
Senhor. Hernandes Dias Lopes afirma que os primeiros judeus que voltaram para
Jerusalém tinham vindo amplamente supridos com bens materiais (Ed 1.5-11;
2.66,67). Mas os nobres aproveitaram o momento de crise financeira do povo para
enriquecer explorando os pobres (Ne 5.3). Há sempre aqueles que aproveitam o
momento de desespero do pobre para enriquecer (Ne 5.5). Tiago em sua epístola,
condena os ricos que exploram os seus trabalhadores. Ele se apresenta como o
profeta da justiça social (Tg 5.1-6). Ele clama contra o descaso dos ricos em
não usar seu dinheiro para o alívio da necessidade humana. O profeta Isaías, do
mesmo modo chama a atenção dos que acumulam riquezas sobre riquezas como quem
não tem responsabilidade com o próximo, ou seja, não tem responsabilidade
social (Is 5.8). No caso da história de Neemias, Hernandes Dias Lopes diz que
os opressores são irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estão engajados na mesma
obra dos opressores, a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados
estão angustiados porque seus filhos são iguais aos filhos dos exploradores (Ne
5.5): os seus filhos também têm vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias
diz que os nobres estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus
“irmãos” (Ne 5.7). A lei de Deus era clara nesse sentido: “Se emprestares
dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como
credor que impõe juros” (Êx 22.25). Quem ama, não explora, mas dá e
reparte (1Jo 3.17,18; Tg 2.14-17). O fruto da bênção em possuir ou ter riquezas
na vida do servo de Deus, não deve em hipótese alguma servir de razão apenas
para a sua autossatisfação e deleite (Is 55.2). Ele precisa necessariamente ter
visão de Reino e esta visão aponta para as necessidades de sua expansão e
também olha para as necessidades do seu próximo (Rm 15.26; 1Co 16.1). Hoje é
muito comum grandes lideranças gozarem do fruto conquistado a custo do Reino de
Deus, porém não movem uma unha para aplicar neste mesmo reino. A obra é
carente, obreiros necessitados, missionários à míngua, enquanto, grandes
usufruem de toda a mordomia. Neemias combatia este comportamento, pois durante
tanto tempo, os judeus se importavam apenas consigo mesmos, enquanto aquilo que
referenciava a obra do Senhor estava destruído e desamparado. Quantas vezes
retemos por que pensamos em nós mesmos e em como melhorar aquilo que já nos é
suficiente? Reflita isso com os seus alunos.
As
pessoas procuraram Neemias para expor que estavam sendo exploradas pelos mais
abastados. Os ricos deste episódio podem com facilidade ser comparados a
sanguessugas que minam e extraem o básico para a sobrevivência do carente e
necessitado. Agiram com tamanha vileza que até o ânimo de vida daquele povo foi
arrancado (Ne 5.2). Como se não bastasse a fome e as dívidas que adquiriram
para comerem, eles precisam pagar os pesados impostos a Pérsia. A renda era
baixíssima e ainda assim, precisavam repassar boa parte dela para manter o luxo
e a prosperidade dos que estavam na eminência. Sabemos que o Brasil tem um dos
tributos mais pesados do mundo. De tudo o que se compra, desde o mais básico
como um pacote de sal, um remédio qualquer, uma peça de vestuário, até um
automóvel, quase a metade e em muitos casos, mais que a metade do preço é
destinado a impostos. O que mais agride os mais pobres e que os impostos que
pagam não retornam a eles em benefícios. Hernandes Dias Lopes afirma que na
verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas vezes corrupto. Cada
vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir para ajudar os
pobres, cai no ralo da corrupção. O fato é que os nobres na grande maioria das
vezes se beneficiaram com as crises. Sempre alguém lucra com a crise. A miséria
do povo sempre beneficia os gananciosos e aproveitadores.
A
ganância é ambição, é cobiça ou desejo intenso, imoderado por bens e riquezas.
Os nobres do tempo de Neemias, não se fartavam com o muito que já possuíam,
antes, desejam mais e mais – isto é ganância. Não importava se para
conquistarem, estariam oprimindo e sobrecarregando aqueles que mais nada
tinham.
Os
ricos impuseram sobre eles fardos pesadíssimos. Eles estavam endividados e com
fome. A dívida traz preocupação, rouba o sono e causa um colapso na família.
Algumas
pessoas já tinham hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não
estavam fazendo negócios de investimento arriscado. Estavam comprando o pão da
sobrevivência. Os ricos aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto
para fazerem bons e lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, apertada pela
necessidade de sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que
querem se enriquecer. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos
aflitos. Os agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as
filhas dos pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática
opressora está em desacordo com a lei de Deus: “A teu irmão não
emprestarás à usura; nem à usura de dinheiro, nem à usura de comida, nem à
usura de qualquer coisa que se empreste à usura”(Dt 23.19). Em Deuteronômio
ainda se pode achar mais sobre a condenação dessa prática entre os filhos de
Deus 24.10-13, além do mais, ela também feria o princípio do ano do jubileu (Lv
25.10,14-17,25-27). Os poderosos fazem as leis, manobram as leis, torcem as
leis e escapam das leis. Eles subornam os sacerdotes e os juízes. Eles são
inatingíveis. Os pobres não têm vez nem voz. Estão completamente sem forças e
sem esperança. Os oprimidos não veem uma saída. Neemias destoa de todos, pois
demonstra temor a Deus. Aquele que anda no temor do Senhor não é ganancioso a
ponto de explorar o próximo, não se aproveita da miséria alheia para
enriquecer-se. Quando perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A
impiedade sempre desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de
Potifar porque andava no temor de Deus (Gn 39.9). O que nos livra do pecado é o
temor de Deus. Neemias não se rendeu a cultura do ganho ilícito por causa do
temor de Deus (Ne 5.15). Hoje, muitos políticos e até líderes evangélicos
capitulam diante do poder do dinheiro e vendem a consciência porque perderam o
temor do Senhor. O temor de Deus é o freio que nos impede de agirmos como
ímpios.
Neemias
é de fato um personagem admirável. Sua capacidade de gerir em meio a conflitos
é impressionante. Ele tinha que comandar a reconstrução dos muros e portas; Organizar
as tarefas e os recursos da reconstrução; Administrar a hostilidade dos
opositores e; Ainda controlar os problemas internos de cunho social. Para cada
dificuldade, ele tinha uma atitude que traria resultados efetivos. Jamais se
acomodou. Diante do tumulto social, não se abateu ou permitiu ser controlado
pelos ricos e detentores da economia e do poder de Jerusalém, porém os
enfrentou com hombridade e firmeza.
A
história de Neemias se inicia com duas perguntas que ele faz a Hanani, um de
seus irmãos (Ne 1.2). Ele pergunta: Pelos judeus que escaparam e que restaram
do cativeiro; Pela cidade de Jerusalém. A ordem é importante. Primeiro as
pessoas e depois as coisas. Hanani responde obedecendo as prioridades (Ne 1.3).
Ele diz: O povo está em grande miséria e desprezo; O muro de Jerusalém fendido
e as portas queimadas (Ne 1.3). As coisas sempre são mais fáceis de restaurar,
mas quando se trata de pessoas, falamos de coração. Coisas não sentem, mas
pessoas tem sentimentos. Coisas não se relacionam emocionalmente, mas pessoas
estabelecem vínculos, se angustiam e se desesperam quando o convívio se torna
perverso e nocivo ou principalmente quando se sentem desvalorizadas. Neemias,
se importava com a terra, mas o povo, isto é, as pessoas, tinham preferência no
seu coração. E mesmo entre as pessoas, ele procurou atender e compreender as
necessidades de cada uma. Aquilo que sofriam não passou despercebido de
Neemias, pois ele demonstrou interesse. Uma das grandes falhas na liderança
atual é a falta de associar-se com as pessoas. Líderes que exercem o ministério
dentro de bolhas e saem delas apenas para ministrarem nos púlpitos não
entenderam o seu chamado e não conheceram a vontade de Cristo em sua plenitude
(Mt 6.19-21,25-33). Os ricos dos tempos de Neemias passaram a ver pessoas como
coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho escravo é
algo que fere o projeto de Deus. É uma injustiça clamorosa. O comércio
escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um dos sinais
mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela ganância. A falta
de envolvimento com as ovelhas, de se prestar a acolhê-las principalmente
quando necessitam gera nelas angustia e desvalor. O ser humano precisa e gosta
do calor de outro ser humano. Uma palavra no culto é diferente de um conselho
pessoal que pode gerar satisfação interior e sentimento de importância, além de
poder valer uma grande vitória naquele momento para os envolvidos (1Re 1.12). Hoje
em muitos lugares, os servos de Deus são apenas uma estatística utilizada para
manobrar os interesses pessoais ou mesmo se envaidecer quando
afirmam: “minha igreja tem 9428 membros!” Pergunte se este pastor ou
líder conhece ao menos a metade do seu rebanho. A falta de entrosamento e de
dar importância as pessoas impede a criação de vínculos, não cria “liga” entre
os irmãos, gerando desinteresse pelos problemas e adversidades enfrentados pelo
rebanho (Pv 27.23). Há casos em que irmãos mais simples e menos estruturados
deixaram de contribuírem com dízimos e ofertas em suas igrejas por que
perceberam que são apenas um volume sem cor, sem forma, sem identidade e sem
comunhão com a sua liderança que o desconhece e simplesmente não o trata como
gente, mas como um investidor do reino. Quando estamos dispostos a valorizar e
tratar os outros como pessoas, colocamos os nossos negócios e ambições em
segundo plano em prol da valorização do semelhante (2Co 12.15). Eles percebem
isso e então se prontificam a trabalharem juntos, a cooperaram uns com os
outros, gerando unidade na igreja (Sl 133.1-3). Uma igreja unida é próspera, é
alegre, é vitoriosa, é abençoada e transborda virtudes espirituais sobre
aqueles que dela participa e sobre aqueles que ela frequentam. Portanto,
pratique tratar outros como gostaria de ser tratado e experimente na pele e no
coração as benesses desta atitude que te aproxima do próximo e também de Deus
(Mt 7.12).
Por
que Neemias não ficou sabendo antes desse problema econômico vergonhoso? É bem
provável que isso se deva ao fato de ele estar tão envolvido naquilo que havia
se proposto a fazer em Jerusalém – reconstruir os muros da cidade – que não
tinha tempo de ficar a par dos assuntos internos da comunidade. Sua missão
inicial no cargo de governador era reparar os muros e restaurar as portas, não
reformar a comunidade. Além disso, Neemias não havia passado tempo suficiente
na cidade para ficar sabendo de tudo o que acontecia, até que aquela reunião
reveladora que levou à tona a grande crise social que viviam os judeus. Quando
estamos na posição de liderança, precisamos desenvolver a habilidade de ouvir e
para muitos, ouvir é diferente de escutar. Quando escutamos não há
processamento da informação, mas quando ouvimos conferimos no coração (Gn 37.6,11);
quando escutamos a orelha trabalha, mas quando ouvimos, acionamos a mente (Pv
1.5). A Bíblia enfatiza: Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras,
muito me enfadei. Neemias 5:6 (ARC. Neemias ouve! Ouvir é permanecer calado
aguardando o recebimento de toda a informação enquanto acessa o coração e a
mente. É ponderar sobre cada ponto e então formar a resposta e o conselho
corretos ou mais próximos disso. O fato é que gostamos de falar, mas temos
dificuldades para ouvir. Ron Zemke e Kristin Anderson afirmam que os bons
ouvintes não nasceram com esta habilidade. A diferença é que eles começaram a
praticá-la muito mais cedo. Nunca é tarde para se aperfeiçoar, pois ser um bom
ouvinte é uma capacidade que melhora com a prática. Além disso, aqueles que
ouvem tem uma vantagem poderosa em qualquer conversa, pois enquanto a maioria
das pessoas só consegue falar de 125 a 150 palavras por minutos, somos capazes
de ouvir até 450! Portanto, temos tempo de identificar os pontos principais
mencionados pelo interlocutor e começar a organizar uma resposta eficaz para
eles. Ouvir é demostrar afeição, disposição e interesse no outro e naquilo que
diz. A orientação bíblica é prontidão para ouvir. Tiago disse: “Sabeis isto,
meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para
falar…” (Tg 1.19). Stan Toler diz que este é um teste rápido da habilidade
que um líder tem de ouvir. Ele pergunta: “Você olha nos olhos da pessoa que
fala com você?” Neste caso, é provável que seja atencioso e demonstre interesse
e preocupação com as necessidades dela. Se não, provavelmente é distraído,
desinteressado ou pior – egoísta. Bons líderes levam as pessoas a sério. Eles
prestam atenção a palavras, inflexões e emoções expressadas pelas pessoas,
sobretudo, por aquelas de casa. Vale
lembrar (se pudermos aplicar aqui) que a ponta da orelha direita dos sacerdotes
era tocada com sangue, por ocasião da consagração deles ao ministério (Lv
8.23,24; Êx 29.20), significando que deveriam ouvir a Deus, mas também ouvir o
povo. Ouvir era uma distinção dos sacerdotes. O caminho da sabedoria é ouvir
mais para falar menos, é pensar mais para discutir menos, é abrir mais os
ouvidos para abrir menos a boca. Como disse Sérgio Ernesto: “Saber ouvir é uma
arte, é terapêutico para quem deseja ser escutado.”
2.3
– Ir até a raiz dos problemas
Neemias
não ficou passivo diante de tamanha injustiça. Ele reagiu fortemente. Ele se
aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os nobres e magistrados e
lhes disse: “Usura tomais cada um de seu irmão” (Ne 5.7). O
conformismo com a injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si
não é pecado (Ef 4.26; Sl 4.4; 7.11; Mc 3.5). A ira deve ser focada no mal e
não contra quem pratica o mal. A ira e pecaminosa quando nós a despejamos sobre
nossos filhos, cônjuge, irmãos ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos
chamados de protestantes exatamente pela inconformação com o erro e com o
pecado. Os desmandos no trato da coisa pública e a corrupção endêmica e
sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver o sangue em nossas veias. Neemias
não era um político que perguntava: “O que é popular?”, mas sim um verdadeiro
líder que perguntava: “O que é certo?” Tratava-se de uma ira santa contra o
pecado, e ele sabia que tinha o apoio da lei de Deus. Moisés expressou esse
tipo de ira santa quando quebrou as tábuas da lei (Êx 32), e Jesus demonstrou o
mesmo sentimento diante da dureza do coração dos fariseus (Mc 3.5). Neemias
expressou indignação justa diante do modo que os negociantes oprimiam os irmãos
e irmãs. O fato de ele ter ouvido e processado tudo o que os seus patrícios lhe
entregaram, permitiu que não agisse contornando os problemas, antes, atacou a
sua raiz, o seu núcleo – a injustiça social praticada pelos poderosos. Neemias
percebe que o âmago do problema é a exploração dos aproveitadores e por isso
contende com os nobres e magistrados. Os sacerdotes é que deviam ter feito esse
confronto, mas estavam unidos com os ricos (Ne 6.12,14; 13.4,7-9). Os mais
simples viviam em tamanho aperto que além de entregarem suas casas e
propriedades, agora são obrigados a entregam também seus filhos e filhas para
quitarem as dívidas que se acumulavam. Na verdade, a sua produção saldava
apenas os juros, tornando-os eternos devedores. Algo bem parecido com o que
ocorre com o trabalhador que paga juros de cartão de crédito por aqui. As
operadoras (bancos) cobram valores abusivos que na realidade extorque o
indivíduo. Uma vez que era um homem de ação, Neemias disse aos credores que
deveriam restituir os juros e as garantias que haviam tomado de seus
compatriotas bem como as propriedades que haviam confiscado na execução de
hipotecas. Esse passo radical de fé e de amor não resolveria de imediato todos
os problemas econômicos do povo, mas pelo menos evitaria que a crise piorasse.
Também daria ao povo aflito a oportunidade de começar outra vez e
principalmente ter esperanças de um futuro melhor. Neemias foi direto, certeiro
e vigoroso. Somente alguém com auto senso e prática de justiça pode agir desta
forma sem que aja represálias ou censuras.
O
célebre ganhador de almas D. L. Moody certa feita disse: “Uma vida santa
causará a mais profunda impressão. Os faróis não soam sirenes; apenas brilham”.
Neemias possuía esse brilho oriundo de sua vida santa. Santidade fala-nos de
unção e azeite. “A unção nos torna aceitáveis”. Foi bem isso que ocorreu com
Neemias, ele, sua palavra e sua obra se tornaram aceitáveis diante de todos,
inclusive entre os principais de Jerusalém, mesmo quando se expressava com
dureza. O farol de Deus estava aceso em sua vida. Destacamos outras três
grandes virtudes deste grande líder.
A
prudência pode ser classificada como sendo uma virtude moral e o seu oposto é
insensatez, loucura e precipitação. Salomão em sua grande sabedoria
disse: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13).
Como já citamos o que disse Tiago – A Palavra de Deus nos ensina a sermos
prontos para ouvir e tardios para falar (Tg 1.19). Falar muito e ouvir pouco é
um sinal de tolice. Responder antes de ouvir então é passar vexame na certa.
Não podemos falar sobre aquilo que não entendemos. Não podemos responder sem
nem mesmo ouvir a pergunta. Uma pessoa sensata pensa antes de abrir a boca e
avalia as palavras antes de proferi-las. Uma pessoa prudente rumina a questão
antes de dar uma resposta. Ela avalia e pesa cada palavra antes de enunciá-la. O
apóstolo Pedro, antes de sua restauração, não seguiu esse padrão. Era um
homem de sangue quente. Era homem precipitado e faltava-lhe a prudência. Falava
sem pensar e, muitas vezes, sem entender o que estava falando. Por ter uma
necessidade quase irresistível de falar sempre, tropeçava nas próprias palavras
e envolvia-se em grandes encrencas. Na casa do sumo sacerdote, afirmou três
vezes que não conhecia Jesus, e isso depois de declarar que estava pronto a ser
preso com ele e até mesmo a morrer por ele. Pedro fazia afirmações
intempestivas e dava respostas sem nenhum sentido. Era um homem contraditório
que num momento fazia declarações audaciosas para em seguida recuar e
demonstrar vergonhosa covardia. Em
Neemias 5.7 lemos: “E considerei comigo mesmo no meu coração”. Champlin
argumenta que ele consultou seu coração e sua razão. Empregou então algum tempo
refletindo e planejando. E não se pareceu com algum adolescente precipitado que
faria algo de radical. A Septuaginta traduz aqui por “meu coração tomou
conselho dentro de mim”. “Coração”, naturalmente, para os hebreus, significava
“mente”. Neemias seria racional e não se deixaria arrastar por alguma explosão
de ira. Por isso diz aqui a American Translation: “depois de ter pensado a
respeito”. O termo cognato acádico significa “aconselhar” (Dn 4.27). O original
hebraico diz aqui, literalmente, “meu coração foi rei em mim”. A versão
Peshitta diz: “Meu coração partiu-se dentro de mim”. Neemias agiu
respondendo segundo um coração dominado pelo Espírito do Senhor! Hernandes Dias
Lopes afirma que Neemias era um líder prudente. Em vez de fermentar ainda mais
a situação, falando irrefletidamente, ponderou o assunto consigo mesmo,
aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a situação antes de tomar uma decisão
pública. O homem prudente é ponderado e reflexivo. A prudência e a discrição
são marcas indispensáveis na vida de um líder. No muito falar abundam as
transgressões!
A
repreensão, apesar de muitos a considerarem incômoda, ela é necessária e
essencial. Ela pode ser uma ferramenta bastante útil para corrigir o que está
errado e nos aperfeiçoar em direção a vontade de Deus. A expressão contida em
Neemias 5.6 que diz: “muito me enfadei”, é explicada por Champlin de forma
interessante; o clamor do povo contra os ricos foi como um aguilhão que lançou
Neemias à ação. A versão Peshitta refere-se ao aborrecimento de Neemias ao
ouvir essas palavras como se ele, Neemias faria “cabeças rolar”, conforme
diz uma moderna expressão idiomática. Champlin estava demonstrando o que seria
a repreensão de Neemias em um modo sarcástico. Cabeças não rolariam de fato,
mas corações seriam atingidos em cheio por palavras selecionadas, ungidas e
carregadas de autoridade de quem era um exemplo. Hernandes Dias Lopes afirma
que Neemias teve coragem para repreender o erro, ainda que na vida dos nobres,
dos ricos, dos poderosos. Ele tem compromisso com a verdade e com a justiça,
por isso, não se intimida. Neemias não amacia a situação. Ele chama os nobres e
magistrados de exploradores. Ele coloca o dedo na ferida e desmascara os
nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta. Neemias os repreende! O
uso da repreensão não pode ser abusivo, mas deve haver equilíbrio. A repreensão
não pode ser feita sem que haja bondade e conhecimento completo e imparcial da
situação. Neemias, ao tomar a palavra já tinha se certificado que aquilo que
disseram era a verdade, tanto que a sua repreensão não foi contestada pelos
nobres que as ouviu, ao contrário, concordaram inclusive a mudar (Ne 5.12). No
livro de Provérbios 9.8, encontramos a declaração: “Não repreendas o
escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e
amar-te-á.” Hernandes Dias Lopes afirma que as pessoas estão divididas em
dois grandes grupos. Não entre ricos e pobres, brancos e negros, doutores e
analfabetos, religiosos e céticos. Mas entre perversos e justos, entre sábios e
escarnecedores. Quem é o escarnecedor? E aquele que não é ensinável.
Repreendê-lo é inútil. Chamar a atenção do escarnecedor é trazer sobre si
desgaste e aborrecimento. Longe de emendar seus caminhos e arrepender-se de
seus devaneios, ele prorrompe em blasfêmias contra aquele que intentou
ajudá-lo. Quem é o sábio? É aquele que é ensinável. Quando um sábio é
repreendido, ele agradece a repreensão e passa a amar o repreensor. O sábio é
humilde para acolher uma exortação e reconhecer seus erros. O sábio não
estadeia justiça própria; ao contrário, anseia ardentemente crescer em graça e
sabedoria. Como você reage quando é confrontado? Justifica-se? Repudia o ensino
e a repreensão? Ou você se humilha e acolhe o ensinamento para produzir mais
frutos ainda? Salmos 141:5 “Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e
repreenda-me, será um excelente óleo, que a minha cabeça não rejeitará; (ARC)
Vivemos
dias de enorme escassez de pessoas que possam ser definitivamente bons
exemplos. Falta-nos referências para que possamos nos espelhar. Em nosso tempo
de escândalos em quase todas as áreas da vida, especialmente na política, é um
grande estímulo encontrar um homem como Neemias, que colocou o serviço ao povo
antes dos interesses próprios. Neemias nunca leu Filipenses 2.1-13 (gentileza
fazer essa leitura na sua Bíblia), mas, sem dúvida, colocou em prática as
palavras dessa passagem. Ao longo dos doze anos de seu primeiro mandato como
governador e, posteriormente, no segundo mandato nesse cargo (Ne 13.6,7), usou
seus privilégios para ajudar o povo e não para construir um reino para si
mesmo. Naquela época, a maioria dos oficiais exercia sua autoridade de modo a
se promover e a proteger interesses pessoais. Sua preocupação com as
necessidades do povo era mínima. De que maneira Neemias serve de exemplo para
nós? Para começar, ele e seus assistentes não usavam os fundos oficiais para
cobrir despesas pessoais, como também não cobravam impostos do povo para
garantir a comida na mesa. Pagavam suas despesas com os próprios recursos e não
pediam reembolsos (Ne 5.10, 13-18). O apóstolo Paulo adotou política semelhante
com a igreja de Corinto. Poderia ter aceitado o sustento deles, como fazia com
outras igrejas, mas optou por trabalhar com as próprias mãos e pregar o
evangelho aos coríntios “à sua própria custa” (1Co 9). Paulo não disse que todo
obreiro cristão deve fazer o mesmo, “porque digno é o trabalhador do seu
salário” (Lc 10.7; 1Co 9.14). Porém, todo cristão deve seguir o exemplo de
Paulo no que se refere a ter uma atitude equilibrada em relação aos bens e ao
ministério. Neemias e os seus liderados também foram exemplos no serviço, pois
todos participaram da reconstrução dos muros (Ne 5.16). Não eram conselheiros
que, de vez em quando, saíam de seus palácios, mas sim trabalhadores que
labutavam lado a lado com o povo na construção e na defesa da cidade. Jesus
disse: “No meio de vós, eu sou como quem serve” (Lc 22.27), e Neemias
e seus assistentes demonstraram essa mesma atitude. Sobre a questão de sermos
exemplos a outros, Andrew Carnegie disse: “Ao envelhecer, parei de escutar o
que as pessoas dizem. Agora só presto atenção ao que elas fazem.”
Todo
o esforço de Neemias para mudar a situação daquele povo foi recompensada. Valeu
a pena tratar com os ricos e magistrados em defesa dos pobres e mais fracos
daquele lugar. Deus o abençoou e dEle alcançou grande vitória, deixando-nos um
grande exemplo de liderança e administração. Tal exemplo perante o povo, ainda
deixou marcas profundas naquelas vidas já sem esperança. Que possamos do mesmo
modo, termos a sensibilidade para ouvir a lamentação de outros e sentirmos as
suas dores, dando e prestando a elas a nossa compaixão e serviço.
COMENTÁRIOS
ADICIONAIS:
Pb.
Lindoval Santana - ADS – Assembleia de Deus de Sobradinho
3 comentários:
A data da lição continua como dia 28 de outubro de 2018, quando a correta é 04 de novembro.
Boa tarde meu amigo,vamos corrigir o erro. Obrigado.
Oi, bom dia, a paz! Vcs vão postar a lição 6 hoje?
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